A empatia de Dilma e o PT com o Nordeste causou de novo reações da mais deplorável xenofobia, do mais repulsivo preconceito - Por Rubens Nóbrega

Pejorativamente ou não, foi esse o título usado pela jornalista Andreia Sadi, da Folha de S. Paulo, para informar um dado muito pouco divulgado que explicaria em parte (ou um bom bocado) a preferência do eleitorado nordestino pela reeleição da atual Presidente da República. Na edição de quarta-feira última, ao noticiar a visita que a candidata petista faria naquele dia à Paraíba, o jornal paulistano informou que a nossa região é o ‘pilar de Dilma’, entre outros motivos porque “não passa pela retração econômica atacada pelos candidatos oposicionistas”.

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O ‘Pilar de Dilma’ ( Do jornal da Paraíba)

Pejorativamente ou não, foi esse o título usado pela jornalista Andreia Sadi, da Folha de S. Paulo, para informar um dado muito pouco divulgado que explicaria em parte (ou um bom bocado) a preferência do eleitorado nordestino pela reeleição da atual Presidente da República. Na edição de quarta-feira última, ao noticiar a visita que a candidata petista faria naquele dia à Paraíba, o jornal paulistano informou que a nossa região é o ‘pilar de Dilma’, entre outros motivos porque “não passa pela retração econômica atacada pelos candidatos oposicionistas”.

De fato, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro apresenta até aqui crescimento em torno de um por cento, segundo cálculos do Banco Central “a economia nordestina cresceu 2,55% no segundo trimestre do ano, na comparação com o primeiro, que já havia mostrado expansão de 2,12%”. De acordo ainda com a jornalista da Folha, as taxas de crescimento do Nordeste não têm paralelo no restante do país, pois “nenhuma das demais regiões obteve dois trimestres consecutivos de alta, e as taxas, mesmo quando positivas, foram bem mais modestas”.

Por essas e outras, ancorada ainda em muitos outros números e argumentos que comprovam acentuada melhoria social e econômica dos nordestinos em doze anos de governo petista, a campanha de Dilma Rousseff tende a se intensificar no Nordeste. Com um objetivo muito claro: ampliar a vitória da Presidente na região para 75% ou mais dos votos válidos como forma de contrabalançar o peso do antipetismo nos estados mais ricos do Brasil, sobretudo em São Paulo, maior responsável pela ascensão de Aécio Neves (PSDB) à liderança da corrida sucessória presidencial. Tanto é assim que ainda não haviam sido proclamados os resultados do primeiro turno pela Justiça Eleitoral e a candidata do PT pegava a estrada para fazer um périplo por capitais como Teresina (PI), Salvador (BA), Maceió (AL) e Aracaju (SE), além de João Pessoa, onde veio fechar o apoio do governador Ricardo Coutinho (PSB).
Onda de ofensas
A empatia de Dilma e o PT com o Nordeste causou de novo reações da mais deplorável xenofobia, do mais repulsivo preconceito. Tal e qual ocorreu nas eleições de 2010. Lembram? Quatro anos atrás, após a contagem dos votos uma estudante paulista postou no Twitter um apelo para que seus conterrâneos eliminassem os nordestinos que encontrassem pela frente. Afogando-os, de preferência. Na época, a incitação tinha tudo para dar o resultado esperado pela jovem. Afinal, havia água em abundância nos reservatórios paulistanos, ao contrário do que ocorre atualmente por lá, não se sabe se por falta de planejamento, imprevidência ou incompetência do governo daquele Estado. De qualquer sorte, a moça foi processada pelo Ministério Público Federal (MPF) pela injúria cometida e condenada pela Justiça a um ano, cinco meses e quinze dias de cadeia, além de multa. Mas essa pena ela pagou em serviços comunitários. Só espero que tenha sido em alguma instituição de assistência ou amparo a migrantes nordestinos.

Recidiva do ódio
A semana encerrada ontem, a primeira do segundo turno das eleições de 2014, foi marcada por nova e forte onda de ofensas aos nordestinos. No Twitter e em outros ambientes das chamadas ‘redes sociais’ na Internet, além de sermos chamados de burros, jumentos, seres inferiores e outros adjetivos impublicáveis, dessa vez até mesmo um grupo numeroso de supostos médicos propôs a castração química em massa dos homens nascidos na região. Tudo por conta do resultado de uma eleição. Imaginem, então, o que pode vir de uma reeleição. Aí será o quê? Um novo apartheid? Reeditaremos uma guerra de secessão “debaixo do Equador”? Ou seremos condenados a beber o que resta do volume morto da Cantareira?

‘Indignidade médica’
O Ministério Público Federal (MPF) deve entrar mais uma vez em ação, literalmente, para processar quem nos injuriou. Digo isso porque na manhã de sexta-feira (10) encontrei no portal iG matéria intitulada “MP abre frente para combater preconceito contra nordestinos” informando o seguinte: “Diante de várias denúncias relacionadas à incitação ao ódio e preconceito contra a comunidade nordestina pela internet, a Procuradoria-Geral da República (PGR) recomendou que os integrantes do Ministério Público Federal (MPF) em todos os Estados levantassem denúncias com o objetivo de que a PGR instaure procedimentos criminais ou administrativos contra autores de posts preconceituosos na rede”.
Melhor ainda: esta semana, “a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) começará a analisar medidas judiciais contra comunidades ou pessoas que incitem o ódio contra nordestinos na Internet”. Uma das páginas de Facebook que já está sob investigação do MP e deve ser alvo de ações judiciais por parte da OAB é a “Dignidade Médica”, aquela que chegou a pregar um “holocausto contra nordestinos”. O caso, revelado pelo iG, mostra que os membros desse grupo (eles seriam mais de 97 mil, entre médicos, professores e estudantes de Medicina) assumem que fazem campanha para Aécio Neves, pedindo votos para o candidato tucano dentro de consultórios e outras unidades de saúde. Públicas ou privadas. Eles acreditam fazer um trabalho de convencimento de seus pacientes. Já quanto aos empregados que lhes auxiliam no atendimento, dizem, por exemplo, que colocam ‘a recepcionista no lugar dela’ com ameaças de que perderá o emprego se Dilma for reeleita. Fazem assim porque no entendimento deles esse seria o “nível de conversa que pobre entende”, revela o iG.