sucessão em joão pessoa

Eleições: Cartaxo “administra” vantagem aparente por estar no poder

Em relação a Luciano Cartaxo, depois de muita relutância, ele fez um movimento simbólico ao concordar com a desincompatibilização de pelo menos quatro secretários tidos como “candidatáveis” à sucessão

Aliados políticos do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), atribuem a sua indefinição quanto ao anúncio de candidatura do seu grupo à sucessão na Capital ao fato do esquema estar no poder e, aparentemente, levar vantagem sobre eventuais concorrentes. Admitem, também, que Cartaxo espera se beneficiar da falta de adversários mais competitivos na disputa, trabalhando com a hipótese de dificuldades do esquema do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) em avançar, face aos notórios embaraços judiciais-policiais que afetam o socialista, bem como a ausência de outros nomes de forte densidade eleitoral em condições de arrebanhar favoritismo no páreo. O esquema do governador João Azevêdo, que se acomoda no entorno do “Cidadania”, não é visto como ameaçador, diante da alegada inexperiência política do gestor ou da sua falta de carisma para transferir votos para quem quer que seja. Por esse raciocínio, Azevêdo não elegeria “um poste”, tal como o ex-presidente Lula jacta-se de ter feito, numa alusão à vitória de Dilma Rousseff em 2010.

Numa tradução mais direta: Cartaxo e seu esquema operam com o “fator inercial”, que no jogo político equivale a jogar quase parado ou sem precisar fazer muito esforço porque os competidores, embora possam vir a dar algum trabalho lá na frente, não parecem constituir ameaça palpável à hegemonia do grupo que se mantém no controle da prefeitura pessoense há quase oito anos, gravitando em torno da eleição de Luciano em 2012 e da reeleição em 2016. No campo da oposição, quem ainda pode complicar as coisas para o bloco governista municipal é o ex-senador Cícero Lucena, ex-PSDB, atual PP, que foi prefeito por duas vezes em João Pessoa. Mas a candidatura de Cícero parece sub-judice diante do contencioso com prestações de contas que foram reprovadas ou tiveram restrições de cortes autorizadas. No esquema do governador Azevêdo, à falta de uma sinalização, está aberto o voluntariado no qual pode aspirar à indicação qualquer filiado, sendo que o vereador Bruno Farias parece mais articulado para conseguir a vaga. E da parte de Ricardo, tem se falado muito no nome da esposa, Amanda Rodrigues, ilustre desconhecida das urnas.

Em relação a Luciano Cartaxo, depois de muita relutância, ele fez um movimento simbólico ao concordar com a desincompatibilização de pelo menos quatro secretários tidos como “candidatáveis” à sucessão. Evidente que apenas um será contemplado com a indicação, mas enquanto o martelo não é batido os ex-secretários Diego Tavares, Daniela Bandeira, Socorro Gadelha e Edilma Ferreira se esbarram no metro quadrado de uma pseuda pré-campanha inteiramente atípica, inusitada, devido às medidas de restrição ocasionadas pela pandemia do coronavírus que alcançam proibição de aglomerações e, portanto, contato com eleitores ou até mesmo convencionais que decidirão a sorte de postulantes. As articulações, para valer, se processam nos bastidores, longe dos holofotes, pelo menos até que a Justiça Eleitoral apite o início do jogo dentro de regras excepcionais fixadas para o que se convencionou chamar de “novo normal”.

O prefeito Luciano Cartaxo – que não conseguiu eleger o irmão gêmeo Lucélio nem ao Senado nem ao governo do Estado em 2018 – está sendo guindado à condição de grande eleitor na disputa atípica deste ano por controlar a máquina, ter indiscutivelmente produzido um legado de realizações em diferentes áreas, sobretudo de infraestrutura, e estar na crista da onda comandando ações de emergência para enfrentamento ao coronavírus. O esforço desenvolvido pela sua gestão para garantir leitos, profissionais e agentes de saúde e equipamentos essenciais no atendimento de casos infectados por Covid-19 projeta naturalmente a sua administração e, em tese, agrega reflexos colaterais a disputas políticas em que venha a se engajar, mormente quando dizem respeito à continuidade das metas administrativas que idealizou implementar como prefeito por duas vezes da Capital de toda a Paraíba.

As circunstâncias históricas transformaram Luciano Cartaxo no “gestor da pandemia” e, em paralelo, da crise econômica que se espalhou no rastro dos efeitos da Covid-19. O enfrentamento a essa doença é um dos testes mais difíceis enfrentados por quem está à frente de administrações, sobretudo em Capitais e municípios do interior, com autonomia para tomar decisões que vão da circulação de ônibus ao funcionamento do comércio, como parte do pacote para evitar a disseminação do contágio e, assim, preservar vidas essenciais. Até aqui Cartaxo tem se saído bem na avaliação da opinião pública, inclusive por não misturar questões políticas com Saúde Pública. Pode ser que isto lhe dê um crédito de confiança mais amplo a ponto de fazê-lo eleger o sucessor ou sucessora, seja quem for, já que até o momento temos uma parada eleitoral invisível em João Pessoa. A visibilidade por agir no poder em situação de calamidade é o trunfo de Cartaxo na manga para liquidar a fatura da eleição estranha que vem por aí.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Os Guedes