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Eleições na Capital: a luta dos governadores como “cabos eleitorais”

O governador de plantão, João Azevêdo, avalia como pode influir na eleição tida como mais importante por se tratar da Capital do Estado

No histórico de eleições diretas a prefeito de João Pessoa, restauradas em 1985, Wilson Braga e José Maranhão foram governadores que lograram “faturar” dividendos com a performance de candidatos que apoiaram. Note-se que nem Ricardo Coutinho, que foi prefeito duas vezes na Capital e que teve papel decisivo na vitória de João Azevêdo ao governo em 2018, conseguiu emplacar candidaturas em dois pleitos municipais consecutivos travados em 2012 e 2016. No primeiro embate, Estelizabel Bezerra foi para o sacrifício, sem passar sequer para o segundo turno. Luciano Cartaxo foi eleito tendo como principal concorrente Cícero Lucena. Em 2016, Ricardo escalou Cida Ramos para defender as cores do PSB, contra Cartaxo, que buscava a reeleição. Nem segundo turno houve – e Luciano foi consagrado outra vez.

Wilson Braga, em 85, não quis arriscar candidatura própria pelo seu esquema e dividiu bola com o PMDB, apoiando o candidato deste, Carneiro Arnaud, à cabeça de chapa e indicando o vereador populista Cabral Batista a vice. A chapa derrotou Marcus Odilon, apoiada por Tarcísio Burity. Em 1996 e 2000, José Maranhão (PMDB) apoiou Cícero Lucena, vitorioso contra Lúcia Braga e Luiz Couto. Maranhão compartilhou espaços com o “clã” Cunha Lima, que tinha como expoentes o poeta Ronaldo e seu filho Cássio. No final das contas, a reeleição de Cícero constituiu vitória de Pirro para o PMDB porque o então prefeito decidiu migrar para o PSDB acompanhando Ronaldo, de quem havia sido vice-governador a partir de 1991. Em pelo menos um embate à prefeitura, Lucena aliou-se ao PFL-DEM, com Reginaldo Tavares. No outro, formou chapa quimicamente pura, com o peemedebista Haroldo Lucena na vice. Mas, como foi dito, Cícero escapuliu para o ninho tucano.

O governador de plantão, João Azevêdo, avalia como pode influir na eleição tida como mais importante por se tratar da Capital do Estado. Ou, pelo menos, como não atrapalhar nem sair fragorosamente derrotado. Convém lembrar que em 88 o candidato do governador Tarcísio Burity a prefeito de João Pessoa, o empresário João Da Matta, que tinha boa imagem junto à classe média, foi triturado pelo moedor de carne do fenômeno Wilson Braga, que voltava à ribalta dois anos depois de ter perdido cadeira de senador. Em 92, o PMDB pessoense praticamente impôs ao governador Ronaldo Cunha Lima a candidatura de Delosmar Mendonça Jr., contrariando os planos do poeta de apoiar João Agripino Neto como retribuição pelo apoio deste ao governo do Estado no segundo turno da eleição de 90. Além de impor Delosmar o diretório pessoense quase “escondeu” Ronaldo na propaganda, o que levou o governador a abalar-se a Campina Grande, onde atuou com arrojo para fazer vitoriar o candidato Félix Araújo, do seu esquema.

Nem sempre há coerência ou linearidade nos apoios políticos a candidaturas a prefeito de João Pessoa. A lógica em 88, por exemplo, indicava que o candidato de Burity deveria ser Haroldo Lucena, irmão do senador Humberto, que em 86 abriu mão da candidatura ao governo em favor de Burity. Ocorre que a relação entre Burity e o PMDB já não era de lua de mel – muito pelo contrário, azedara tanto que pipocaram denúncias de sabotagem da bancada do partido a pedidos de empréstimos feitos pelo governador na área federal, enquanto, de sua parte, líderes do partido acusavam Burity de divisionismo e ingratidão ao estimular a viabilidade do PL como partido alternativo de apoio ao governo para ajudá-lo a aprovar matérias no plenário da Assembleia. O clima era de vaca desconhecer bezerro e uma troca de alentadas “epístolas” entre Burity e Humberto Lucena foi o prenúncio do rompimento que acabou se materializando.

A eleição em João Pessoa, para alguns analistas políticos, mesmo os mais experimentados, é sempre uma caixinha de surpresas, porque comporta situações distintas e resultados surpreendentes, destronando hegemonia de partidos ou de lideranças individuais. Os mais escolados dizem, hoje, que ninguém – nem partido, nem líder político, pode se arvorar “dono” da vontade do eleitorado pessoense, cuja maioria costuma decidir por critérios próprios, às vezes imperceptíveis à leitura de cúpulas partidárias. Atribui-se, por exemplo, a primeira vitória de Luciano Cartaxo, em 2012, ao apoio decisivo do então prefeito Luciano Agra, que tentou ser candidato pelo PSB mas foi rifado por Ricardo Coutinho. Depois Cartaxo entrou em céu de brigadeiro rumo ao segundo mandato, mas forjando outras alianças. Em pouco tempo de fundação no Estado, o PT foi para o segundo turno já em 92 com o deputado Chico Lopes, aparentemente sem maior expressão. E ganhou a prefeitura com Luciano Cartaxo dez anos depois, para perdê-la no bojo do mensalão e escândalos afins.

A Capital é sempre uma incógnita, extremamente desafiadora, sobretudo, para líderes políticos que aqui buscam se infiltrar valendo-se da máxima de que se trata de um reduto sem dono. No pleito deste ano, Luciano Cartaxo é desafiado a fazer a sucessora, através da candidata Edilma Freire, ex-secretária de Educação. Lançando candidatura própria pelo Cidadania ou apoiando nome alinhado em composição, Azevêdo poderá se dar bem e cravar pontos de vantagem. O terceiro personagem do script é o ex-governador Ricardo Coutinho. Que fora do poder tenta quebrar a escrita de que não elege prefeito na Capital – quando não é ele o candidato. A conferir!

Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes