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Wills Leal: O adorável Sonhador - Por Abelardo Jurema

Não tinha tempo para outra coisa senão pensar no futuro da capital paraibana, no desenvolvimento do turismo como atividade econômica, na qualidade de vida dos seus conterrâneos, na preservação meio ambiente, de sua história e de seus valores culturais.

imagem: reprodução/internet

Embora tenha colecionado em seu currículo muitas musas, divas, damas e, naturalmente, namoradas ele não se casou. E por uma forte razão: a sua única e verdadeira paixão, era a cidade de João Pessoa. Foi por ela que Wills Leal viveu, trabalhou, se preocupou e se entregou, 24 horas por dia. Não tinha tempo para outra coisa senão pensar no futuro da capital paraibana, no desenvolvimento do turismo como atividade econômica, na qualidade de vida dos seus conterrâneos, na preservação meio ambiente, de sua história e de seus valores culturais.

Eu o conheci, há quase cinquenta anos, quando da fundação da PB-TUR, a empresa paraibana de Turismo, em 1975, no Governo Ivan Bichara Sobreira compondo a primeira diretoria d que tinha como presidente o dr. Amir Gaudêncio; o professor Archimedes Cavalcanti, como diretor administrativo e ele, o jornalista Wills Leal, na diretoria de Operações, com participação decisiva na elaboração dos seus projetos e objetivos. O homem era um dínamo: pensava, escrevia, conversava e executava suas tarefas simultaneamente, com impressionante agilidade.
Rebelde e insubmisso, autor de uma dezena de livros voltados para a valorização de nossa cultura popular que lhe valeram uma cadeira na Academia Paraibana de Letras, sempre esteve à frente dos movimentos em defesa do nosso patrimônio histórico, artístico e cultural; incentivador do nosso folclore, da literatura de cordel, do nosso artesanato, do carnaval e de outras manifestações populares.

Foi dele a criação da Festa do Bode Rei que transformou a economia de Cabaceiras, e transformando o município na Roliúde Nordestina, tornando a cidade uma referência do cinema nacional. Foi ele quem inspirou e fundou o Maravalha, o inesquecível Clube dos Solteiros, que revolucionou a geração dos anos 60, onde os sócios que se casavam eram sumariamente excluídos do quadro social. Foi da mente criadora e fértil de Wills Leal que se originou a Abrajet-PB – Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo; a Academia Paraibana de Cinema e uma série de outras iniciativas e entidades voltadas para o bem coletivo.

Autor da obra A Aventura do Amor Atonal, tema polêmico que motivou debates e discussões nos meios literários; que descreveu o O Tempo do Lança-Perfume, relato comovente sobre o carnaval paraibano; da obra Elas só liam O Pequeno Príncipe, revelando os bastidores dos concursos de misses que monopolizavam as atenções da Paraíba e o Brasil dos anos dourados, Wills Leal ofereceu uma contribuição inestimável à história do nosso tempo. E, ainda hoje, temos que agradecer à sua luta indômita e perseverante, enfrentando os poderosos de plantão, pela manutenção do dispositivo constitucional, implantado pelo governador João Agripino, que impede a construção de espigões na orla marítima, diferenciando e humanizando a paisagem do nosso litoral entre todas as capitais nordestinas.

Natural de Alagoa Nova, onde nasceu em 18 de setembro de 1923, formado em Filosofia, ensaísta, crítico de cinema, escritor, pesquisador e membro da Academia Paraibana de Letras, faleceu aos 84 anos, em maio de 2020, em decorrência de insuficiência cardíaca durante a pandemia da Covil-19 deixando uma impreenchível lacuna ente os seus incontáveis amigos e admiradores.

O seu último livro, lançado em 2011, com o título “Jamais Deletado”, aludindo ao que jamais poderia ser esquecido, tornou-se uma alusão à biografia do autor, um personagem que jamais será deletado dos nossos corações e mentes.

Fonte: Abelardo Jurema
Créditos: Abelardo Jurema