A crise tucana...

O que talvez esteja acontecendo é a transição de um para outro PSDB. A “debandada” é irrelevante, importante é o declínio de um PSDB e a ascensão de outro.

Existem famílias que conseguem guardar seus segredos tão bem que ninguém adivinha os problemas que atravessam. Outras são incapazes de preservar a intimidade e revelam a qualquer um as dificuldades. Ficamos até constrangidos de conhecer detalhes que deveriam permanecer entre quatro paredes.

Com os partidos políticos acontece coisa semelhante. Alguns são hábeis na defesa de sua vida interna, não a expondo à curiosidade alheia. Mesmo quando algo grave acontece, mantêm a fleuma e reagem como se tudo estivesse na mais perfeita normalidade.

E há partidos que fazem o oposto. À menor turbulência, ficam desnorteados e não sabem como reagir. Suas lideranças dão declarações desencontradas. Umas exageram para menos e dão a impressão de estar no mundo da lua, não vendo o que todos enxergam. Outras falam demais, se descabelam e aumentam a importância do momento pelo qual passam.

O PSDB está dando mostras de ser desse segundo tipo. Quem ouve alguns de seus filiados e intelectuais só pode concluir que o partido está acabando.

O curioso é que, no ano passado, em São Paulo, o PSDB colheu alguns de seus resultados mais animadores. Não só Serra derrotou Dilma nos dois turnos, como Geraldo Alckmin teve uma vitória expressiva, ganhando de um bom candidato petista. No Senado, em uma arremetida de última hora, Aloysio Nunes acabou eleito.

Hoje, Alckmin é um dos mais bem avaliados governadores do país, repetindo o desempenho de suas administrações anteriores. Nada sugere que seu governo viva uma crise. Está em paz com a opinião pública.

Daí, no entanto, a dizer que está em curso uma “debandada do PSDB”, como tem afirmado a grande imprensa paulista, há uma distância. Ela não parece ocorrer nem em São Paulo, onde a crise tucana seria mais grave, nem, muito menos, no resto do Brasil.

O que talvez esteja acontecendo é a transição de um para outro PSDB. A “debandada” é irrelevante, importante é o declínio de um PSDB e a ascensão de outro.

(Marcos Coimbra)