A FOME NAS RUAS

INVISÍVEIS: Conheça a vida de quem sobrevive pedindo nas ruas de João Pessoa

A vida nas ruas é difícil e perigosa, seja para quem mora nas calçadas, ou quem precisa passar o dia andando vagando por elas, de semáforo em semáforo tentando sobreviver.

A vida nas ruas é difícil e perigosa, seja para quem mora nas calçadas, ou quem precisa passar o dia andando vagando por elas, de semáforo em semáforo tentando sobreviver.  Arriscado, cansativo e triste seriam palavras certas para definir como é o caminho dessas pessoas.

Não é preciso andar muito por João Pessoa para se deparar com diversas pessoas em situação de rua. Nos sinais é possível encontrar diversos venezuelanos, que pedem ajuda. Eles carregam no colo os filhos, e nos olhos a tristeza de quem fugiu da fome, mas precisa continuar pedindo para sobreviver.  Em outros sinais encontramos homens que limpam carros. Muitos deles são ex- presidiários que buscam nas ruas o refúgio que a sociedade não dá, ou o dinheiro para sustentar seus vícios. São necessárias politicas públicas essas pessoas que se tornaram a cara da cidade. A face que muitos querem ocultar.

A vida nas ruas

Nesse ano a Justiça determinou que a prefeitura de João Pessoa disponibilizasse 400 vagas para abrigar pessoas em situação de rua. Essa medida foi tomada para evitar a propagação da Covid-19, oferecendo mais segurança para eles. Segundo a procuradoria geral do município de João Pessoa, a capital tem cerca de 300 pessoas em situação de rua.

Marcos Antônio faz parte desse número. Ele tem 45 anos, mas perdeu as contas de quantos desses já passou na rua. O morador de rua que hoje tenta ganhar dinheiro como “flanelinha”, já teve casa. Lá no Bairro do Roger ele morava com a família, mas foi o pai que ensinou que pedir na rua era uma boa saída. Depois de aprender a pedir, ele saiu de casa. Foi aí que vieram os vícios e a cadeia. Ele não consegue nem lembrar-se quanto tempo passou na preso, nem por onde anda sua família.

“A vida de quem vive na rua é perigosa, todo dia tem alguém de olho na gente, principalmente de quem játirou cadeia. Temos que ficar preparados, é olho por olho.” diz ele.

Marcos Antônio, flanelinha de 45 anos.

O caos da rua já afetou Marcos de diversas formas. A aparência já não condiz com a idade. Pouca sanidade ainda lhe resta. Mesmo com tanto sofrimento, e não tendo onde morar, ele não conseguiu vaga em nenhum abrigo para dormir. É na insegurança da praça Castro Pinto que ele se abriga nas noites de frio e calor.

Não muito longe dessa realidade, mas também pelas ruas de João Pessoa é possível encontrar Manuel Ravier. Um venezuelano que chegou em João Pessoa em junho desse ano. Passou por diversos estados até chegar aqui. A viagem foi longa e cansativa. Aqui ele encontrou abrigo na casa da irmã, no Castelo Branco; ela é casada com um paraibano e aguardava pela chegada do irmão. O jovem de 17 anos  passa o dias nos semáforos da capital. Pedir é a única saída para quem saiu da Venezuela sem conseguir estudar ou se capacitar. Lá ele morava com os pais, mas só ele conseguiu viajar. O custo para sair do pais é muito alto. Seu pai é pescador, e o dinheiro que ganha não é suficiente para fugir da fome. Sobreviver lá enquanto a família tenta arrecadar aqui, é a única solução. Manuel conta que era praticamente impossível comprar carne, era preciso ter muito dinheiro.  E dinheiro na Venezuela é para poucos.

Manuel Ravier, venezuelano que pede nos semáforos de João Pessoa.

Ele ainda não aprendeu a falar português, mas com uma placa escrita “Sou venezuelano preciso de ajuda” ele consegue algum dinheiro para ajudar nas despesas. Com um presidente ditador essa é a saída que muitos jovens venezuelanos encontram. “O presidente Maduro não é bom, ele não quer ajudar a população.” diz.

Assim como Marcos Antônio e Manuel, existem centenas de pessoas vagando por aí. Eles marcam cada pedaço das cidades com suas dores, lutas e traumas. A esperança deles é que em algum momento encontrem a ajuda que tanto precisam, seja em João Pessoa, Manaus ou Venezuela. O sonho é o mesmo, ele querem apenas se tornar visíveis.

Fonte: POLÊMICA PARAÍBA
Créditos: Rebeka Melo