Cássio no limbo - Rubens Nóbrega

O impasse judicial que faz patinar a carreira política do ex-governador Cássio Cunha Lima cresce na mesma proporção das apostas no seu rompimento com o governador Ricardo Coutinho.

Já  externei aqui minha descrença nesse rompimento no curto ou médio prazo. Tenho como mais provável que ocorra lá pra meados de 2013, quando muito provavelmente pesquisas de intenção de voto apontarão Cássio como favorito nas eleições para governador. Mas vozes e penas bem mais qualificadas do que este colunista têm como bem mais próximo o racha entre as duas maiores celebridades políticas da Paraíba. Quem pensa e escreve sobre tal possibilidade com extremada competência são os analistas políticos Flávio Lúcio Vieira e Gilvan Freire.

Flávio presenteou-me esta semana com um texto sobre os presumíveis passos de Cássio Cunha Lima, inspirado, segundo confidenciou, na coluna que publiquei terça última (14).
Sob o título de ‘Espumas ao vento’, naquele escrito usei versos de canções de Flávio José e Jorge de Altinho para contar como o ex-governador ‘fez as pazes’ com o senador Cícero Lucena no Forró da Domus Hall, sexta-feira retrasada (11).

Vamos ao que interessa, então. Sobre esses e outros movimentos, gestos e atitudes esperados do ex-governador, o Professor Flávio Lúcio produziu a análise que compartilho com os leitores a seguir.
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Li sua coluna de hoje e depois de refletir consolidei minha opinião sobre a estratégia cassista, aliás, perfeita, como sempre.
Parece-me que a postura dúbia de Cássio em relação ao governo e ao próprio Ricardo dá margem a que tenhamos dúvidas se ele se manterá apoiando o projeto ricardista ou será uma alternativa a ele no futuro.

O governismo cassista é assegurado pelas palavras do próprio ex-governador quando ele dá entrevistas, mas sempre de maneira genérica e sem comprometimento explícito com determinadas ações do governo.

Enfim, Cássio foi contra ou a favor das demissões promovidas por Ricardo? Cássio foi contra ou a favor do não pagamento da PEC 300? Foi contra ou a favor das atitudes recentes do governo em relação a estudantes, professores e médicos?

Entretanto, a propaganda do seu partido é nitidamente oposicionista, contrapondo inclusive dados e posturas do ex-governo Cunha Lima com o atual; em Campina Grande, os seus seguidores, que são muitos, espinafram em todos os recantos, especialmente nos programas de rádio, o atual governador, cuja popularidade na Rainha da Borborema encontra-se em estado lastimável.
E Cássio calado, colocando tudo na conta de Cícero e dos cassistas mais afoitos. Ou seja, Cássio hoje está no melhor dos mundos na política: é de governo, mas não haverá constrangimento algum se no futuro – certamente não antes de janeiro de 2013 – tornar-se de oposição.

Seria bom para a política que procurássemos desfazer essa arguta encenação. Cássio não é só governo como é o principal responsável pela assunção de Ricardo Coutinho ao governo da Paraíba.
Cassistas de carteirinha, por exemplo, controlam setores estratégicos do governo, como a Secretaria  de Planejamento e Gestão, cujo titular (Gustavo Nogueira) é um dos apadrinhados do ex-governador; Luzemar Martins está na Controladoria Geral; e o responsável pelas obras do Pac na Paraíba é o indefectível Ricardo Barbosa (esses nomes, se eu não estou enganado, foram secretários do governo Cássio Cunha Lima). Estão excluídos, claro, aqueles indicados para o segundo e terceiro escalões e as centenas de aspones espalhados por todo o estado.

Enfim, os afagos de Cássio a Cícero, relatados em prosa e verso em sua coluna, depois das inserções na TV do PSDB com os ataques à administração ricardista, apenas corroboram a sensação de que Cássio Cunha Lima caminha para a oposição, para o deleite de muitos oposicionistas, inclusive do PMDB.

Isso se a imagem de RC continuar ladeira abaixo. Caso contrário, voltará à cena o Cássio governista. Em qualquer situação, o ex-governador pretende ficar bem na fita e colher os frutos do mais puro cinismo político. Isso se parte da oposição corroborar com essa estratégia, torcendo para um racha no bloco ricardista.

Quando isso acontecer – e se acontecer – será porque Ricardo terá se convertido num estorvo político.