negligência

Por não ter cumprido carência, criança de três anos morre após sofrer AVC e ter atendimento recusado por hospital e plano de saúde

Uma criança de apenas três anos morreu após ter a internação no Hospital João Paulo II, em João Pessoa, negada pelo hospital e pelo plano de saúde Smile, pelo fato de a carência de seis meses do plano de saúde não ter sido cumprida integralmente. Ela estava inscrita no plano havia pouco mais de cinco meses. De acordo com exames realizados pelo SUS, após a negativa do plano, a pequena Alice sofreu um AVC hemorrágico. O caso ocorreu no último sábado (18) e a menina morreu na sexta-feira (24).

O padrasto da criança, Leandro Gonzalez, e a mãe dela, Jéssica Bruna, pretendem processar o plano de saúde e o hospital por negligência.

Leandro Gonzalez relatou que na sexta-feira (17) a menina tinha pedido para dormir na casa dos avós. Na manhã do sábado (18), ele e a esposa, Jéssica Bruna, a mãe de Alice, foram acordados com uma ligação dos avós da menina, avisando que ela havia acordando gritando, com fortes dores de cabeça, por volta das 5h da manhã. Alice começou a ter convulsões e foi levada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

O casal foi encontrar a criança na UPA, onde Leandro relata que ela foi muito bem atendida, mas a médica alertou da necessidade de transferi-la para um hospital. Ao ser informada de que a menina possuía o plano de saúde Smile, a médica telefonou para o Hospital João Paulo II, avisando que estava enviando a paciente.

Foi aí que a mãe de Alice recebeu uma ligação do plano, avisando que o atendimento da menina não havia sido autorizado, pois a carência do plano é de seis meses e ela havia contratado há pouco mais de cinco. Leandro Gonzalez contou ainda que, na contratação do plano, eles foram informados de que a carência era de três meses, e ninguém citou esse período de seis meses exigido em alguns casos.

Na ligação, porém, Jéssica Bruna foi informada de que o atendimento poderia ser feito se a médica escrevesse e assinasse um documento atestando a urgência do problema. Acreditando que tudo seria resolvido dessa forma, eles seguiram para o hospital, onde o atendimento à criança foi negado.

De acordo com o padrasto da criança, a médica que deveria avaliar Alice se incomodou pelo fato dele estar filmando o atendimento com o celular e se trancou em uma sala sem olhar a criança. Eles passaram cerca de uma hora no hospital e não foram atendidos.

Próximos passos
Foi a médica da UPA, que ainda estava acompanhando a criança, que conseguiu por meio de um amigo pessoal, que a menina fosse recebida no Hospital Universitário Lauro Wanderley para realizar uma tomografia. O exame indicou que ela teve um AVC hemorrágico e ela foi enviada ao Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, onde chegou por volta das 13h.

Na noite do mesmo dia, Alice, que até então era uma criança perfeitamente saudável, passou por uma cirurgia para retirada de metade do crânio, porque o cérebro estava muito inchado. Na quarta-feira (22), os médicos afirmaram que ela teve morte cerebral e, na sexta (24), os aparelhos foram desligados.

Agora a mãe e o padrasto da criança querem processar o hospital e o plano de saúde por negligência. “Todo mundo sabe que em caso de AVC cada minuto conta. Se o atendimento tivesse sido mais rápido talvez Alice estivesse aqui, se recuperando. Se o hospital tivesse pelo menos nos orientado, mesmo que não internasse, mas se tivesse orientado, não teríamos perdido tanto tempo”, disse Leandro.

Ele informou que no sábado (18) à noite, o plano de saúde entrou em contato com a família novamente, oferecendo a internação e toda assistência para a criança. “Eles devem ter visto a besteira que fizeram ao saber que ela teve um AVC”, comentou Leandro. Porém, não havia mais sentido tirar a menina do hospital onde ela estava internada.

Bruna Jéssica e Leandro Gonzalez esperam que o caso de Alice sirva de exemplo para que situações semelhantes não voltem a ocorrer. “Dinheiro nenhum do mundo vai trazer Alice de volta, o que a gente quer é que outros pais de família não precisem passar por isso. Nós acreditamos que essa foi a missão dela”, disse Leandro.

Sem resposta – por meio de nota encaminhada à imprensa, a direção do hospital João Paulo II negou que tenha cometido irregularidades no atendimento à criança. Segundo a instituição, “quando ocorrida a chegada da criança neste hospital, não havia emergência, e se tratava de uma solicitação de internamento eletiva para investigação da hipótese de diagnóstico realizada na UPA”.

Leia abaixo.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

João Pessoa, 27 de abril de 2020.

O Hospital João Paulo II vem a público esclarecer as deturpadas informações
veiculadas nas redes sociais por parte do senhor Emerson Machado em seu perfil
“@mofiparaiba”, que tentam levar a crer que o hospital negara atendimento emergencial
a uma criança.

Inicialmente, informamos que o Hospital João Paulo II segue estritamente as
determinações emanadas das autoridades competentes. Quanto ao caso, informamos que
a criança nos foi encaminhada pela UPA Oceania, por meio de unidade móvel,
acompanhada por equipe médica de apoio, no colo de sua mãe e com hipótese
diagnóstica de meningite.

Naquela ocasião, o quadro de saúde era estável, sem febre, sem convulsão e sem
necessidade de oxigenoterapia, segundo informações da médica assistente da unidade
móvel para a médica plantonista do Hospital João Paulo II.

É importante destacar que, quando ocorrida a chegada da criança neste hospital,não havia emergência, e se tratava de uma solicitação de internamento eletiva para
investigação da hipótese de diagnóstico realizada na UPA, situação para a qual a
paciente estava sob período de carência junto a seu plano de saúde.

Considerando o quadro estável da criança, a ausência de emergência, bem como
que a paciente estava em período de carência, esta instituição diligentemente realizou o
encaminhamento para o hospital de referência para tratar doenças infectocontagiosas, o
Hospital Universitário. Este, por sua vez, ao descartar, por meio de exames, a hipótese
diagnóstica anterior, redirecionou a paciente para o Hospital de Emergência e Trauma
Senador Humberto Lucena, referência no tratamento da patologia detectada pelos
exames.

A criança não permaneceu nas dependências do Hospital João Paulo II por mais
de 30 minutos e, durante todo o processo, entre a entrada na UPA Oceania até a entrada
no Hospital de Trauma – Senador Humberto Lucena, a paciente esteve assistida pela
médica e equipe da unidade móvel.

Portanto, restabelecendo a verdade, destacamos que a criança foi corretamente
encaminhada para hospital de referência, recebendo atendimento, realizando exames e
tratamento adequados. Entretanto, quase uma semana depois, infelizmente, ela veio a
falecer, contudo sem qualquer influência da conduta desta instituição, que buscou
salvaguardar a vida da paciente.
Lamentamos e nos solidarizamos com a família da paciente pela perda
inestimável.
Nos colocamos à disposição da família para eventuais esclarecimentos.

Hospital João Paulo II

Fonte: Com ClickPB
Créditos: Com ClickPB