Gobira, o fenômeno
POR LAERTE CERQUEIRA
Do Jornal da Paraíba
Toda eleição se espera um fenômeno nas urnas. Geralmente, alguém que não é de família rica, não tem raiz política, não é de nenhum clã, sem “sobrenome” famoso, parente ou aderente. Mas, na hora da votação, desbanca velhas raposas e políticos profissionais. Em 2010, quem arrancou uma vaga de deputado estadual, com uma votação surpreendente, foi Toinho do Sopão (PEN). O entregador de sopas, Antônio Petrônio de Souza, nome de “nascença”, obteve 57.592 votos, segundo o TRE, e foi o candidato a deputado estadual mais votado. O segundo, Gervásio Maia, teve pouco mais de 45.500 e é de família tradicional.
Este ano, o fenômeno pode vir do Sertão, de Cajazeiras. Nas pesquisas para consumo interno, só dá ele no primeiro lugar – Antônio Gobira, do Psol. Gobira é candidato a deputado federal e tem, segundo as consultas, metade dos votos válidos para o cargo lá na terra do Padre Rolim. Estima-se que ele possui no mínimo, 35 mil votos. Só em Cajazeiras, uns 15 mil. Ele garante que vai passar dos 100 mil.
Gobira se chama Luiz Antônio Lúcio Rangel, tem 56 anos, e foi registrado do TRE, como artesão. Tem ensino fundamental incompleto e é hoje o candidato mais popular da cidade. É só entrar na internet e ver um pouco de suas atividades de campanha. Coloca no bolso mobilizações de grandes nomes da política de paraibana, inclusive, candidatos da majoritária.
Gobira é ex-policial militar, mas tem a fama de ser “ex” em tudo – ex-sapateiro, ex-rei momo, ex-presidiário, ex-árbitro, ex-maratonista, ex-pai de santo. No guia eleitoral diz ser defensor da água no Sertão e pede voto com um balde na mão. Numa mistura de irreverência, brincadeira e críticas, ele está preparado para abocanhar boa parte dos votos da cidade natal e da região. Além de Cajazeiras, está com nome forte em Sousa. Gobira caiu na graças do empresariado local, que está financiando a campanha, e recebeu apoio declarado de Zé Lezin (Nairon Barreto), na internet.
O cajazeirense é um contador de histórias e segue convencendo aqueles descrentes com a política. O sertanejo, que faz campanha em cima de um jegue, fala a língua do povo e é mais consciente do que se imagina. E surpreendentemente, mesmo com pouca escolaridade, tem noção clara dos problemas que vive o “povo” como ele.
Não se engane, estamos diante de mais um fenômeno e, pelo pouco que ouvi por aí, dá de “cambão” em muitos profissionais da área política. Está parecendo que vem aí mais um recado do povo.