A aposta de Aécio

Nonato Guedes

O PSDB, finalmente, fará a troca de guarda na eleição presidencial do próximo ano. Sairá do palco uma figura carimbada em disputas ao Planalto, o ex-ministro José Serra, e entrará em cena o senador Aécio Neves, um político relativamente jovem, que carrega o sobrenome do avô ilustre, Tancredo, ungido pela voz rouca das ruas e pelo Colégio Eleitoral indireto mas impedido de assumir por causa de doença insidiosa que o alcançara. Qual a aposta de Aécio, em termos de discurso? É uma indagação legítima que se faz nos mais diferentes círculos. Ele diz que quer deflagrar um novo tempo no Brasil, o que soa como uma alternativa vaga, prenhe de conteúdo mais substancial, como ironizou o ex-ministro Ciro “pavio curto” Gomes.

Aécio não vai apelar para o receituário defendido por Tancredo. Os tempos eram outros e a conjuntura atual pede uma mensagem atualizada. Tancredo falava em democracia mais ampla e em justiça social efetiva, com redistribuição de renda e correção de desigualdades que durante muito tempo tornaram o Brasil uma espécie de Belíndia – mistura de Bélgica com Índia. Há problemas recorrentes, do tempo de Tancredo, que não foram equacionados, inclusive, porque a tarefa de construir o país é imensa, não se esgota num ciclo apenas. Mas será difícil ao candidato tucano negar os avanços implementados no reinado do PT, primeiro com Lula, na seqüência, agora, com a presidente Dilma Rousseff.

Mentor, como governador de Minas Gerais, do que ele denominou de choque de gestão, baseado na eficácia do poder público para atender demandas populares, Aécio cultua a modernidade como uma obsessão. Se suas bandeiras ficarem centradas somente nisso, não estará fazendo diferente. A MP dos Portos, que custou árdua negociação ao governo da presidente Dilma junto ao Congresso Nacional, acena para a modernização e para a eficiência dos serviços essenciais ao mesmo tempo. A presidente tem se empenhado para ajustar as bandeiras petistas às exigências cruciais do presente. Ou seja, o governo da mandatária procura tornar-se contemporâneo, distanciando-se cada vez mais do Brasil arcaico em que predominava a improvisação nas políticas públicas, em paralelo com o faraonismo de obras que geraram apenas desperdício.

O tema em voga, hoje, na atmosfera política brasileira, é o da inclusão social. Equivale dizer: a incorporação de um contingente cada vez mais expressivo de famílias carentes às políticas públicas montadas em laboratórios oficiais. A inclusão significa geração de emprego e de renda para todos, oportunidades iguais de acesso aos mecanismos produtivos e aos bens culturais para os gêneros que compõem a radiografia da sociedade brasileira. O combate ao analfabetismo tem de vir acompanhado do combate sem tréguas aos índices de mortalidade infantil. Saúde e Educação tornam-se irmãs siamesas no elenco das prioridades que a população almeja, para o seu bem estar e felicidade.

A discussão sobre se o Bolsa Família acabou ou não dando certo está ultrapassada pelos indicadores oficiais apurados. Agora mesmo, um levantamento demonstra que parcelas significativas de crianças e adolescentes pobres, que se inscreveram no programa de transferência de renda do governo federal, estão obtendo os melhores índices de aprovação em faixas do ensino público. É um dado evolutivo, que não pode ser questionado sob pena de partir-se para brigar com os fatos, o que não é aconselhável nem pertinente. Por outro lado, o Bolsa Família já serve de modelo de exportação, acolhido em países que ainda não encontraram o ovo de Colombo para fazer deslanchar programas de desenvolvimento na esfera social e vieram ao Brasil buscar inspiração no que está sendo feito. Um exemplo mais do que elucidativo sobre o alcance do programa.

Não será fácil para Aécio, mesmo driblando a contestação a programas do governo Dilma, bater a presidente nas urnas. Nem para ele nem para qualquer outro que se apresente no páreo. De alguma forma o Brasil melhorou, e a tendência do eleitorado é investir fichas no que está produzindo resultados em seu favor. Isto não quer dizer que Aécio não deva ser candidato ou que Dilma tenha que ser ungida como candidata única por antecipação. Campanhas são mescladas por intercorrências que fogem do script original, por oscilações conjunturais que atrapalham quem está no poder. A referência que se faz, aqui, é à extrema dificuldade que Aécio terá para bater a atual presidente nas urnas em 2014. Mas política continua sendo uma atividade dinâmica, vale relembrar, claro.