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Alta no preço da gasolina derruba renda de motoristas por aplicativos e serviço pode deixar de existir na Paraíba

A crise econômica tem afetado trabalhadores de todo o Brasil. Entre os mais prejudicados, estão os motoristas de transporte por aplicativo. A ocupação que anos atrás atraía parceiros, atualmente é inviável para muitos e corre o risco de ficar inoperante — ou, pelo menos, de se tornar exclusivo para classes socioeconômicas mais altas.

A crise econômica tem afetado trabalhadores de todo o Brasil. Entre os mais prejudicados, estão os motoristas de transporte por aplicativo. A ocupação que anos atrás atraía parceiros, atualmente é inviável para muitos e corre o risco de ficar inoperante — ou, pelo menos, de se tornar exclusivo para classes socioeconômicas mais altas.

O alerta foi feito ao Portal Correio por Antônio Santana, um dos diretores da Associação dos Motoristas por Aplicativos Individuais na Paraíba. Segundo ele, o lucro dos trabalhadores do setor caiu pela metade, em comparação ao que se registrava em 2016, quando o serviço chegou ao estado. A situação fez com que pelo menos 40% dos motoristas abandonassem as plataformas e buscassem outra forma de renda.

Antônio Santana estima que a Grande João Pessoa possui cerca de 10 mil motoristas cadastrados em aplicativos de transporte de passageiros, mas só 4 mil costumavam trabalhar todos os dias e tinham o serviço como fonte principal de renda. Agora, com a crise dos combustíveis, quase metade abandonou o ofício. A maioria é formada pelos motoristas que alugavam veículos para poder trabalhar.

“Só está sobrevivendo na função quem tem seu próprio carro. Os que alugam estão desistindo. Quem tem carro próprio pode converter para GNV. Assim, economiza na hora de abastecer e ganha mais autonomia. Por outro lado, os carros alugados só rodam com gasolina e álcool, então, para esses motoristas, a conta tem ficado muito cara, praticamente impossível de pagar”.

Pesquisa mais recente divulgada pelo Procon-JP mostrou que o preço do litro da gasolina tem variado entre R$ 5,779 e R$ 6,099, uma variação de 5,5% em comparação ao levantamento feito em 8 de setembro. A Petrobras tem anunciado sucessivos aumentos e, de acordo com o IBGE, são os principais vilões da inflação neste ano, com alta de 31,09% entre janeiro e agosto.

Recentemente, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), nos últimos dias de 2020 eram necessários R$ 224,15 para abastecer o tanque de um carro modelo Hyundai HB20. Agora, o proprietário precisa desembolsar cerca de R$ 302,95, ou seja, 35,2% a mais.

Clientes sofrem com tarifas altas

Conforme Antônio Santana, os motoristas que continuam atuando na Grande João Pessoa acabam procurando alternativas para obter mais ganhos e otimizar o tempo de trabalho. A estratégia nem sempre é boa para os clientes.

“Os motoristas buscam trabalhar em horários com valores mais altos, de acordo com o pico de demanda. E procuram também viagens que deem retorno. Se o local de destino não é movimentado, o motorista desiste, pois sabe que, após deixar o cliente, vai precisar percorrer uma distância grande até uma área com ofertas de viagens”, justifica o representante da categoria.

Usuários dos serviços já sentem na pele as consequências da crise. Não são raros os relatos de clientes que enfrentam dificuldades na hora de pedir uma viagem. Demora em ter a corrida aceita e cancelamentos são cada vez mais frequentes. Houve também, embora mais raros, casos em que os motoristas cancelaram a viagem porque o pagamento não seria em dinheiro.

“É comum recebermos mensagens dos clientes dizendo: por favor, não cancele”, relata Antônio Santana.

Para o representante da Associação dos Motoristas por Aplicativos Individuais na Paraíba, se não houver uma rápida retomada econômica, o serviço pode acabar ou ficar muito restrito.

“O serviço pode acabar. Ou vai ficar muito caro para o consumidor comum e só quem tem mais condições financeiras terá condições de bancar. É um risco real que as pessoas acabem procurando outras alternativas, como ir a pé ou de bicicleta, por exemplo”, alerta.

“A culpa é de tantos aumentos consecutivos. O que a Petrobras está fazendo com essa política de preços dos combustíveis é terrível. E o pior é querer colocar a culpa nos Estados, no ICMS. Eles estão querendo transferir a responsabilidade”, complementa o motorista.

Segurança

Outra questão que desencoraja motoristas é a vulnerabilidade a casos de violência. Antônio Santana admite que os trabalhadores têm receio de aceitar viagens para áreas consideradas violentas.

“Infelizmente, acabamos fazendo uma triagem. Dependendo do local, se o cliente for homem, a gente já não aceita. Se a solicitação partir de uma mulher, mas o passageiro for homem também pensamos duas vezes. E mesmo que o cliente seja uma mulher, ou um casal, costumamos observar o local. Se algo parecer estranho, nem paramos, passamos direto”, revela.

Na tentativa de se sentirem mais seguros, grupos de motoristas — por iniciativa própria — recorrem a aplicativos que transformam smartphones em rádios comunicadores. Os trabalhadores também compartilham localização em tempo real. Assim, quando um motorista está em perigo, colegas ficam sabendo da situação rapidamente e acionam a polícia.

Empresas minimizam problema

Uber e 99 são as principais empresas que oferecem transporte de passageiros por aplicativos na Paraíba. Questionadas pelo Portal Correio sobre a crise dos combustíveis, elas tentaram minimizar a situação e não forneceram dados oficiais sobre desistência de motoristas parceiros em continuar prestando o serviço. A Uber alegou não ter acesso a números exatos, uma vez que a plataforma é flexível e deixa os parceiros livres para operarem somente quando julgarem necessário. A empresa ressaltou que não existe controle de carga horária exercida por cada motorista porque não existe vínculo empregatício entre a companhia e os motoristas. Já a 99 disse que não registrou desistência de parceiros.

Em nota, a Uber destacou que a demanda de clientes aumentou durante a pandemia. “Pessoas que antes não usavam a Uber no dia a dia agora estão optando pelo app”, apontou a empresa. “Esse contexto de alta demanda por viagens vem se acentuando nas últimas semanas, conforme o avanço da campanha de vacinação e a reabertura progressiva de atividades comerciais pelas autoridades. Com isso, os ganhos de quem dirige com o app da Uber têm sido os maiores desde o início do ano”, pontuou outro trecho do comunicado.

A Uber acrescentou, ainda, que tem acompanhado os aumentos de preço dos combustíveis nos últimos meses e entende a insatisfação dos motoristas parceiros. Por meio da iniciativa ‘Uber Pro’, a empresa lançou programas de descontos em serviço de internet, cashback no abastecimento de combustíveis e redução ou isenção de mensalidades em serviços relacionados à saúde e bem-estar.

“É importante lembrar que os ganhos dos parceiros da Uber são bem particulares, porque são muitas as variáveis em jogo, já que cada um escolhe como quer usar a plataforma. Por exemplo, como os parceiros da Uber são livres para decidir em quais dias e horários dirigir, quem dirige em dias e horários de maior movimento tem uma maior chance de ganhar mais”, complementou a nota.

Já a 99 disse que acredita na capacidade de retomada econômica e que, durante a pandemia, investiu R$ 90 milhões em novos produtos e modalidades para atender às necessidades de quem precisou se locomover e não pode cumprir as regras de isolamento social.

“O resultado foi o crescimento do uso do carro por aplicativo principalmente pela classe C, que precisou sair de casa para trabalhar. Ou seja, a plataforma não registrou alteração no número de motoristas cadastrados, mas sim o aumento de demanda”, garantiu a empresa.

A 99 destacou, ainda, que é aberta ao diálogo para reduzir o impacto da crise sobre os motoristas parceiros, principalmente no momento atual, em que a economia nacional pressiona o valor dos combustíveis.

“O preço final da corrida é definido de acordo com a oferta e demanda. É importante observar que há um teto máximo de 30% de desconto. Há casos em que é empregada a taxa negativa, ou seja, o valor repassado ao motorista é maior que o pago pelo passageiro e esta diferença é custeada pela empresa para democratizar o acesso das pessoas”, argumentou a 99.

Assim como a Uber, a 99 disse ter preparado um pacote de apoio aos motoristas parceiros e prevê, com ele, impacto de mais de meio bilhão de reais no Produto Interno Bruto (PIB). “As iniciativas somam-se aos benefícios concedidos pela empresa por meio do programa de parceria SOMOS99 que, entre outras vantagens, garante 10% de desconto no combustível dos 3.2 mil postos da rede Shell, e já foi responsável por R$ 3,1 milhões de economia aos motoristas parceiros”, ressaltou a empresa.

Fonte: Portal Correio
Créditos: Polêmica Paraíba