Opinião

Vitória de Cida repara ‘injustiça’ mas o PT tem grandes desafios - Por Nonato Guedes

Vitória de Cida repara ‘injustiça’ mas o PT tem grandes desafios - Por Nonato Guedes

Paraíba - A confirmação da deputada estadual Cida Ramos como eleita à presidência do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores, no Processo de Eleição Direta ocorrido ontem, traduziu uma reparação de ‘injustiça’ cometida contra a parlamentar pela cúpula nacional no pleito para prefeito de João Pessoa em 2024, quando ela foi sufocada na pretensão de ser a candidata do partido à sucessão de Cícero Lucena. Na época, uma manobra articulada pelo ex-governador Ricardo Coutinho junto à cúpula nacional impediu a deputada de postular internamente a indicação como candidata, saindo favorecido o deputado estadual Luciano Cartaxo, que há pouco havia concluído dois mandatos consecutivos à frente da prefeitura. O resultado foi uma derrota humilhante do PT na Capital, com Cartaxo despachado para o quarto lugar, enquanto o segundo turno cravou a presença do bolsonarista Marcelo Queiroga (PL) contra Cícero (PP), este reeleito.

Cida não foi apenas marginalizada internamente, mas também sofreu processo de discriminação e de misoginia por parte de companheiros da legenda, situação que revoltou segmentos influentes da militância partidária, já exausta com os antagonismos e a fogueira de vaidades dentro da legenda no Estado. O presidente do Grupo de Trabalho Eleitoral do diretório nacional do PT, senador Humberto Costa (PE), descumpriu normas estatutárias e implodiu a realização de prévias – instrumento democrático de que o PT se orgulhava até então como requisito para escolha de candidaturas a cargos executivos. O processo de 2024 nas hostes do PT paraibano constituiu “moedor de carne”, com prevalência de interesses subalternos personificados na ambição do ex-governador Ricardo Coutinho de retomar a qualquer custo sua influência no jogo político, depois de derrotas consecutivas para a prefeitura e, mais recentemente, para o Senado. A democracia interna foi esmagada sem dó nem piedade por uma cúpula nacional indiferente a princípios e desinteressada por conflitos regionais dentro da agremiação.

Conquanto a injustiça tenha sido reparada e, no final das contas, tenha sido premiada uma expressão do talento e do comprometimento com as bandeiras petistas e da esquerda, como é o perfil da deputada Cida Ramos, ligada a movimentos universitários e movimentos populares, são grandes os desafios que a esperam no comando do Partido dos Trabalhadores no Estado. Ela terá a missão de coordenar a formação de uma frente ampla que respalde o projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conquistar seu quarto mandato e um dos desafios será o de conciliar apoios de líderes distintos e até adversários, como o governador João Azevêdo (PSB) e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), ambos candidatos ao Senado. Mais difícil ainda: Cida terá que ter habilidade para costurar o posicionamento do PT em relação à disputa pelo governo do Estado, já que a hipótese de candidatura própria não está no radar das cogitações. A tendência é que o Partido dos Trabalhadores venha a se aliar majoritariamente ao esquema do governador João Azevêdo na disputa pela sucessão dele, mas isto implicará em guinada à centro-direita, já que a esta altura o candidato preferido de João parece ser o vice-governador Lucas Ribeiro, do PP, que briga por espaços com o prefeito Cícero Lucena e o deputado Adriano Galdino, do Republicanos.

O PT, por algumas vozes, antes mesmo do PED realizado ontem, reivindicou o direito de ser ouvido pelo esquema do governador no processo de formação da chapa majoritária, com a prerrogativa de indicar nome para compô-la, e Cida Ramos, como presidente, terá que se desdobrar na interlocução para fazer valer esse mandamento – que é uma tática para atrair o próprio presidente Lula ao palanque de Azevêdo. Como se sabe, Veneziano, embora apoie Lula, também está aliado a bolsonaristas na Paraíba, como o senador Efraim Filho, do União Brasil, e o grupo Cunha Lima, hoje no PSD.

Um outro desafio diz respeito à reestruturação do Partido dos Trabalhadores na Paraíba, com atração de quadros que possam fortalecer bancadas proporcionais, já que a legenda praticamente definhou no Estado, não dispondo de representação mais expressiva, sobretudo, nos municípios.

A nível nacional, além de focar na campanha à reeleição do presidente Lula, o futuro presidente do PT precisará se dedicar a reconectar a sigla com suas bases, fortalecer novas lideranças e preparar a legenda para uma era sem o seu principal nome.

A eleição do novo dirigente nacional petista ficou “subjudice” em virtude de impasse ocorrido no diretório de Minas Gerais, mantendo-se a indefinição sobre quem comandará os rumos daqui para frente.

O favorito na bolsa de apostas continua sendo o candidato de Lula, Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP) e expoente da corrente Construindo um Novo Brasil, que defende um debate franco e honesto com a sociedade brasileira, além da construção de uma política de alianças a ser trabalhada Estado por Estado, considerando a realidade política de cada território.