Tempo de restaurar

Restaurantes enfrentam desafios para recuperar economia do setor durante a pandemia: “É preciso ser inovador, trazer segurança e estar atento aos custos”, aponta Wilson Moraes

Restaurantes. Eles surgiram em Paris, no final do século 18. A ideia era servir caldo restaurador para doentes e debilitados. Daí vem o nome restaurante. E durante a pandemia do novo coronavírus, os restaurantes terão que resgatar esse poder, mas agora para restaurarem a si mesmo após meses a portas fechadas.

 

Restaurantes. Eles surgiram em Paris, no final do século 18. A ideia era servir caldo restaurador para doentes e debilitados. Daí vem o nome restaurante. E durante a pandemia do novo coronavírus, os restaurantes terão que resgatar esse poder, mas agora para restaurarem a si mesmo após meses a portas fechadas.

O ramo alimentício vai precisar restaurar a economia do setor, que perdeu 30% dos cerca de 1 milhão de estabelecimentos existentes no país antes da pandemia. Eles fecharam as portas de forma definitiva, segundo revela estudo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) divulgado na primeira semana de outubro.

Em João Pessoa, cerca de 20% dos estabelecimentos foram fechados, segundo estimativa da Abrasel Paraíba. Antes da pandemia, a capital tinha, em média, 4 mil estabelecimentos.

Wilson Moraes, membro do Conselho Fiscal da Abrasel Paraíba, afirma que essa realidade ainda pode piorar: “Restaurantes com mais de 20, 30 anos de atuação foram obrigados também a fecharem suas portas. E, infelizmente, a gente ainda não terminou de contabilizar e ainda devemos sofrer mais perdas no setor. Alguns outros restaurantes vão deixar de existir daqui para o final da pandemia”.

Com a surpresa de lockdown que deixou o mundo atônito, os restaurantes não tiveram tempo de reação, o que refletiu de forma direta no armazenamento de alimentos: “É preciso levar em conta que diferente dos outros setores, o setor de alimentação trabalha com produtos perecíveis e como foi pego de surpresa pelo fechamento e pela pandemia, muitos restaurantes estavam naquele momento com até 100 mil reais de mercadoria em estoque. Por isso que, no início da pandemia, se viu muita promoção nos aplicativos de entrega de alimentos para dar vasão a esse estoque. Mas não foi suficiente, os donos de restaurantes sofreram perdas significativas”.

O nível de vendas também caiu e registrou uma baixa de 40% em relação ao mesmo período, entre setembro e outubro, do ano passado.

Na tentativa de diminuir o impacto, os restaurantes contam com programas de apoio: “O Governo Federal possibilitou o acesso ao crédito mais barato, que é o Pronampe, sem burocracia, e isso deu sobrevida a vários empreendimentos. De uma certa forma, nós fomos amparados, sim”.

A pandemia também colocou em risco o sustento de muitos brasileiros que trabalham nesse setor. O mesmo estudo da Abrasel aponta ainda que o número de empregos formais no setor caiu de 3 milhões para 1 milhão. Se incluir os postos informais, o total de empregados baixou de 6 milhões para 4,5 milhões.

Ainda vai levar um tempo

A estimativa da Associação Nacional dos Restaurantes (ANR) é que o setor de restaurantes no Brasil só vai recuperar o nível de vendas que tinha em 2019, lá para 2022.

O ritmo de recuperação varia de acordo com o tipo do restaurante, a sua localização e o público-alvo, é o que diz a Abrasel.

Restaurantes que tem como público as classes A e B enfrentam mais dificuldades, apresentando quedas de 65% a 70% em vendas, quando comparados com o período anterior a pandemia.

Por outro lado, restaurantes voltados para classes C e D se recuperam de forma mais rápida, chegando a até 80% das vendas do ano passado. Os dados refletem o dia a dia e como o isolamento nessas classes é mais complicado, por consequência, foi menor.

Daí vem a importância dos restaurantes como espaços facilitadores da rotina. Já imaginou ter que almoçar em casa todos os dias, em meio aos turnos de trabalho, com apenas 1 hora de almoço?

Aqueles que se adaptaram ao delivery estão em melhor situação, com 50% a 70% do ritmo de vendas de 2019 já neste ano, Wilson Moraes diz que as entregas mantiveram vivas as esperanças de muitos restaurantes: “O delivery foi uma tábua de salvação para a maioria dos restaurantes nesse tempo de pandemia. Para quem ainda não tinha o delivery bem postado, já atuante, foi muito difícil, mas ainda assim foi uma saída”.

As medidas para os restaurar o setor alimentício devem permear pela inovação, segurança e controle de custos, garante Wilson Moraes: “Esse período une diversos fatores de dificuldade: a pandemia e uma inflação altíssima de alimentos. O dono de restaurantes para conseguir se manter, precisa ser inovador e trazer segurança para seu cliente, que é uma nova medida central para escolha do restaurante pelo cliente. Mas sobretudo é preciso estar atento aos seus custos, porque é um período de muita instabilidade”.

É sobre memória

Com os cuidados necessários, os restaurantes vão retomando a rotina. E seguindo as regras, para que o sabor especial, que só esses espaços de interação únicos oferecem, continue sendo apreciado.

Um espaço de comemorações e estreitamento das interações sociais teve que dar uma longa pausa e não pôde receber mais os abraços, agora a regra é distanciamento. Os restaurantes tiveram que se adaptar à nova realidade para não perderem o seu sentido social.

Wilson garante que, mesmo diante das dificuldades, os restaurantes ainda são um dos locais mais seguros, por conta das rígidas normas de higiene: “O nosso setor é um dos mais seguros para frequência dos consumidores, nós estamos adotando diversas medidas sanitárias, de distanciamento, de assepsia. Os clientes podem ficar tranquilos de que estão em um ambiente seguro”.

Alguns restaurantes constituem um símbolo de identidade, de um bairro ou de uma cidade. Assim como de memórias pessoais e culinária. Quando um restaurante fecha as portas de forma definitiva também se perde uma parte dessa história.

Fonte: Samuel de Brito
Créditos: Polêmica Paraíba