eleições 2022

Moro entra no jogo da sucessão mas ainda é uma incógnita na disputa

Sergio Moro, o ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, anunciou sua filiação ao Podemos e colocou-se à disposição como alternativa para concorrer à Presidência da República nas eleições de outubro de 2022, mas ainda é tido como uma incógnita pelos analistas políticos. Poderá surpreender, ocupando o lugar da chamada terceira via que tenta se contrapor, ao mesmo tempo, ao presidente Jair Bolsonaro (candidato à reeleição) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato pelo PT. Pesquisas realizadas em cima do “fato novo” indicam boa largada de Moro, que ora é situado em posição de empate com Ciro Gomes, do PDT, ora tem pequena vantagem sobre o próprio Ciro, que está há mais tempo em superexposição como postulante.

O ex-juiz tem dito que deseja apresentar um projeto para a reconstrução do país – a dúvida é se essa mensagem basta para alavancar sua candidatura e colocá-lo frente à frente com os dois favoritos: Lula, líder nas intenções de voto, e Bolsonaro, que tentará nas urnas se reerguer das cinas de um governo desgastado, que fracassou no combate à corrupção, principal bandeira da campanha de 2018, e em soluções para a crise econômica e social, que se agravou visivelmente em face das consequências da pandemia da Covid-19. Numa reportagem sobre o projeto Moro, a revista “Veja” teoriza que ele é o único, por enquanto, num universo de 14 postulantes, com possibilidade de alterar o cenário de polarização ensaiado entre Lula e Bolsonaro.

As mesmas pesquisas que projetam ampla vantagem de Lula e de Jair Bolsonaro sinalizam que há espaço de sobra para a construção de uma candidatura competitiva de terceira via, já que uma fatia de 25% a 30% do eleitorado não quer nem a vitória do petista nem a continuidade do atual mandatário. “Até aqui, os nomes testados para romper a polarização não aproveitaram essa janela. O ex-ministro Ciro Gomes é o único que atinge dois dígitos de intenções de voto, mas, devido ao seu temperamento oscilante, nunca passou disso nas eleições anteriores. Na largada, a potencial candidatura de Moro nasce empatada com a de Ciro na terceira posição, uma condição inicial mais favorável do que a dos demais postulantes, a maioria deles com menos de 5%. O desafio do ex-juiz será convencer o eleitor de que ele é o único que reúne condições de fazer o que nenhum outro fez até agora: atrair aqueles que não querem nem Lula nem Bolsonaro”.

Um dos motes do ex-juiz Sergio Moro é o de que o Brasil não pode voltar ao passado, mensagem que, segundo as análises, teria o ex-presidente Lula como destinatário direto, mas, de certa forma, também mira Jair Bolsonaro, com quem ele imagina que disputará a segunda vaga para o segundo turno, já que a primeira estaria assegurada, de acordo com ele, ao candidato petista. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, também ex-ministro do governo Bolsonaro e agora um dos conselheiros do ex-juiz, afirma: “Moro será uma opção de respeito e união nacional, buscará romper a polarização e trazer o Brasil de volta para o caminho da convivência entre as pessoas e as instituições”. Ao contrário de boa parte dos pré-candidatos que pretendem ocupar a terceira via, Moro já é conhecido nacionalmente pela sua atuação na Lava-Jato. A questão, segundo “Veja”, é que esse “trunfo”, hoje, mais atrapalha do que ajuda.

A Lava-Jato ganhou forte apoio em segmentos da sociedade, principalmente junto a expoentes da classe média, por ter deflagrado o combate à corrupção e avançado nas prisões de líderes políticos influentes como o próprio ex-presidente Lula, cuja pena foi decretada por Sergio Moro quando ainda chefiava a operação  e tinha atuação marcante a partir de Curitiba. Mas perdeu força em virtude da anulação, pelo Supremo Tribunal Federal, de condenações impostas ao ex-presidente Lula da Silva, e da revelação de que Sérgio Moro atuou com parcialidade em inúmeras oportunidades. O ex-juiz ostenta um alto nível de rejeição – é repudiado por eleitores de esquerda, que o acusam de ter sido um magistrado parcial e pelo núcleo duro de apoio a Bolsonaro, que considera o ex-ministro da Justiça um traidor porque ele deixou o governo acusando o antigo chefe de interferir de forma indevida na Polícia Federal.

Sergio Moro é candidatíssimo ao Planalto desde quando ganhou notoriedade no comando da operação Lava-Jato e, depois, quando ocupou o ministério da Justiça e da Segurança Pública no governo de Bolsonaro. Ganhou duplamente a desconfiança de Bolsonaro – primeiro, por não aceitar sua interferência em casos delicados apurados com rigor pela Polícia Federal; em segundo lugar, dada a sua condição de pré-candidato ao Planalto, o que gerou ciumadas e boicote por parte do atual mandatário. O cientista político Renato  Perissinoto, da Universidade Federal do Paraná, avalia que o discurso de Moro não é capaz de empolgar as massas porque provavelmente ele vai ter de encampar a velha pregação antipolítica de que combateu a corrupção e quer mudar o sistema. Mas Moro já dá indícios de que mesclará bandeiras moralizadoras com propostas econômicas viáveis para retirar o país da crise. Seja como for, a sua pré-candidatura é o que se tem para hoje, em termos de novidade, com a perspectiva de que possa vir a desestabilizar postulações que antecipadamente estão colocadas com tanta margem de apoio ou confiabilidade.

Fonte: Os guedes
Créditos: Polêmica Paraíba