A era é digital, a urna eletrônica, mas a eleição ainda se ganha na TV, por Marili Ribeiro 

Esqueçam o discurso efusivo do domínio do universo online na vida moderna. Sim, a sociedade nativa mostra apetite para as plataformas digitais. Mas as eleições se decidem mesmo é na Globo. Ou melhor, no último debate antes de se cerrarem as cortinas para os registros dos votos nas urnas eletrônicas. Foi assim nesse acirrado primeiro turno.

Esqueçam o discurso efusivo do domínio do universo online na vida moderna. Sim, a sociedade nativa mostra apetite para as plataformas digitais. Mas as eleições se decidem mesmo é na Globo. Ou melhor, no último debate antes de se cerrarem as cortinas para os registros dos votos nas urnas eletrônicas. Foi assim nesse acirrado primeiro turno.

E não é a primeira vez que a história se escreve por aqui. Lembram de Collor versus Lula? O esperto metalúrgico ruiu ante o ardiloso caçador de marajás. Com quase 21 pontos de audiência, além de enorme repercussão no dia seguinte – e ai, sim, potencializado pela audiência online -, o debate deu um novo rumo ao jogo político e mostrou que a comunicação, no Brasil, ainda depende, e muito, da mídia televisiva, por mais que seja libertador imaginar que, no online, o espaço do debate para as ideias seja ampliado ao infinito.

Aécio Neves, o candidato do PSDB, que no atual pleito chegou a parecer fora do jogo quase que abandonado à própria sorte, não esmoreceu e seguiu no jogo, mesmo sendo dado como certo uma disputa entre duas mulheres, Marina Silva, respaldada por uma coligação partidária, e Dilma Rousseff do PT. Mas, depois do debate na emissora família Marinho, mudou o jogo.

Seu desempenho frente às câmeras foi festejado e reconhecido pelos eleitores. Analistas lhe atribuíram um papel de protagonista em cena. Resultado, ele deu um salto e cresceu 9 pontos nas sondagens informais, chamadas de trekking pelos profissionais dos institutos de pesquisa. Uma tendência que se confirmou nas urnas. Marina, a preferida até então para enfrentar o PT, que já vinha caindo nas pesquisas, despencou. Sua imagem de fragilidade diante das câmeras contribui enormemente para isso. Vários depoimentos colhidos por repórteres mostram desistência de eleitores por acharem que ela não tinha condições de gerir o País. Caso citado no Portal da TV Folha pela jornalista Daniela Lima: “Uma eleitora de Marina me contou que, depois do debate, mudou de voto porque ela estava tão fraquinha, magrinha e rouca que desistiu de votar nela”.

Em que pese o discurso animadinho da turma que vê nas redes sociais a força revolucionária capaz de influenciar a cabeça do eleitor, ainda não está nela o poder de definir o comandante em chefe do país. Se assim fosse, Marina estaria na disputa com Dilma, e esta, aliás, talvez jamais despontasse nas pesquisas à frente dos concorrentes.

Os números recentes nas páginas do Facebook dos candidatos, a rede de maior audiência entre os brasileiros, – e mesmo depois da avalanche que pôs o neto de Tancredo Neves no segundo turno – não endossam as urnas. Aécio totalizava 2,179 milhões curtidas em 07/10. Marina, que, inclusive, num determinado momento ficou entre as páginas mais acessadas num ranking global de políticos do próprio Facebook,ainda mantém à frente na preferência do mundo digital, com 2, 275 milhões de curtidas. E isso, mesmo fora do segundo turno. Já a presidente Dilma segue na lanterninha, com apenas 1,361 milhão de curtidas.

Quem entende de comunicação sabe, entretanto, que nessa história de redes sociais há esquemas definindo crescimento orgânico e pago, sendo este último patrocinado por robozinhos programados a soldo, para fazer “bombar” páginas de marcas, celebridades, e, lógico, políticos. Qualquer marqueteiro põem em prática esse “índice de sucesso”.

Mas, se as redes sociais são manipuláveis em seus resultados, debates ao vivo e a cores não são, mesmo que os discursos sejam ensaiados à exaustão em infinitos e incontáveis treinamentos com os assessores. E, pelo visto, o povo gosta dessa prova dos nove para decidir seu voto. Pelo menos, a audiência paulistana, o maior colégio eleitoral do País. O embate na noite de (03/10), com os sete presidenciáveis, além dos três mais bem posicionados, o pastor Everaldo, Levy Fidelix, Luciana Genro e Eduardo Jorge , foi recorde na categoria, mesmo tendo avançado pela madrugada em suas quase três horas de duração (exibido das 22h50 às 01h20).

E, nem mesmo o traquejado jornalista Willian Bonner conseguiu passar ileso no controle das estripulias, oportunismos políticos e agressões entre eles e teve dificuldades em conter os candidatos. Foi, talvez, o debate mais solto que a emissora transmitiu em seus 50 anos de domínio do cenário político televisivo.

O resultado foi sentido nas urnas no dia 05/10. As plataformas de comunicação se multiplicam. O mundo fica cada vez mais conectado. Todos opinam. Mas nada substitui a emoção e a reação espontânea diante do que não foi ensaiado. Eleitor saca o improviso.

Este texto foi originalmente publicado no blog de Marili Ribeiro