O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, avança na estratégia que decidiu tecer
para viabilizar uma candidatura ao governo do Estado nas eleições do próximo ano
fora do esquema liderado pelo governador João Azevêdo (PSB), onde não tem
encontrado espaço devido à tendência de apoio e compromisso com a pré-candidatura
do vice-governador Lucas Ribeiro, do PP. O primeiro passo de Lucena é, mesmo, a sua
desfiliação do PP (Partido Progressista), que está sob controle majoritário do “clã”
Ribeiro, chefiado pelo deputado federal Aguinaldo, tio de Lucas. O grupo político
campinense e o partido foram fundamentais para a reabilitação de Lucena no cenário
local, voltando a disputar a prefeitura da Capital em 2020 e saindo vitorioso, com o
apoio de João Azevêdo, e postulando com êxito a reeleição em 2024 dentro do mesmo
esquema.
O segundo passo da estratégia de Cícero para 2026 envolve uma engenharia
complicada, pelos riscos e incertezas que são predominantes. Trata-se da escolha de
uma legenda que adote o seu projeto de candidato ao Executivo e lhe ofereça
estrutura competitiva para fazer frente ao provável candidato do bloco governista e a
um pré-candidato já definido no campo da oposição, o senador Efraim Filho, do União
Brasil, que já foi apresentado como representante do bolsonarismo e das forças de
direita pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e pelo ex-ministro da Saúde Marcelo
Queiroga. O prefeito da Capital tem dialogado bastante com o senador Veneziano Vital
do Rêgo, presidente estadual do MDB e candidato à reeleição, que recebeu passe livre
da cúpula nacional presidida pelo deputado federal Baleia Rossi (SP) para decidir o
posicionamento da legenda em nosso Estado.
Uma filiação de Cícero ao MDB seria, teoricamente, vantajosa para os interesses
pessoais de Veneziano, já que o alcaide, até o momento, lidera pesquisas informais de
intenção de voto para a sucessão paraibana, podendo, portanto, atuar como puxador
de votos para uma chapa majoritária autônoma nas eleições vindouras. Ao mesmo
tempo, significaria um retorno de Cícero às origens, já que ele iniciou sua trajetória
política no antigo PMDB comandado pelo falecido senador Humberto Lucena, tendo
migrado para o PSDB para acompanhar o grupo Cunha Lima quando este rompeu com
o então governador José Maranhão no final dos anos 90. As tratativas de Cícero na
atualidade envolvem, além do senador Veneziano Vital, o ex-senador Cássio Cunha
Lima e seu filho, ex-deputado federal Pedro, que comanda o PSD após reviravolta que
destronou a senadora Daniella Ribeiro, mãe de Lucas, do comando daquela
agremiação.
Veneziano retomou ligações com os Cunha Lima, que, no entanto, já parecem
comprometidos com a pré-candidatura do senador Efraim Filho, que se elegeu em
2022 em coligação com Pedro, candidato ao governo do Estado. É nesse vespeiro
político-partidário que o prefeito de João Pessoa mergulha ao se fazer obstinado no
desejo de candidatar-se ao Executivo, reconstituindo pretensão que foi asfixiada em
2010 e em 2014. Dentro da sua estratégia, Cícero aparentemente mantém a
retaguarda sob cobertura, diante dos acenos de apoio do vice-prefeito Leo Bezerra à
sua candidatura, apesar de ser filiado ao PSB e de ter tido todo o apoio do governador
João Azevêdo para ser mantido na chapa dentro da aliança firmada com o PP em duas
disputas consecutivas no maior colégio eleitoral do Estado. Ao mesmo tempo, o
prefeito começa a mapear a lealdade de vereadores na Câmara Municipal pessoense,
pelo empenho que eles podem canalizar na montagem da logística de sua campanha
ao Palácio da Redenção, com penetração nos bairros periféricos e no eleitorado de
elite, a partir da orla marítima. Mas Cícero precisará de apoios mais expressivos,
inclusive, de outros partidos, para legitimar sua postulação.
São muitas as avaliações que estão sendo feitas no calor da pressa dos prazos
legais para desincompatibilização da titularidade do cargo de prefeito a fim de liberar-
se para a campanha ao governo. Cícero, que já governou o Estado por dez meses,
quando da saída de Ronaldo Cunha Lima para disputar o Senado, faz um movimento
que o iguala, em ousadia, ao ex-governador Ricardo Coutinho, seu adversário e êmulo
político, cuja candidatura em 2010 ao Palácio foi preferida por Cássio Cunha Lima,
atropelando idêntica pretensão de Lucena. A verdade é que o processo eleitoral para
2026 na Paraíba vem tomando rumos distintos do que havia sido prognosticado pelos
analistas, confirmando-se a dissidência na base governista. Cícero tem atraído também
o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, que ficou sem espaço no
Republicanos para concorrer ao governo mas precisará costurar com segurança os
apoios de que precisa, bem como a estrutura indispensável, para só então deflagrar o
projeto rumo ao Palácio da Redenção numa disputa que promete ser bastante renhida.