dona Creusa Pires

A fada madrinha - Por Abelardo Jurema Filho

Creuza Pires (Foto: Reprodução/TV Cabo Branco)

Ela parecia um personagem de Walt Disney, daqueles que distribuem vida e alegria para crianças e adultos.
Sua vida não se limitava a si mesma: o seu principal foco era alimentar os outros, nutrir os seus semelhantes de esperança e de amor. Quando a conheci era uma mulher poderosa, rica, que morava num castelo encantado na avenida Epitácio Pessoa, onde se hospedavam os homens mais influentes do país. Fiquei surpreso ao conhecê-la: ao invés de uma rainha encontrei uma mulher simples, despojada, que nem de longe parecia a dona do império que construíra com o suor do seu trabalho. No GranPires, o Lojão da Lagoa, a primeira grande loja de departamentos da cidade, dona Creusa Pires agia como se estivesse numa mercearia, a receber os seus fregueses com carinho e intimidade. Em época onde as máquinas ja substituíam os homens, dona Creusa ainda adotava o seu caderninho para anotar os fiados. Não tinha clientes, apenas amigos fraternos e queridos.
Naquele tempo, quando podia frequentar os mais sofisticados salões de festa em qualquer parte do mundo, dona Creusa passava os seus fins de semana na sede do Amém – Associação Metropolitana de Erradicação da Mendicância, entidade que protegia como uma fada madrinha.
Nos fins de semana, religiosamente, ela estava lá ao lado do seu grande companheiro Adrião Pires que com ela comungava todas as suas ações.
Acompanhei, como toda a cidade, a debacle financeira da família, que não resistiu à pressão dos grandes grupos econômicos e às constantes mudanças na economia. Isso em nada alterou a personalidade nem o estilo de vida de dona Creusa, que jamais se queixou do infortúnio. Certa vez me confessou que jamais teve mais do que dois pares de sapatos: “um para sair e outro para ficar em casa”
A mulher dona do GranPires era a mesma que estava por trás do balcão entre artigos de ponta de estoque da Bagunça, uma loja de fundo de garagem que montou com o que ainda sobrou após o vendaval que lhe varreu tudo o que tinha, menos o seu espírito inquieto e realizador.
Símbolo da humildade, da alegria e da vontade de viver, dona Creusa Pires era uma mulher singular, feliz, que se comprazia em fazer o bem sem olhar a quem. Um exemplo que ficará para sempre de um ser humano amplo, plural, generoso, solidário e coletivo, cuja primeira providência que deve ter tomado quando se apresentou a São Pedro foi propor a formação de um bloco de carnaval para amparar e alegrar as almas mais carentes do purgatório.

Fonte: Abelardo Jurema Filho
Créditos: Polêmica Paraíba