Rubens Nóbrega
No final das contas e dos votos contados, Luciano Cartaxo pode não ser necessariamente a grande surpresa das eleições 2012 em João Pessoa.
Antes do candidato petista a prefeito da Capital, abram alas para o seu xará, padrinho e grande eleitor, que vem a ser o alcaide da hora, Luciano Agra, até há pouco tido e havido como neófito nesse metiê.
Agra não vinha sendo tratado apenas como principiante. Era frequentemente ridicularizado por expoentes do partido a que pertencia, o PSB. Entre os que ridicularizavam o prefeito, o cacique Ricardo Coutinho.
Ridicularizavam-no porque Agra escreveu renunciou no começo deste ano ao direito de disputar a reeleição. Imediatamente após, arrependeu-se e tentou renunciar à renúncia.
Foi barrado pelo chefão da legenda, humilhado e substituído como candidato a prefeito por Estelizabel Bezerra, jornalista que virou secretária de Planejamento da Prefeitura e preferida do rei.
Pois bem, um pote até aqui de mágoa, Agra virou a carrapeta que ameaça dar uma surra no pião, no rei, na rainha e em todos os girassolaicos peões do reino – ou do tabuleiro de xadrez – conhecido como Nova Paraíba.
Aplicado no objetivo de eleger o outro Luciano, se realmente conseguir seu intento o Luciano que é Agra vingar-se-á na maior da ameaça pública de levar palmadas na bunda, ameaça feita por seu criador e antigo suserano.
O resultado eleitoral pode, inclusive e por suprema ironia, anunciar que chegou a hora de Agra “ir mais longe”, até por que na sua empreitada estaria indo longe demais, cavando vaga de candidato a vice-governador ou de candidato a senador em 2014.
As possibilidades e variáveis são inúmeras, mas o quadro que se desenha a partir da pesquisa Ibope divulgada ontem se mostra desde já amplamente favorável ao prefeito e ao seu candidato a sucessor.
Nunca antes na história do PT local…
Registre-se, para desolação dos petistas submissos a Ricardo Coutinho, que Luciano, o Cartaxo, ‘corre o risco’ de chegar a uma posição a que jamais chegou qualquer dos ‘companheiros’ de partido que se arriscaram na mesma empreitada.
Antes dele, apenas o então deputado Chico Lopes logrou ir para um segundo turno de eleição para prefeito da Capital. Foi em 1992. Perdeu para Chico Franca, do PDT, que pegou tremenda garapa ao substituir a então impugnada – e favorita – Lúcia Braga.
O PT de João Pessoa tentaria com Luiz Couto em 1996 e com Avenzoar Arruda em 2004. Os dois chegaram nem perto sequer da marca de Chico Lopes. Do feito e das chances de vitória de Luciano Cartaxo, então, aí é que a distância é grande.
De qualquer modo e sorte, os Lucianos são bastante inteligentes e grandinhos sabem que não podem cantar vitória antecipada. Se não dá pra subestimar Cícero Lucena e Zé Maranhão, imagine uma fera ferida feito Ricardo Coutinho.
O governador, todos sabem, vai jogar todas as fichas para botar Estelizabel no segundo turno. Se não conseguir, sofrerá abalo dos maiores em seu projeto de poder longevo que tem na reeleição em 2014 o apogeu da carreira política e da vida pessoal.
Pior para Ricardo é perder pra Agra
Não se enganem: não existe coisa pior para Ricardo, hoje, do que perder para Luciano Agra. É a facada mais profunda que pode ser desferida no seu ego monumental e majestático.
Seria ferir de morte o colossal orgulho de quem sempre reservou para o ex-amigo, hoje desafeto político, papéis secundários, de coadjuvante técnico de luxo. Se não tivesse reagido, Agra seria rebaixado para figurante.
A preço de hoje, como diria o Joelmir Beting, Ricardo apenas uma outra vitória o deixaria mais acabrunhado do que a de Luciano Agra na Capital. Seria a de Cássio Cunha Lima no primeiro turno em Campina Grande.
Já pensou, a candidata de Ricardo ficar em quarto lugar na Capital e Cássio fazer de Romero Rodrigues prefeito eleito de primeira, sem precisar enfrentar o cabeludo Veneziano Vital num segundo turno?
O senador, que já vem sendo tratado como candidato imbatível a governador em 2014 e virou estrela de concorridíssimos showmícios Paraíba afora e adentro, vem tendo muita dificuldade para manter a aliança com Ricardo.
Natural que a campanha afastasse os dois líderes, filiados que são a legendas distintas e até 2010 aparentemente incompatíveis. Cássio só não esperava que o governador fosse capaz de se empenhar nos bastidores para impedir a vitória de Romero em primeiro turno.
Mas é o que pode estar acontecendo. O governador estaria investindo nessa reta final em candidato a prefeito de Campina que, apesar de figurar entre os últimos colocados, pode roubar pontos preciosos conquistando indecisos e crescer o suficiente para garantir o segundo turno.
Cássio está sabendo e, como dizem lá em Bananeiras, “só cubando”.