Gilvan Freire
Se os processos eleitorais não são limpos, se os processos administrativos estão contaminados pela corrupção, e se as instituições são débeis e seus membros, em boa parte, são vulneráveis a ação do dinheiro e ao tráfico de influência, estamos vivendo numa sociedade antidemocrática. Só não é pior do que uma sociedade onde falta ao povo a liberdade, porque sem liberdade o povo paga o preço de nem sequer poder protestar, como se faz agora, e tem de ver e agüentar tudo de guela abaixo, para a alegria e festa dos malfeitores.
Mesmo assim, com tantas liberdades e garantias, o povo não consegue reduzir os índices das agressões morais à sociedade, praticadas em sua boa parte pelas autoridades encarregadas de coibi-las. É pra meditação.
Estamos em eleições municipais gerais no país, mas não há um só eleitor brasileiro, possivelmente, que ache que essas eleições estão livres da compra de votos, do uso da máquina pública e da ação dos delinquentes, municiados de recursos ilícitos, inclusive, em muitas situações, alocados pelas organizações criminosas, tudo a serviço (pasmemos) de candidatos a cargos eletivos e supostos legítimos (?) representantes do povo. Não raro das vezes, o próprio eleitor é cúmplice desse processo de criminalidade que infesta os costumes políticos e destroem as esperanças de quase toda a população. Está cada vez mais remoto o uso de ações lícitas nas eleições, ou o uso de dinheiro cem por cento honesto nas campanhas.
Mas de todas as organizações criminosas que atuam nas eleições, a máquina pública é a mais corruptora, porque, além de possuir meios técnicos e materiais de influência, disfarça a sua participação no pleito com medidas que parecem normais, coisas triviais da rotina administrativa. Fora disso, a administração pública no Brasil é também em si mesma um antro de corrupção, com imensa capacidade de levantar recursos financeiros através de licitações dirigidas (ou suas dispensas), hoje transformadas em mecanismos e armas potentes de ataque ao Tesouro. É um drama social e cultural perturbador. A quem recorrer?
A essas alturas, na Paraíba, como de resto em todo país, a ilegalidade campeia para fazer dessas eleições mais um pleito de crescente influência do dinheiro desonesto, das intervenções criminosas do poder público, da mitigada e precária ação coibitiva das instituições, e de outros dedos buliçosos da criminalidade dominante. É de assustar, mas o crime eleitoral virou uma antidemocracia dentro da vida democrática da nação.
Pior de tudo é que essa neodemocracia tem o nome de representativa, como se todos os cidadãos limpos estejam foliando nesse carnaval lamacento, ou autorizando a farra bancada com o dinheiro do povo e com a falta de pudor e vergonha dos homens públicos e outros agentes da perversão.