Flávio Lúcio traça "trajetória cassista rumo à decadência como liderança política estadual"

Cássio, ascensão e queda - Até a divulgação dos resultados das primeiras urnas da eleição de Governador da Paraíba, ainda no primeiro turno, poucos discordariam da afirmativa de que o atual Senador, ex-governador, ex-prefeito de Campina Grande por três vezes, ex-deputado federal, Cássio Cunha Lima era a maior liderança política do estado.

Por Flávio Lúcio

 Cássio, ascensão e queda –    Até a divulgação dos resultados das primeiras urnas da eleição de Governador da Paraíba, ainda no primeiro turno, poucos discordariam da afirmativa de que o atual Senador, ex-governador, ex-prefeito de Campina Grande por três vezes, ex-deputado federal, Cássio Cunha Lima era a maior liderança política do estado.
O primeiro turno confirmara a suspeita, que já se mostrara imediatamente após o lançamento da que era para ser a “imbatível” candidatura do tucano, de que Cássio continuava no mesmo patamar – em queda – de votos que obtivera 12 anos antes, quando enfrentou Roberto Paulino e Avenzoar Arruda para o Governo da Paraíba.
Quando as urnas foram abertas, divulgados os resultados e anunciada a primeira derrota eleitoral de um Cunha Lima na Paraíba, não apenas o mito da invencibilidade do tucano se desfez, para a incredulidade de muitos, principalmente alguns jornalistas, como também aquela certeza de que Cássio era mesmo a “maior liderança política” paraibana.
Até 2014, uma trajetória vitoriosa
Não há dúvida de que Cássio aproveitou bem os espaços deixados pela transição intergeracional que ocorreu entre os anos 1990 e 2000, quando as principais lideranças políticas paraibanas pós-ditadura (Antônio Mariz, Humberto Lucena, Tarcísio Burity, Wilson Braga), morreram ou saíram da política, e  sem deixar herdeiros, como indicavam nossas tradições.
À exceção foi Ronaldo Cunha Lima. Ainda Prefeito de Campina Grande, o patriarca da família lançou, em 1986, a candidatura do filho, Cássio, à Câmara dos Deputados, que, entre 1987 e 1988, também funcionou como Assembleia Constituinte.
Com a eleição para a Câmara, Cássio iniciava uma ascensão meteórica, no início com a ajuda inestimável do pai.
Dois anos depois, Cássio seria eleito Prefeito de Campina Grande, em um daqueles casuísmos bem ao gosto das maiorias congressuais pós-ditadura permitidos pelo Congresso Constituinte, Ronaldo Cunha Lima lançou o filho à sua própria sucessão, em 1988.
1994
Esse acontecimento é fundamental para entender a consolidação de uma hegemonia que duraria 20 anos da família Cunha Lima em Campina.Com a prefeitura nas mãos, os Cunha Lima se projetaram para conquistar o Governo do Estado dois anos depois.
Era a consolidação da liderança daquele que era conhecido como o “menino de Ronaldo”, como Cássio foi apelidado por Enivaldo Ribeiro durante a campanha de 1988.
Um parêntese: Enivaldo, que se tornaria “freguês” dos Cunha Lima com seguidas derrotas para a prefeitura de Campina, recebeu o troco na ocasião da inauguração de um ginásio de esportes, que recebeu o nome, num misto de troça e auto-homenagem, de “Meninão”. Com aquele gesto aparentemente banal, devido às contumazes práticas familísticas e personalistas dos grupos políticos locais, Cássio inaugurava também um estilo de fazer política que marcaria fortemente a sua imagem e da sua família nas décadas seguintes. No governo, foi a vez do pai, que também fez construir um ginásio, agora em João Pessoa, e permitiu que fosse chamado de “Ronaldão”.
Em 1990, o “Menino de Ronaldo” teve papel decisivo na eleição do pai para o governo. Em Campina Grande, Ronaldo Cunha Lima obteve no segundo turno a incrível votação, jamais alcançada nas eleições seguintes, de 82,8%!
Cássio começava a deixar de ser o “Menino de Ronaldo” para ser Cássio Cunha Lima. Chegaria à Superintendência da Sudene, em 1992, nomeado por Itamar Franco.
A passagem de Cássio pela Sudene foi rumorosa o bastante para se converter na principal motivação que levou ao quase assassinato do ex-governador Tarcísio Burity.
O ex-governador, que se tornara adversário político, fizera pesadas críticas à gestão de Cássio na Sudene e Ronaldo Cunha Lima, ainda no exercício do cargo de Governador, tomou as dores do filho e procurou resolver a situação, literalmente, com a arma que tinha em mãos.
Nem esse trágico acontecimento serviria para deter a ascensão cassista.
Na eleição seguinte, em 1994, enquanto Ronaldo era premiado com uma eleição para o Senado, Cássio se elegeria o Deputado Federal mais votado da Paraíba, com mais de 157 mil votos, o que representou a incrível marca de 16,5% dos votos! Quase 100 mil a mais que o segundo colocado, Wilson Braga, que obteve 64.271.
Por incrível que possa parecer, menos de dois anos depois da tentativa de assassinato praticada pelo patriarca da família, 1994 foi o auge do prestígio político da família Cunha Lima, que, de rebarba, ainda elegeu Ivandro Cunha Lima, também Deputado Federal, com a quarta maior votação do estado. O também peemedebista Antônio Mariz, o governador eleito, obteve 76% dos votos em Campina Grande.
Em 1996, Cássio voltaria a disputar a Prefeitura de Campina, derrotando mais uma vez seu tradicional adversário, Enivaldo Ribeiro, desta vez numa apertada disputa cuja diferença chegou a apenas 8 mil votos, obtidos em distritos fora de Campina Grande.
Enivaldo seria derrotado mais uma vez, em 2000, configurando sua quarta derrota seguida para a família Cunha Lima, três das quais para Cássio. Depois, provavelmente cansado de tantas sovas eleitorais, Enivaldo passaria a compor o grupo de apoio cassista em Campina Grande e no estado.
Um acontecimento iria alterar a trajetória de Cássio Cunha Lima rumo ao Governo do Estado na eleição seguinte, que se reslizaria em 1998, quando teria apenas 35 de idade: a morte prematura de Antônio Mariz e a aprovação da emenda da reeleição, num outro casuísmo, já que aconteceu em pleno andamento dos mandatos dos beneficiários com o direito de se reelegerem: Prefeitos, Governadores e o Presidente da República.
Nas comemorações do seu aniversário. Ronaldo rompe com
Maranhão em 1997. Na foto acima, Cássio está atrás de Ronaldo
A morte de Mariz efetivou José Maranhão no cargo de governador e a aprovação da emenda da reeleição abriu a possibilidade de, no cargo, o governador disputar mais um mandato.
Esse fato abriu uma grave crise no PMDB paraibano, que vivia um vazio na liderança depois das mortes de Humberto Lucena e do próprio Antônio Mariz.
A solução foi uma disputa de vida ou morte pelo controle do PMDB numa rumorosa e disputadíssima Convenção, enfim vencida pelo então governador José Maranhão.
Esse racha levaria a família Cunha Lima e seu grupo para o PSDB, em 2001, para viabilizar finalmente a candidatura de Cássio ao governo, que em 2000 se elegera, ainda pelo PMDB, em aliança com o PT da até então combativa vereadora, Cozete Barbosa, indicada para vice.
Na próxima postagem
Na próxima postagem, analiso as consequências políticas da decisão do grupo Cunha Lima de se filiar ao PSDB e, em números, a trajetória cassista rumo à decadência como liderança política estadual.