Rubens Nóbrega
A principal novidade na política paraibana em 2013 é, sem dúvida, o início da primeira administração petista numa grande cidade. Alguns objetarão lembrando que o partido já administrou Campina Grande entre 2002 e 2003, cidade de larga tradição política e segundo maior colégio eleitoral do estado.
É verdade, mas é preciso destacar as diferenças entre uma situação e outra. Enquanto em Campina Grande o PT ascendeu à administração municipal em condição secundária, em total dependência do cassismo – Cozete Barbosa, a então prefeita campinense, chegou mesmo a pedir voto para Cássio Cunha Lima para governador, em 2002, quando o PT tinha candidato – em João Pessoa, as forças que deram suporte à eleição de Luciano Cartaxo não apenas tem mais identidade política, como tem uma origem comum: o próprio PT.
E a composição dos governos mostra bem essa diferença. Enquanto cassistas continuaram ocupando cargos-chave na administração campinense, o PT em João Pessoa já iniciou o jogo mostrando suas cartas. Mesmo com o decisivo apoio do ex-prefeito Luciano Agra à candidatura de Luciano Cartaxo, o PT ocupou as principais secretarias da administração pessoense, deixando pouco espaço para os aliados. As indicações de Agra estão presentes, mas em cargos considerados “técnicos”, ou seja, com limitada perspectiva de atuação política. Quem não viu nisso um aviso pode começar logo a entender: o PT tem pressa em demonstrar que tem força, mesmo que superestimada.
O voo próprio petista
Essa observação é importante porque estabelece consequências políticas cujo alcance nós só poderemos compreender melhor com o tempo. Apesar de patinar durante anos sem um projeto político próprio, transitando de um expecto a outro no jogo das forças políticas paraibanas – cassismo, depois maranhismo e, por último, o ricardismo, ao lado de quem parte importante do PT ainda se mantém, é bom lembrar, – com a ascensão em João Pessoa o partido do ex-presidente Lula agora parece em condições de traçar voos com as próprias asas.
A partir de João Pessoa, como fez Ricardo Coutinho, o PT pode vir a se constituir, no médio prazo, num polo em condições de disputar com os outros grandes agrupamentos a hegemonia política do estado, especialmente se o partido mantiver a Presidência da República.
Mas, tudo depende do que o partido fizer na administração de João Pessoa. E o desafio é empreender uma administração com marca própria, capaz de ultrapassar em realizações tanto a administração de Ricardo Coutinho como a de Luciano Agra. São muitos os desafios da administração de Luciano Cartaxo. O primeiro deles é volta-la para a periferia da cidade, dando algum sentido ao que os próprios petistas chamam de “modo petista de governar”. Se as administrações ricardistas conquistaram a classe média pessoense, priorizando investimentos nas partes mais “visíveis” da cidade, o desafio do PT é fazer João Pessoa se enxergar como um todo, e integrá-la em termos de ações administrativas. Se houve avanços na educação – e houve, como, por exemplo, a construção de escolas dignas de serem chamadas assim, – será preciso identificar o próximo passo, talvez com a implantação da escola em tempo integral. Na saúde, o desafio é levar atendimento médico a todos os PSFs e isso vai exigir, entre outras coisas, uma melhor remuneração para os médicos. Do jeito que está não pode continuar.
A superação desses “gargalos” para a melhoria das condições de vida dos pessoenses pode ser a credencial que precisa o PT para mostrar-se à Paraíba como uma alternativa real de poder. Ser a única capital do Nordeste administrada por um petista certamente ajudará, mas será preciso observar o comportamento da economia nacional nos próximos dois anos.
Havendo retração, o cenário pode mudar porque a capacidade de investimento a partir de verbas e projetos federais se reduzirá bastante. Se a economia se recuperar, como espera o próprio governo, João Pessoa pode vir a ter anos de fartura, porque também estará em pauta a eleição presidencial, momento em que tanto o orçamento como a liberação de recursos ficam mais “flexíveis”. Enfim, como muitas petistas almejavam, o PT virou um protagonista da política paraibana. Vamos ver no que isso vai dar.
Substituir Rubens Nóbrega
Aos leitores acostumados com o texto de Rubens Nóbrega eu os tranquilizo: estou aqui apenas de passagem. Em breve, Nóbrega voltará revigorado depois de um mês de férias, para o bem de todos nós, especialmente do jornalismo paraibano. Não perderei meu tempo escrevendo sobre a imensa responsabilidade que vai ser substituir Rubens Nóbrega neste espaço. Minha preocupação é outra: como manter o ritmo que ele imprime diariamente a esta coluna, sempre com a mesma qualidade, refino intelectual, capacidade de análise, clareza, didatismo e perspicácia, atributos que só os grandes jornalistas conseguem reunir no exercício do seu trabalho, que sempre é apresentado aos leitores num texto elegante e envolvente? Atributos que só os jornalistas que atuam com independência, sem se dobrarem ao poder da política e do mercado, são capazes de preservar e manter por toda uma vida de trabalho.
Amanhã eu volto para tratar da composição da administração de Romero Rodrigues em Campina Grande.