Nesta Segunda-feira

EM JOÃO PESSOA: LGBTs fazem doação coletiva de sangue para celebrar decisão de inclusão entre doadores

Esta segunda-feira(29), foi um dia importante para o Movimento LGBTQIA+ paraibano. Diversas pessoas de movimentos sociais e LGBTs foram até o Hemocentro de João Pessoa para realizar uma doação de sangue coletiva e simbólica com o objetivo de sensibilizar e mobilizar a sociedade em geral.

Até bem recentemente, pessoas não heterossexuais eram impedidas de doar, mesmo com grande necessidade dos hemocentros. Após decisão histórica do STF (Superior Tribunal Federal), que no dia 8 de maio declarou inconstitucional a proibição da doação de sangue por gays, bissexuais, travestis e transexuais, a Anvisa revogou a portaria proibitiva que impedia a doação.

Dia do Orgulho LGBTQI+

No último domingo (28) foi celebrado mundialmente o dia do Orgulho LGBTQI+, quando travestis, gays, lésbicas e prostitutas se rebelaram contra a violência policial no bar Stonewall, em Nova Iorque. Para ressaltar a data, o movimento LGBTI+ da Paraíba lançou, por meio de uma live, a campanha solidária “Doe amor, salve vidas”.

A campanha estadual terá duração de um mês, encerrando-se dia 29 de julho, e pretende convidar todxs LGBTQIA+ para participar. Para isso é necessário apenas se dirigir ao hemocentro mais próximo e informar o número 465 – Campanha Movimento LGBT da PB.

 

 

O ato também faz parte da celebração da Semana do Orgulho e Resistência LGBTQI+ e tem a realização de: Movimento do Espírito Lilás (MEL), Associação das Travestis e Transexuais da Paraíba (ASTRAPA), Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais Maria Quitéria, PETRIS – Coletivo de Homens Trans da Paraíba, Levante Popular da Juventude, Coletivo LGBT Sem Terra do MST da Paraíba, Grupo Irakitan de Conde, Movimento de Bissexuais (MOVBI), Coral de Sapé, MOAR, Grupo LGBT de Guarabira, Movimento LGBT de Cajazeiras, Carolinas de Campina Grande, ONG Iguais e (ARTGAY) Articulação Brasileira de Gays.

Cleber Ferreira Silva, membro do Movimento do Espírito Lilás enxerga os resquícios de um passado cheio de preconceito: “A gente sabe que ainda existe um rótulo muito vigente e moralista de que LGBT é grupo de risco, resquícios do preconceito em torno da contaminação da AIDS. Então nos anos 90 tivemos que derrubar a AIDS no seu codinome de câncer gay, e a partir de hoje estamos derrubando resquícios desse câncer rosa que o pessoal associa à imagem do gay masculino, a imagem do LGBT como um todo, homem trans gay, bisexual, mulher trans, mulher lésbica, mulher bissexual. Então a gente tem nisso aí uma importância tremenda porque só em você não ser barrado no Hemocentro por ser homossexual, ou pessoa trans, ou bissexual é uma grande conquista”

Marli Soares, do grupo Maria Quitéria de Mulheres Lésbicas e Bissexuais (GMMQ) conta que a maioria dos impedimentos para doação era com os homens gays e travestis: “As mulheres nem tanto, elas passavam, não eram proibidas, mas se fosse uma mulher masculinizada eles não deixavam ela doar”.

Para Ciro Caleb, do Levante Popular da Juventude, esta é uma ação da justiça em favor dos direitos humanos: “A decisão do STF legitima uma ideia de intolerância à LGBTfobia. Porque se você diz que LGBTs não podem doar sangue pelo simples fato de amar e se relacionarem com pessoas do mesmo sexo você coloca as pessoas abaixo da própria humanidade. Você não as inclui como sujeitos de direito, como cidadãos, como humanos. Então, por isso a importância de estarmos nesse mês realizando essas atividades, e termos sobretudo orgulho no contexto de crise política, sanitária, econômico e social, crise que retira os direitos dos mais pobres e daqueles que sempre são os mais de marginalizados, que é a comunidade LGBT”, declara ele.

Fernando Luiz, gerente executivo LGBT do governo estadual, foi um dos primeiro a doar após a portaria da Anvisa: “Eu tentei por muito tempo fazer doação e toda vez era impedido porque ser LGBT, homem gay, que faz sexo com outro homem, era proibido. Quando houve a resolução do STF e em seguida a reunião do governo com o Hemocentro, e foi decidido que o Hemocentro iria acatar a decisão do STF, então a reunião foi de manhã, e às 13h eu já estava lá para doação. Este é um ato de cidadania e dignidade, é um direito humano doar e receber sangue”

Max Castelo Branco, do Coletivo LGBT Sem Terra do MST da Paraíba, ressalta o sangue o como parâmetro de igualdade humana: “Essa ação inaugura uma conquista de muitos anos de luta onde nós LGBTs sofremos o preconceito por parte de protocolos dos órgãos de saúde que nos impedia dessa ação; doar sangue é uma ação de solidariedade e de amor à vida. Então para esses protocolos o nosso sangue era inapto para salvar vidas, e no momento em que o STF diz que nós LGBTQI+  podemos doar sangue eles estão retirando um rótulo, uma marca ruim dos nossos corpos, do nosso sangue, e estão nos colocando em pé de igualdade com qualquer outra/o brasileiro/a, independente da sua orientação sexual e identidades. Eles estão dizendo que sim, que nosso sangue também salva vidas”, destaca ele.

Fonte: Brasil de Fato
Créditos: Cida Alves e Joel Cavacante