produção forte no Estado

NA ROTA DA CANA: A Paraíba e as cachaças que se destacam entre as mais saborosas do país

Seguindo pelo caminho do conhecimento, é inevitável sentir o cheiro e os sabores que nos chegam dos engenhos, o que de imediato pode nos transportar para os primeiros passos que donos de engenhos e trabalhadores tiveram de dar para descobrir na cana de açúcar alternativas para enfrentar a queda na comercialização do açúcar (um dos principais produtos de fabricação dos engenhos) e consequentemente nos negócios até então promissores. Teriam de encontrar uma saída, a qual seria encontrada na fabricação de uma bebida de sabor forte e ao mesmo tempo prazeroso, a cachaça fabricada a partir da cana. Durante muitos anos a bebida foi comercializada clandestinamente e consumida em grande escala por escravos, garimpeiros, marinheiros e até por senhores de engenho. E foi finalmente com a liberação da fabricação e da sua comercialização, em 1661, que essa saída foi encontrada. No entanto, bem antes, a cachaça já circulava como uma preciosa moeda para a comercialização de escravos.


A Dornas Havana produz dornas e barris de variados tamanhos, dentro da capacidade de 1 a 60.000 litros.




 

Mesmo assim, a cachaça como qualquer outro produto que passa por momentos de apupos e apogeu, também sofreu altos e baixos em sua trajetória. E mesmo reconhecida como o primeiro destilado das Américas, passou por diferentes processos produtivos e políticos, influenciando diretamente na economia do país. Tornou-se o símbolo do nacionalismo no período de pré-independência e ainda hoje é conhecida como a bebida mais querida do Brasil. Na época da Abolição da Escravatura, serviu de refúgio para muitos escravos recém-libertos que sofriam com as dores da fome e da miséria. Esse período levou a uma decadência da cachaça, que passou a ser vista como a bebida de “pinguços”!

A verdade é que a produção de cachaça é forte e enraizada no Estado. Existem engenhos do litoral ao sertão, tendo a maior concentração de produção na região do brejo. A cultura da fabricação da cachaça movimenta a economia e o emprego: os engenhos que produzem cachaças são responsáveis por cerca de mil empregos diretos e dois mil indiretos na Paraíba.

Um legado na formação cultural do país
Percorrendo o mapa da cana, hoje vamos conhecer a história de uma outra preciosidade, nascida aqui nas terras da Paraíba, a cachaça São Paulo! Para tanto, a exemplo da história contada na semana que passou, vamos fazer parada num outro engenho, onde a bebida é produzida com o esmero necessário para que se possa atender os paladares mais exigentes!

Localizado no município de Cruz do Espírito Santo, a 28 km de João Pessoa-PB, o Engenho São Paulo iniciou suas atividades, ainda, no início do século XX, com a produção voltada principalmente para o açúcar mascavo, mel, rapadura e cachaça, também. Com a queda no consumo destes produtos, o Engenho São Paulo direcionou sua produção para a cachaça de alambique, tornando-se o maior produtor de Cachaça de Alambique do Brasil, com uma capacidade de produção anual de 6 milhões de litros. Aqui na Paraíba, a bebida, que tem um legado incontestável de participação na formação cultural do país, vem ganhando mercado, crescendo em qualidade e produção.

Para saber mais sobre a cachaça São Paulo, ninguém melhor para falar das suas qualidades que o seu proprietário, o engenheiro mecânico, Múcio Fernandes. Ele faz questão de frisar a idade do engenho que completa agora em 2019, 110 anos de existência, estando hoje em sua terceira geração. Segundo ele, o maior impacto foi sentido no início da década de 1920, com o surgimento das grandes usinas, produtoras do açúcar branco o que culminou com o açúcar mascavo perdendo o seu mercado. Era necessário se encontrar alternativas. O engenho que, a exemplo de outros, tinha que estocar o produto para o enfrentamento da chamada entressafra, (durante o período de inverno, todos os engenhos param de produzir), tinha pouco estoque e teria que manter a produção. Múcio conta que dos 67 mil litros estocados, o engenho São Paulo deu enorme salto e hoje conta com mais de 4 milhões de litros no seu estoque. Ele que acompanha todo o desenvolvimento na fabricação da cachaça desde garoto, vendo o avô, seus pais e tios comandando o negócio, acabou assumindo esse comando em 1980 e, de lá para cá, cuidou para que o estoque só aumentasse!

Maior produtor de cachaça do Brasil
Foi a partir do final da década de 1990 que o engenho São Paulo deixou de comprar de outros engenhos, passando a produzir toda a sua própria cachaça, vendendo para quase todo o Brasil, mas com a principal venda da São Paulo para a Paraíba, com mais de 60% do mercado só na região de João Pessoa! Acompanhando a tecnologia e seguindo sempre num crescente, hoje a empresa possui um grande portfólio de cachaças, detendo sua linha Tradicional, com as marcas: São Paulo, São Paulo Cristal, Caipira e Caipira Mini. E sua linha Premium, com as marcas: Cigana, Cigana Carvalho e São Paulo Amburana. Com o feito e a garantia na qualidade do produto, passou a ser reconhecido como um dos grandes produtores do Estado e por conseguinte o maior produtor de cachaça de alambique do Brasil!
Contando com um moderno parque industrial em que utiliza tecnologia de ponta para a produção de cachaça, o Engenho São Paulo mantém um grande diferencial no processo de fermentação: todas as cepas de leveduras utilizadas em sua produção são selecionadas a partir da cana de açúcar produzida no próprio engenho e só então multiplicadas em seu laboratório. Esse controle resultou em um aumento expressivo na produção e na produtividade, além do aprimoramento na qualidade das cachaças que se destacam entre as mais saborosas do país!
Mas o engenho São Paulo vai bem mais além de ser o grande produtor de cachaça e, também, realiza projetos sociais. Após pesquisar as necessidades da comunidade a sua volta, o engenho resolveu abrir uma escolinha de futebol, onde acolhe todas as crianças e adolescentes, retirando-os do risco das ruas e dentro do próprio engenho a escolinha funciona as terças, quintas e sábados, nos dois expedientes, numa parceria com a Prefeitura Municipal, através da Secretária Municipal de Educação. O projeto encanta pelo seu alcance social e é pretensão, segundo o empresário, de se criar uma escola de tempo integral na formação e descoberta de talentos no futebol! Todo esse entusiasmo acabou criando o próprio time, o São Paulo Cristal Futebol Clube!

A cachaça em números
“No Brasil, são 951 produtores de cachaça e 611 de aguardente registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A Região Sudeste conta com 671 estabelecimentos, representando mais de 70% da produção nacional. Em seguida aparece o Nordeste, com 138 ou 14,5%. A Região Sul registrou 99 estabelecimentos (10,4%), o Centro-Oeste 33 (3,5%) e, por fim, o Norte 10 (1,05%)”.

“O Estado da Paraíba é hoje um dos maiores fabricantes de cachaça de alambique do país, possui 80 engenhos que juntos fazem 12 milhões de litros por ano, segundo Associação Paraibana dos Engenhos de Cachaça de Alambique (Aspeca). No Brasil, existem cerca de 40 mil produtores de cachaça artesanal”.

“A Paraíba conta com 145 cachaças registradas no Mapa. Este número coloca o Estado em sexto lugar no ranking de registros por Unidade da Federação. Minas Gerais apareceu em primeiro, com mais de 1.400. Areia (36) e Campina Grande (33) concentram quase 70% dos registros de cachaça na Paraíba”.

Se tantos números acabam lhe confundindo no entendimento, é bom saber que os dados chegam por características de fabricação. São números por fabricação artesanal, de alambique, por número e seleção de engenhos, por regiões pelo país e resultados verificados especificamente na Paraíba!

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Francisco Airton