FEIRA

Campina Grande pode hoje se tornar patrimônio histórico e cultural do Brasil

Nesta Quarta-Feira (27), o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural delibera, em sua 87ª reunião, sobre o Registro da Feira de Campina Grande, a ser reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial

“(…) Na nossa Feira Central
Tem de tudo que se queira
Se você quiser comprar
Coisa importante ou besteira
Não procure em outro canto
Se não encontrar na Feira.

Lá tem pegador de brasa,
Arreio, ferragem, sela,
Pote, panela de barro,
Penico, alguidar, tigela,
Chapéu de couro e de palha,
Pilão, esteira e gamela.

(…) Compra peixe seco e fubá,
Fava feijão macassar,
Espora, amarra, chocalho,
Arremedo de caçar
É como estou lhes dizendo,
Tem tudo, é só procurar.”

Campina dos meus amores – Manoel Monteiro

 

– Caiu aê, caiu aê, o preço do caju caiu aê. Dois reais a bacia de caju, acerola novinha-aê! Um é dois, três é cinco!

No caminho que corta o sertão até o litoral paraibano, desde muito longe já se pode ouvir o burburinho da Feira de Campina Grande. Suas cores, aromas, personagens e sons inconfundíveis são a marca de uma cidade que tem sua história e seu traçado misturados com os de seu centro mercadológico e também cultural. Campina Grande é uma cidade-feira. E a chamada Feira das Feiras, que transformou a vida e a paisagem do Planalto da Borborema, poderá ser também, a partir de agora, Patrimônio Cultural do Brasil.

Nesta Quarta-Feira (27), o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural delibera, em sua 87ª reunião, sobre o Registro da Feira de Campina Grande, a ser reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial. O pedido de reconhecimento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi feito formalmente há dez anos, em uma articulação entre a Prefeitura Municipal de Campina Grande e grupos de feirantes e fregueses. A partir daí, foi iniciado um intenso processo colaborativo de diálogos e pesquisas, que agora reúne as principais referências culturais presentes na Feira campinense, além de propostas para sua salvaguarda.

Essas propostas são entendidas como fundamentais, pois a Feira de Campina Grande foi mudando de lugar ao longo do tempo, desde seus primeiros caminhos, ainda no século XVIII. Crescendo em importância e dimensões, o espaço da feira passou também a ser objeto de interesse de propostas de requalificação urbana, que deverão, a partir do Registro, ser conduzidos conforme as necessidades das pessoas que a vivenciam diariamente em diálogo com as ações de salvaguarda.

A Feira das feiras

“Feira de Campina tem tudo que se quer,
Tem pato, tem peru, tem galinha e tem guiné.”

Feira de Campina – Major Palito

Cerca de 75 mil metros quadrados dão a base da Feira de Campina Grande, que se amplia para além de seus limites, entre ruas e barracas, nos dias de mais movimento. De segunda a sábado, o movimento caótico de pessoas e mercadorias atrai pelo tamanho, relevância e diversidade. É por isso que se diz que tudo o que se procura é possível encontrar na Feira. Frutas, hortaliças, cereais, ervas, carnes, animais (vivos ou já abatidos), roupas, flores, doces, artesanato, acessórios para pecuária, comida regional e um extenso leque de serviços, que trazem consigo os personagens que dão vida ao lugar: seleiros, mangaieiros, flandreleiros, barbeiros, balaieiros, raizeiros, fateiros – e tantos outros mestres, com seus saberes e ofícios tradicionais.

Para além do comércio intenso, a Feira de Campina Grande é também um lugar de referência, de criação, de expressão, de sociabilidade e de identidade do povo nordestino. As trocas mercadológicas se misturam às trocas de significados e sentidos, tornando-a um lugar onde se concentram e reproduzem práticas culturais. É ali entre as raízes que curam tudo, entre os pratos de buchada e copos de gelada de coco, entre os gritos das ofertas e o cantar do galo, que também se anunciam as novidades, que desabafam os amigos, que rezam os crentes, que se criam as rimas. E a Feira campinense continua ressoando no cantar dos emboladores de coco, dos repentistas, forrozeiros, cordelistas, violeiros e tantos outros artistas, que fazem da Feira palco das manifestações culturais e tradições de sua terra.

De geração a geração, os saberes e experiências dos feirantes vão sendo transmitidos a filhos, netos e bisnetos, assim como os espaços de comercialização. Herdados como verdadeiros legados familiares, os ofícios vão representando a história daqueles personagens, que dedicam sua vida à Feira e que, por isso, têm nela sua referência fundamental. Sua história é atrelada à dos fregueses, dos produtos e das negociações e Campina Grande vai se tornando ainda maior, pela continuidade de suas tradições culturais.

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Os processos de tombamento e registro promovidos pelo Iphan são avaliados pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo são 23 conselheiros, que representam o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

Além do registro da Feria de Campina Grande, no dia 27 de setembro, o Conselho Consultivo avaliará, também, a proposta de tombamento da Coleção Nemirovsky, em São Paulo (SP), e da Ladeira da Misericórdia, no Rio de Janeiro (RJ).

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é o órgão colegiado de decisão máxima do Iphan para as questões relativas ao patrimônio brasileiro material e imaterial. O mais recente marco legal sobre a estrutura organizacional do Iphan, o Decreto nº 6.844, de 07 de maio de 2009, mantém o Conselho como o responsável pelo exame, apreciação e decisões relacionadas à proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro, tais como o tombamento de bens culturais de natureza material, o registro de bens culturais imateriais, a autorização para a saída temporária do país de obras de arte ou bens culturais protegidos, na forma da legislação em vigor, além de opinar sobre outras questões relevantes.

 

Serviço:
87ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Data: 27 de setembro de 2017, às 14h
Local: Edifício Sede do Iphan – Sala do Comitê Gestor
SEPS 713/913 – Bloco D – Asa Sul – Brasília – DF

Fonte: Portal Iphan