Acusação de estupro

Amanda Audi, jornalista do The Intercept Brasil, acusa professor da UnB de estupro

Segundo o relato, o caso aconteceu em outubro do ano passado e foi revelado só agora. Amanda diz que "a polícia mal investigou: falou apenas com uma testemunha e abriu mão de falar com outras. O promotor Fábio Barros de Matos achou que era caso de 'apenas duas pessoas confusas sobre suas intenções e sentimentos" e que "há considerável dúvida a respeito do dolo porque eu registrei o BO sete dias depois do que aconteceu".

A repórter do The Intercept Brasil, Amanda Audi, publicou ontem, 3, em seu Twitter um desabafo no qual acusa de estupro o professor da Universidade de Brasília (UnB) Alexandre Andrada. A divulgação do fato se deu após a repercussão do caso da influencer Mariana Ferrer, que foi constrangida em julgamento tanto pela parte da defesa do acusado, quando pelas outras autoridades presentes.

Na postagem, ela relata falta de confiança no sistema judicial. “Não quero entrar em detalhes sobre o que aconteceu, porque isso me faz muito mal (…) Quero apenas relatar a minha dolorosa sensação de impotência frente ao descaso com que polícia, MP e judiciário trataram o meu caso”, disse a jornalista.

Segundo o relato, o caso aconteceu em outubro do ano passado e foi revelado só agora. Amanda diz que “a polícia mal investigou: falou apenas com uma testemunha e abriu mão de falar com outras. O promotor Fábio Barros de Matos achou que era caso de ‘apenas duas pessoas confusas sobre suas intenções e sentimentos” e que “há considerável dúvida a respeito do dolo porque eu registrei o BO sete dias depois do que aconteceu”.

Com os dados do processo obtido pela reportagem do UOL, foi possível consultar a decisão de arquivamento do juiz. O andamento para tal decisão partiu de sugestão do Ministério Público. Diz a sentença do juiz: “O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios por seu Órgão em exercício perante este Juízo requereu o arquivamento dos autos por não vislumbrar elementos mínimos para a propositura de ação penal (…) Ao analisar as razões invocadas pelo Ministério Público tenho que não existe, de fato, qualquer elemento convincente a justificar a continuidade da persecução penal”. A data desta decisão é de julho deste ano.

O conteúdo detalhado do inquérito policial não está disponível para consulta, apenas algumas das decisões ou andamentos. É de praxe que investigações e processos deste tema permaneçam em sigilo. Ao UOL, Amanda Audi acusou o professor de “mentir muito no depoimento”.

Sobre o caso da influencer Mariana Ferrer, Amanda Audi diz que “mostra o completo absurdo que é buscar justiça em um caso de violência sexual no Brasil. Em que nem mesmo o defensor dela a defendeu. É ser o tempo todo desacreditada, ser tratada como culpada ao invés de vítima.”

O outro lado O UOL entrou em contato com Alexandre, que indicou seu advogado, Fernando Parente. À reportagem, a defesa disse que o professor está tranquilo quanto aos fatos. Acrescentou ainda que todos os documentos foram apresentados ao inquérito e as testemunhas ouvidas que fizeram o Ministério Publico entender que o Alexandre não quis causar mal à Amanda.

Fernando disse que a notificou para que retirasse a publicação do ar, no Twitter. A publicação original já foi deletada pela jornalista.

Fernando diz que seu cliente, Alexandre Andrada, ainda não teve mais prejuízo em sua vida profissional ou pessoal. “Até o momento ele não tinha [nenhum prejuízo], mas diante do conteúdo das postagens, eu tenho certeza de que ele vai ter algum. Mas vamos ter que esperar isso acontecer”.

Por fim, ele diz que o professor da UnB está arrependido de ter tido algum tipo de relacionamento com a jornalista do The Intercept. “O Alexandre está tranquilo em relação ao que aconteceu. Então ele se arrepende do envolvimento de maneira geral, mas em relação ao fato, em si, ele está tranquilo, porque não aconteceu o estupro que ela fala”.

Alexandre Andrada, graduado em economia pela Universidade Federal de Pernambuco e mestre em economia política pela USP era ainda colunista do The Intercept. A reportagem entrou em contato com o site, mas ainda não teve retorno.

Procurada pelo UOL , a Universidade de Brasília disse que não tem nenhuma apuração interna sobre atos cometidos pelo Alexandre Andrada. “A Universidade de Brasília não recebeu denúncia contra o professor. A instituição repudia qualquer tipo de violência contra a mulher e reitera seu compromisso com a defesa dos direitos humanos e a promoção da igualdade de gênero”, diz a nota.

Questionada se, a partir da informação divulgada pelo Twitter, a Universidade irá abrir uma sindicância interna por conta própria, a instituição informou que ela “não tem competência para apurar, salvo quando há registro de denúncia”.

A Polícia Civil ainda não retornou ao UOL com um posicionamento sobre o tema e quanto à declaração de que a instituição pouco investigou o caso. O The Intercept Brasil afirmou à reportagem que “assim que foi informado do caso, o Intercept tomou todas as medidas que lhe cabiam. Alexandre Andrada não faz mais parte da nossa equipe”.

Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba