Opinião

Veneziano busca uma saída após Efraim assumir ‘bolsonarismo’ - Por Nonato Guedes

Veneziano busca uma saída após Efraim assumir ‘bolsonarismo’ - Por Nonato Guedes

O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), candidato à reeleição em 2026, luta para se readequar ao cenário político paraibano depois que o senador Efraim Filho, do União Brasil, com quem vinha mantendo parceria, assumiu a pré-candidatura ao governo do Estado definindo-se como representante do ‘bolsonarismo’, num evento que contou com a presença da ex-primeira-dama do país Michelle Bolsonaro (PL) e do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Efraim também anunciou que Queiroga será um dos candidatos ao Senado na sua chapa e, no discurso, defendeu o ex-presidente na cruzada que move contra o Supremo Tribunal Federal (STF), pelo qual está sendo penalizado. A postura de Efraim foi o fato político da semana, antecipando definições no bloco que faz oposição ao esquema do governador João Azevêdo (PSB), integrado ainda por Veneziano e pelo ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSD, estes perplexos com o rumo dos acontecimentos e em compasso de espera quanto aos desdobramentos. Ciente das articulações ensaiadas por Efraim Filho com Marcelo Queiroga e outros expoentes do PL paraibano, Veneziano já havia deixado claro que não há possibilidade de subir num palanque bolsonarista, por coerência com sua atitude de alinhamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à reeleição. Na campanha eleitoral de 2022, com dois candidatos ao governo declarando-se eleitores seus (o governador João Azevêdo e Veneziano), Lula apoiou Veneziano no primeiro turno, prestigiando, inclusive, uma manifestação pública que ele realizou em Campina Grande, seu principal reduto. No segundo turno, com Veneziano fora da disputa e apoiando a candidatura do ex-deputado Pedro Cunha Lima, que concorreu pelo PSDB, Lula cravou apoio a João Azevêdo. Recentemente, chegou a estimular o governador a candidatar-se ao Senado, alegando que ele ofereceria uma grande contribuição ao debate dos temas nacionais. O governador, depois de alguma relutância, confirmou que disputará a vaga no próximo ano.

A aproximação entre Veneziano e Efraim deu-se no segundo turno das eleições de 2022 na Paraíba, quando ambos juntaram-se para eleger Pedro Cunha Lima e derrotar João Azevêdo, o que não ocorreu. No primeiro turno, Veneziano encabeçou chapa fornecendo duas vagas ao PT – a de vice-governador, preenchida por Maísa Cartaxo, mulher do deputado estadual Luciano Cartaxo, e a de senador, oferecida ao ex-governador Ricardo Coutinho, mas a aliança com o petismo e o apoio explícito manifestado por Lula não foram suficientes para ejetá-lo, sequer, ao segundo turno, vendo-se o emedebista na contingência de apoiar Pedro, que acolheu bolsonaristas em seu palanque mas manteve equidistância da disputa presidencial, alegando não ter afinidades nem com o governo do atual presidente nem com a corrente do ex-mandatário. Aquele foi um cenário atípico que, conforme se previa nos bastidores, dificilmente se repetiria em 2026. Efraim Filho tentou viabilizar o projeto de candidatura ao governo no pleito vindouro dentro do agrupamento formado por Pedro Cunha Lima e Veneziano Vital do Rêgo, mas enfrentou reticências de Pedro, que passou a afirmar ter descoberto estar vocacionado para o Executivo, descartando quaisquer outros cargos eletivos na disputa política – inclusive o de vice-governador, que fica na ante-sala do poder. Apesar das reticências, Cunha Lima preconizava a unidade das oposições para quebrar a hegemonia de quase duas décadas dos socialistas no Executivo paraibano e, mesmo colocando seu nome à disposição, deixava entrever que não faria disso um cavalo de batalha nem seria postulante a qualquer custo. Efraim decidiu, então, tomar as rédeas do processo no segmento oposicionista, não só se credenciando pela atuação parlamentar em Brasília como pela assistência às bases no Estado, inclusive, participando ativamente das eleições municipais de prefeito em 2024.

A candidatura do senador do União Brasil a governador foi se tornando quase natural e irreversível no agrupamento oposicionista, mesmo com pretensões idênticas agitadas quer por Pedro Cunha Lima, quer pelo deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, que Pedro substituiu na campanha de 2022. Nesse meio termo o PSDB definhou nacionalmente e o grupo Cunha Lima na Paraíba migrou para o PSD que era ocupado pela senadora Daniella Ribeiro. Esse movimento, conquanto ofertasse autonomia ao “clã” liderado por Pedro, não lhe assegurava a primazia da candidatura a governador no segmento porque, a esta altura, os passos de Efraim já estavam avançados. O senador do União Brasil passou a fazer costuras em outras frentes e foi assim que se aproximou do PL, a quem convenceu da tese de ser o melhor nome para a batalha à vista. Estão agora, Veneziano e Pedro, empenhados na própria sobrevivência, mas não fecharam as portas para diálogo com Efraim, que vai se impondo no terreno oposicionista local com as bênçãos do bolsonarismo ortodoxo. De concreto, os aliados de Efraim na política paraibana ficaram em “saia justa” diante do posicionamento isolado que ele adotou para a corrida presidencial.