OPINIÃO

Maranhão foi um aliado de Lula e teve petistas como vices na Paraíba - Por Nonato Guedes

O ex-governador da Paraíba e ex-senador José Maranhão, cujo primeiro aniversário de morte transcorre terça-feira mas já será lembrado, hoje, com ato religioso em João Pessoa, foi aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em disputas deste ao Planalto, como em 2002 e 2006, e teve apoio de Lula, como se deu em 2006, quando tentou voltar ao Palácio da Redenção e foi derrotado por Cássio Cunha Lima. Esta eleição acabou subjudice lá na frente, quando, em 2009, o Tribunal Superior Eleitoral decretou a cassação de Cássio e do vice José Lacerda Neto, convocando Maranhão e o vice, Luciano Cartaxo (PT), a se investirem nos cargos. O discurso de posse de Maranhão, já no final, foi interrompido pelo telefonema de parabéns do presidente Lula, cuja ligação, em viva voz, pôde ser compartilhada por todos na Assembleia.

No seu jeito informal, como relataram Gonzaga Rodrigues e Ângela Bezerra de Castro, em livro, o presidente Lula pôs o governo federal à disposição da Paraíba. “O que precisar pode contar comigo, governador”, entoou Lula. Em duas oportunidades, José Maranhão recrutou petistas para compor suas chapas ao governo do Estado: em 2006, com Luciano Cartaxo, que era deputado estadual, e em 2010 com o também deputado estadual Rodrigo Soares. Na disputa de 2002, Lula declarou apoio a Roberto Paulino contra Cássio Cunha Lima. Mas, em 2010, quando Maranhão intentou retornar ao Poder Executivo local, Lula optou pela neutralidade na Paraíba, idêntica posição assumida por Dilma Rousseff, a candidata do PT vitoriosa nas urnas. Por esta época, emergia no cenário político paraibano a figura de Ricardo Coutinho, que logrou vencer em 2010 a disputa ao governo concorrendo pelo PSB e tendo o apoio declarado de Cássio Cunha Lima, que buscava uma revanche contra Maranhão.

As preferências de Lula em relação à política paraibana dividiram-se entre José Maranhão e Ricardo Coutinho na quadra recente, e havia respeito na postura, mesmo quando não coincidia ou não guardava afinidade. Há declarações de Maranhão na imprensa elogiando o empenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que considerou decisivo, para levar adiante o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Não poderia, aliás, ser outro o comportamento de Maranhão, que quando esteve no governo investiu no chamado Plano das Águas. “O seu discurso de 2006 estava escrito em obras, mais do que em palavras”, conceituaram Gonzaga Rodrigues e Ângela Bezerra de Castro no livro “Uma vida de coerência”, que abordou a trajetória política empalmada por Maranhão. Essa coerência advinha da década de 50, quando Maranhão se iniciou na política e, já nos primórdios, defendeu posições nacionalistas que lhe custaram, teoricamente, a cassação do mandato como deputado federal pela ditadura militar, quando estava filiado ao MDB.

No livro “A Fala do Poder”, de minha autoria, descrevi Maranhão como “o tríplice coroado”, uma alusão ao fato de ter se investido por três vezes no comando do governo da Paraíba. A primeira vez ocorreu em 1995, quando foi convocado à titularidade devido á morte do governador Antônio Mariz, vítima de câncer. A segunda materializou-se em 1998, quando ele aproveitou a adoção do instituto da reeleição a cargos executivos e concorreu ao mandato de governador, derrotando, nas urnas, entre outros, o ex-deputado Gilvan Freire, do PSB, que formara chapa com um vice indicado pelo Partido dos Trabalhadores, Hamurabi Duarte. Nesse pleito, Maranhão foi, proporcionalmente, o candidato mais votado do Brasil, e ele encabeçou chapa quimicamente pura, do ponto de vista partidário, tendo como vice Roberto Paulino, do PMDB. A terceira chance de ascensão ao poder veio em 2009 com a cassação de Cássio e a sua convocação para completar o mandato.

José Maranhão também se destacou pela profícua atuação como deputado estadual, iniciando pelo PTB, depois pelo MDB, e também como deputado federal, logrando tornar-se coordenador da bancada da Paraíba em Brasília. Foi eleito senador em 2002 e voltou ao posto em 2014, tornando-se presidente da Comissão de Orçamento, uma das mais influentes do Congresso Nacional. Sua linha de ação parlamentar sempre esteve centrada em pautas democráticas e legalistas e, à frente do governo do Estado, empunhou bandeiras sociais comprometidas com a cidadania, na linha dos valores apregoados por Antônio Mariz quando dividiu chapa com ele nas eleições de 1994. Ressalte-se, em Maranhão, outra faceta: a circunstância de ter levado para o governo a experiência da iniciativa privada, que buscou conciliar com a sensibilidade social diante dos problemas urgentes que clamavam por solução.

Quando ascendeu ao governo pela primeira vez, Maranhão carimbou o slogan “Austeridade e Desenvolvimento” para sinalizar o comportamento espartano que adotaria em relação a práticas administrativas e ao exercício do comando da máquina de gestão. Deu ênfase a projetos que haviam sido concebidos por Antônio Mariz e que, segundo ele, constituiriam a “carta de navegação” da administração pública do Estado daí em diante. O equilíbrio fiscal foi alcançado sem prejuízo de iniciativas para a geração de emprego e renda, tendo o governo como agente de fomento. Depois de ter sido bafejado com a reeleição, Maranhão buscou imprimir marca pessoal, convertendo o slogan em “Austeridade é Desenvolvimento”. A Paraíba guarda, dele, uma lembrança positiva dos projetos e das ações de governo. Teve suas limitações e dificuldades conjunturais, mas se fez altivo em oportunidades que exigiam essa postura e deixou legado que ainda hoje é evocado pelas gerações que acompanharam de perto a Era Maranhão.

Fonte: Os guedes
Créditos: Polêmica Paraíba