Seu tino político indica que ele precisa preservar o cacife de Maranhão
POR PAULO SANTOS
O debate com os candidatos ao Governo da Paraíba, promovido pela TV Master (Canal 20 da NET em João Pessoa) na noite desta quinta-feira (31), não foi um primor de espetáculo dos pontos de vista político e comportamental, mas serviu para se perceber o conteúdo de algumas estratégias que ganharão contornos decisivos à medida em que o processo foi se afunilando em direção às urnas eletrônicas.
O que mais me despertou a atenção foi a tentativa permanente do candidato do PSDB, o senador Cássio Cunha Lima, tentar proteger o atual candidato a senador pelo PMDB, José Maranhão, evitando quaisquer críticas ao desempenho do “mestre de obras” após suceder o tucano na principal cadeira do Palácio da Redenção, além de ressaltar os méritos por dar continuidade a várias obras.
Esse comportamento de Cássio não é inesperado. Seu tino político indica que ele precisa preservar o cacife de Maranhão, principal estrela do condomínio que tem o senador Vital do Rêgo Filho concorrendo ao Governo, pois pode precisar do apoio num eventual segundo turno contra o governador Ricardo Coutinho (PSB). A lógica manda adotar essa postura e, por enquanto, deixar as idiossincrasias trancadas num cofre.
Do ponto de vista da falta de cautela, o governador Ricardo Coutinho foi um primor. Está pouco se importando sobre o que diz a respeito dos demais agentes políticos, sejam eles concorrentes diretos – como Cássio e Vital – ou indiretos – como Maranhão. É evidente que RC trata a todos, indistintamente, como se não precisasse deles agora ou nunca e isso é algo que já lhe faz falta nessa etapa da campanha e pode fazer muito mais num eventual segundo turno.
Além de preservar Maranhão, Cássio teve ainda a habilidade – assim como fez Vital Filho – de se mostrar propositivo, mas nesse aspecto o candidato do PMDB levou uma vantagem razoável, apesar de algumas declarações soarem como demagógicas e desprovidas de qualquer fundamento técnico. Para quem não tem experiência em cargos executivos, o senador peemedebista precisa se municiar de argumentos mais completos.
O debate mostrou a estratégia do governador Ricardo Coutinho em poupar-se de novas promessas e isso tem uma razão: paga caro por ter prometido um paraíso ao povo paraibano em 2010 e, agora, é acusado pelos adversários de ter transformado a Paraíba num inferno, sem cumprir boa parte do elenco de propostas durante a campanha passada. Preferiu afirmar a continuidade de alguns programas e parece não ter definido ainda o que irá propor nessa nova oportunidade.
A propósito de Ricardo Coutinho, o Governador não poderia ter sido politicamente mais infeliz do que a esdrúxula citação do acidente com mortes de estudantes no Sertão há alguns anos, imputando a culpa a Cássio, então inquilino do Palácio da Redenção. Se Ricardo não se acha responsável pelas centenas de pessoas assassinadas no Estado durante seu Governo (e não é mesmo, diretamente), a mesma responsabilidade não poderia imputar ao seu concorrente. Foi um recurso mórbido, desnecessário e desagradável.
E ainda a propósito do Governador, no decorrer do debate percebeu-se que o empresário Alex Filho venceu a batalha sobre o apresentador Alex Filho, quando deixou que a cúpula da TV Master engessasse demasiadamente o debate com a concessão de “direitos de resposta” despropositados, numa tentativa de desprover o evento de qualquer caráter contencioso, impossível nessas ocasiões, pois conter os excessos é uma coisa e privilegiar com interrupções desnecessárias é outra, pois não houve nenhuma palavra que arrepiasse os cabelos do telespectador.
As boas surpresas do debate foram os candidatos do PSTU e do PSOL, respectivamente Antônio Radical e Tárcio Teixeira. O primeiro – já calejado por debates anteriores na TV – fala a “língua do povo” e recorre à ironia para desmontar adversários, mesmo que suas propostas se amparem num discurso de caráter nacional. O segundo teve desenvoltura para disparar a “metralhadora verbal” contra os representantes dos grandes condomínios políticos.
As quase três horas de discussões promovidas pela TV Master deve ter alcançado o objetivo de dar o pontapé inicial na campanha. Alex Filho, aliás, por pouco não arquivou a fidalguia e o cavalheirismo quando – também desnecessariamente – ameaçou chamar a PM para esvaziar o auditório. A plateia era composta de convidados e não de ‘black blocks”.