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DAS ESTRELAS AO ABANDONO: Conheça a história do observatório astronômico paraibano que contribuiu para a conquista da Lua

João Pessoa já ostentou um dos maiores observatórios astronômicos da região Nordeste

Você sabia que na Paraíba tinha um Observatório Astronômico? Isso mesmo. Em João Pessoa esse observatório contribuiu para a conquista da Lua em 1969, mas atualmente o ponto de observação das estrelas está abandonado. Construído em 1967 pela Fundação Padre Ibiapina, o Observatório Astronômico da Paraíba funcionava na sede da instituição localizada na Rua 13 de Maio, no Centro de João Pessoa.

João Pessoa já ostentou um dos maiores observatórios astronômicos da região Nordeste. A cúpula que abrigava um telescópio de 200mm x 1800mm de distância focal ainda está lá no mesmo lugar onde foi construída e mesmo abandonada há 46 anos ainda pode ser vista em meio aos prédios bem no centro da cidade. Informações dão conta de que as lentes do equipamento foram encomendadas a Valentim Bardus, responsável pelas lentes dos mais importantes telescópios em operação no Brasil, na época.

Tudo começou quando o professor Afonso Pereira, conhecido educador paraibano, convidou o astrônomo cearense e também professor Rubens de Azevedo para dirigir e implantar o empreendimento no estado. Azevedo não só foi o responsável pelo desenho da planta do observatório, como também pela elaboração de um mapa lunar brasileiro com 80 centímetros, que atualmente se encontra em exposição no Museu Nacional da Astronomia.

Sucesso garantido

Entre 1971 e 1973, o Observatório Astronômico da Paraíba era um sucesso, atraindo a atenção da mídia local, nacional e internacional. Era um tempo de grande reconhecimento tanto do Observatório quanto da Associação Paraibana de Astronomia, que surgiu junto com o observatório, responsável pelo primeiro Curso Brasileiro de Astronomia pelo Rádio, Curso de Astronomia Teórica e Instrumental, o primeiro Curso Infantil de Astronomia e Astronáutica, assim como palestras e conferências em colégios e corporações.

De acordo com as informações o OAPB era mantido pelos intercâmbios e convênios assinados com o Governo do Estado. Na transição dos governos Ernani Sátiro (1971-1975) e Ivan Bichara (1975-1978) esses convênios e Intercâmbios foram cancelados.

O Observatório Astronômico da Paraíba deixou de vasculhar os céus da Capital em 1975. Houve uma tentativa de reabertura frustrada em 1991, quando foi restaurado, mas não resistiu e foi fechado novamente depois que vândalos invadiram o local e destruíram tudo.

Ida à Lua

Há 52 anos, Neil Armstrong (1930-2012) e Buzz Aldrin, hoje aos 91, davam um “pequeno passo para o homem e grande passo para a humanidade”. A missão Apollo 11 marcou a história da ciência com a ida de homens à Lua. O módulo lunar Eagle partiu da Terra na noite do dia 20 de julho de 1969 e o pouso na Lua aconteceu cerca de seis horas depois, já na madrugada do dia 21. Neil Armstrong foi o primeiro a caminhar sobre o satélite natural. É ele o autor da célebre frase citada no início deste texto. Cinco décadas depois, o pensamento e o legado da Apollo 11 seguem inquestionáveis.

A Paraíba e a conquista da Lua 

Nos anos que antecederam a viagem tripulada à Lua, a NASA criou um programa que convidava astrônomos de todo o mundo a monitorar a Lua, o Programa LION (Lunar International Observers Network). O objetivo era identificar os chamados Fenômenos Transitórios Lunares (TLPs na sigla em inglês), que são fenômenos luminosos que ocorrem na Lua e podem ser percebidos da Terra.

Boa parte desses fenômenos estão associados a impactos de pequenos fragmentos de rocha com a superfície lunar, mas existem alguns deles que até hoje não tem explicação científica. E para quem pretendia enviar pessoas para a Lua e trazê-las de volta com segurança, era preciso conhecer ao máximo os fenômenos que ocorriam por lá.

No final dos anos 60, começou a funcionar na Rua 13 de Maio, no Centro de João Pessoa, o Observatório Astronômico da Paraíba, e de lá, o professor Rubens de Azevedo, um dos fundadores da Associação Paraibana de Astronomia, observava constantemente a Lua e reportava os fenômenos detectados à NASA. Ele era um dos astrônomos credenciados no Programa Lion.

Na noite de 19 de Julho 1969, enquanto a Missão Apollo 11 levava o homem para a Lua, Rubens percebeu em nosso satélite natural, um brilho anormal na Cratera Aristarco. Por meio de telégrafo, o relato foi enviado diretamente para a NASA, que repassou uma informação para os astronautas da Apollo 11 e de lá, diretamente da órbita lunar, o astronauta Buzz Aldrin confirmou uma anomalia observada por Rubens de Azevedo aqui da Paraíba.

Rubens era um exímio desenhista, selenógrafo (que estuda a Lua) e um brasileiro do qual todos deviam se orgulhar. Em 1963, durante uma observação de um Eclipse, ele descobriu um vale, um acidente geográfico que ainda não era documentado. Em homenagem a Rubens, astrônomos chilenos que também observaram uma formação, propuseram chamá-la de “Vale Azevedo”. Mas Rubens declinou da homenagem e pediu para que ele fosse chamado de “Vale Brasiliensis”. Assim, Rubens de Azevedo deu de presente um pedaço da Lua para todos os brasileiros.

Futuro

Apesar dos avanços tecnológicos, não há viagem à Lua desde a missão Apollo 17, ocorrida de 11 a 14 de dezembro de 1972. Os altos custos teriam sido a motivação disso. Porém, não houve desinteresse na exploração da Lua. A NASA divulgou que pretende enviar uma equipe em 2026. Mas antes, precisa haver a implementação do Portal de Plataforma Orbital Lunar, espaçonave que funcionará como lar temporário e escritório para os astronautas.

Chamada de Gateway, a espaçonave terá salas de estar e laboratórios de ciência e pesquisa. Ela será a base da NASA para expedições de astronautas na Lua e futuras missões humanas a Marte. A NASA planeja construir o Gateway com apenas cinco ou seis lançamentos de foguetes.

Quem foi Rubens de Azevedo

O professor Rubens de Azevedo foi um dos grandes personagens da história científica cearense. Poeta, pintor, desenhista, historiador, geógrafo, escritor e astrônomo, destacou-se em vários ramos profissionais. Porém, a ciência sempre foi sua grande paixão, sobretudo a Astronomia, a qual dedicou-se muito em seus estudos. Filho do pintor e poeta Otacílio de Azevedo, ainda na infância e adolescência descobriu fascinação pelas estrelas e astronomia.

Em 1947, fundou, na casa do seu pai, em Fortaleza (CE), a Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia (SBAA), a primeira associação do gênero criada no Brasil. No teto de sua casa construiu o Observatório Popular Flammarion, onde realizou notáveis desenhos do cometa 1948 L.

Em 1949, conheceu aquela que seria sua esposa e fiel companheira, Jandira Carvalho de Azevedo, escritora, jornalista e poetisa. A “parceria” Rubens e Jandira foi decisiva nas obras de ambos. Residiram em São Paulo (SP), Natal (RN), João Pessoa (PB) e voltaram à Fortaleza (CE). Não tiveram filhos. Na capital paulista, fundou a Sociedade Brasileira de Selenografia e participava do círculo estreito de amadores que frequentava o Observatório do Capricórnio, fundado por Jean Nicolini (1922-1991), em 1948. Foi uma época extremamente fértil para Rubens. É desta época os livros “Selene, a Lua ao Alcance de Todos” (1959) e “Lua, Degrau para o Infinito” (1962).

Rubens de Azevedo morreu em 17 de janeiro de 2008 aos 86 anos.

 

* com informações do Jornal Contraponto e Jornal da Paraíba

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba