Quando o PT foi convidado para participar do segundo governo de RC logo após a vitória de outubro não houve muita discussão. O partido se reuniu logo após as eleições, avaliou o quadro, ratificou a aliança e indicou os nomes e as secretarias que interessavam; e deixou Ricardo Coutinho à vontade para indicar quem desejasse e no lugar que bem entendesse. E RC fez isso e, como é do seu estilo, montou o governo sem prestar muito atenção aos interesses dos aliados, especialmente PT e PMDB, a quem agradeceu efusivamente o apoio logo após a confirmação da vitória que o levou a um segundo mandato. Depois de passada a emoção, montou um governo à sua imagem e semelhança.
Insatisfações à vista
Não é preciso ser muito observador para perceber a insatisfação desses partidos com o naco que lhes é devido pelo apoio que deram à reeleição de RC. Especialmente o PT. Nunca é demais lembrar que em fins de junho do ano passado, RC penava até para montar sua chapa. Não tinha candidato a vice e o candidato ao Senado, o então Vice-Governador, Rômulo Gouveia, sofria sem apoio para suas pretensões.
Não é cabível dizer que foi o apoio do PT o fator determinante para que RC chegasse à vitória, mas é inquestionável o papel que teve o partido de Luciano Cartaxo para dar o impulso inicial que RC precisava para se inserir na disputa: o apoio do PT não apenas deu à coligação ricardista um candidato ao Senado competitivo, como acrescentou tempo de TV, ampliou o apoio na estratégica João Pessoa, incorporou militância, criou uma ponte com a candidatura de Dilma Rousseff, que viria a ter quase 70% dos votos no segundo turno na Paraíba. Além de tudo isso, esvaziou por completo a candidatura do PMDB ao governo. Tudo isso deu ânimo para RC iniciar uma contraofensiva que o levaria a mais uma inesperada vitória. Enfim, o apoio do PT tirou RC do gueto do apoio de Efraim Moraes.
O futuro da aliança PT-PSB está
em João Pessoa
Todas essas questões estão relacionadas à equação das disputas de 2016. Algumas questões precisam ser resolvidas para que a grande aliança estabelecida em 2014 seja mantida. Por exemplo. Como ficará o PSB, o partido mais poderoso do estado, hoje? Se a aliança PSB-PT-PMDB for mantida a consequência imediata é que o partido do governador ficará fora da disputa nas principais cidades do estado, João Pessoa e Campina Grande. Especialmente em João Pessoa, onde nasceu e floresceu o ricardismo e de onde despontam seus principais quadros. Uma compensação mais do que natural que o PSB poderá exigir para aceitar essa composição é indicar os vices, tanto de Cartaxo quanto de Veneziano. Nesse caso, olhando para o caso mais complicado que é João Pessoa, é preciso resolver a seguinte equação: com o vice-prefeito de João Pessoa, RC ficaria no comando absoluto de sua sucessão, já que Luciano Cartaxo não poderia ser candidato sem entregar ao PSB a Prefeitura de João Pessoa, o que aumentaria muito o poder de fogo do governador. Ou seja, Cartaxo e o PT ficariam à mercê dos objetivos de RC em 2018 e perderiam grande parte de sua iniciativa política.
Portanto, não é exagero considerar que na raiz dessa tensão latente entre PSB e PT, que ainda não é perceptível, mas que tende a se acentuar quanto mais 2015 avança, esteja o que cada partido projeta para 2016 e 2018. Não é por acaso que o governador começa a falar de “novos quadros”. Segundo ele declarou durante o ato de sua posse para o segundo mandato, “a boa política precisa de novos quadros, de renovação.” Ato contínuo o nome de um “quadro técnico” (João Azevedo) começa a circular como possível nome do PSB para a Prefeitura de João Pessoa.
Eu, particularmente, acredito que se trata de um tencionamento cuja intenção verdadeira seja abrir caminho para RC indicar o candidato a vice-prefeito de Luciano Cartaxo, o que envolveria menos riscos em 2016 e atenderia aos verdadeiros objetivos de RC, que devem estar situados dois anos depois de 2016. Raciocinemos. Não faz sentido para o governador romper a aliança com o PT na Paraíba, aliança que tem desdobramentos nacionais, para aventurar-se numa disputa cujos riscos de nova derrota em João Pessoa são muito reais. O problema é que a manutenção dessa aliança tem um alto custo político para os projetos futuros do PT e de Luciano Cartaxo. E é esse o fator real que poderá levar a um rompimento. Se a aliança com o PSB assegura quase que como uma certeza a reeleição do atual prefeito pessoense, ela por outro lado impede que o PT mantenha-se no controle dos seus destinos político.
Ricardo Coutinho avança suas peças sobre o tabuleiro e vai insinuando um ataque ao rei de Cartaxo. Muitos lances estão sendo preparados de ambos os lados, podem ter certeza.