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Câmara adverte vereador que cheirou calcinha e frustra pedidos de cassação 

O parlamentar, que é filiado ao PSC (Partido Social Cristão), foi flagrado, em junho, cheirando uma calcinha vermelha durante uma sessão ordinária remota com outros parlamentares.

A Câmara de Vereadores de Bragança Paulista (a 90 km de São Paulo) resolveu aplicar uma advertência simples ao vereador Benedito Franco Bueno, conhecido como Ditinho do Asilo. O parlamentar, que é filiado ao PSC (Partido Social Cristão), foi flagrado, em junho, cheirando uma calcinha vermelha durante uma sessão ordinária remota com outros parlamentares.

Na sessão virtual, no momento em que os vereadores Fabiana Alessandri (PSD) e Quique Brown (PV) debatiam a necessidade do corte de eucaliptos na cidade, o parlamentar do PSC ergue a peça íntima, a aproxima do rosto e cheira. O vereador Maufid Doher (Podemos) tenta alertar o colega, mas, segundos depois, Ditinho vira a câmera — sem qualquer comentário, com o microfone desligado. A cena viralizou nas redes sociais.

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A decisão de adverti-lo, comunicada no último dia 17 pela Comissão de Ética do legislativo municipal, frustrou um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas, coletadas até essa sexta-feira (4), que pedia a cassação do mandato do vereador.

Intitulado Batuque Raízes da Nega, o coletivo de mulheres percussionistas que criou o abaixo-assinado mobilizou a coleta de assinaturas na plataforma Change.org.

“Além da falta de decoro parlamentar, a situação implica em grave violação dos direitos humanos das mulheres, já que representa o total menosprezo, ridicularização e falta de respeito à fala e participação das mulheres em espaços públicos de poder. Até quando as mulheres serão violentamente desrespeitadas nas ruas, em suas casas, em seus ambientes de trabalho, em espaços de poder, etc, e os autores de tais violências continuarão impunes?”, diz trecho da petição, ainda em curso.

Vereador tem mais assinaturas por cassação do que os votos que o elegeram

Universa, a advogada e ativista Ana Luiza de Oliveira, 34, uma das fundadoras do coletivo, afirmou que o manifesto do grupo, formalizado também como nota de repúdio, foi uma das cinco petições protocoladas na Câmara Municipal contra o vereador.

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Na avaliação da advogada, o comportamento dele durante a sessão configurou quebra de decoro de maneira dolosa, ou seja, intencional, em entendimento diverso do que foi dado pela comissão de ética da casa, para a qual apenas as penalidades de advertência, censura ou suspensão seriam possíveis na análise do caso. Venceu a mais branda, de advertência ao parlamentar.

“O vereador tem mais assinaturas na petição virtual pela cassação do que os votos que o elegeram para o mandato [991]. Entendemos que houve dolo, sim, na atitude dele, uma vez que o gesto foi feito na Câmara, no gabinete dele, em uma sessão e durante a fala de uma vereadora mulher. Portanto, faltou respeito e sobrou machismo”, diz.

Indagada se a cassação de mandato pleiteado pelo coletivo é proporcional à gravidade da situação, a advogada foi taxativa. “A violência de gênero contra as mulheres não é diferente na política, onde ela se expressa de diferentes formas: seja pela atitude do então deputado federal [Jair] Bolsonaro, ao dizer que a deputada Maria do Rosário [PT] não merecia ser estuprada [o episódio ocorreu em 2013], seja pelo assassinato da vereadora Marielle Franco [do PSOL, em 2018] no exercício do mandato.”

“Não é uma questão de ligar ou desligar a câmera, como o vereador colocou sobre o episódio”, diz Ana Luiza. “Ele desrespeitou o exercício político das mulheres nos espaços de poder, e, quando faz isso, tenta deslegitimar o lugar da mulher nesses espaços, nos quais já não existe paridade”, afirma a advogada, lembrando que, dos 19 vereadores de Bragança, apenas 3 são mulheres.

“Até quando as mulheres serão desrespeitadas nos diferentes ambientes e isso será banalizado e naturalizado? A Câmara ajudou a banalizar esse comportamento”, lamenta a advogada.

“Eu nunca tinha visto uma calcinha de sex shop”, esquiva-se vereador

Procurado, o vereador de 50 anos, pai de dois filhos e em seu primeiro mandato negou que tenha desrespeitado o eleitorado feminino com o gesto de cheirar a calcinha durante atividade parlamentar. Ele também disse acreditar que o episódio afete sua tentativa de reeleição, sobretudo entre o eleitorado feminino, e enfatizou: “até tenho uma filha, que é biomédica”. Ele também é pai de um policial militar.

Candidato à reeleição em outubro e integrante da base do prefeito Jesus Chedid (DEM) na Casa, Ditinho já presidiu o conselho central da Sociedade São Vicente de Paulo e a Vila São Vicente de Paulo, em Bragança.

“Eu nunca tinha visto uma calcinha de sex shop, comestível. Aceitei aquele presente de um amigo de uma forma muito bacana. A Câmara, dentro de uma visão jurídica legal, proporcional e razoável, julgou meu entendimento de maneira correta. Eu nem sabia o que era aquilo [a calcinha], foi ingenuidade minha”, justificou.

Para o vereador, o fato de ele ter aberto o suposto presente durante uma sessão remota com outros colegas e durante a fala de uma vereadora não representou dolo ou desrespeito às mulheres. “Algumas entenderam de uma forma muito equivocada, mas outras compreenderam a situação e sei que vão me ajudar de novo na campanha.”

O parlamentar ainda atribuiu a reação das mulheres do coletivo a um suposto interesse eleitoral. “Sei que algumas delas são pré-candidatas e estão filiadas a partidos de oposição. Isso é normal”, diz.

A advogada e fundadora do coletivo refutou a insinuação e disse que nem ela, nem nenhuma das integrantes do grupo tem filiação partidária e, portanto, não são pré-candidatas nas eleições de novembro.

Fonte: UOL
Créditos: UOL