gay não é ofensa

#TOFOLLIÉGAY? MAS #NÃOÉDASUACONTA – O que pode haver de pior por trás de selfies, hashtags, fakenews e nas profundezas da rede? - Por Francisco Airton  

Ok, o ministro é gay!

Parem as máquinas! Façam um “movimento”. Parem esse ônibus por que eu não me misturo! Mas, e o que é que eu tenho com isso? Em que a possível situação sexual de alguém pode influenciar a minha ou a sua vida? Principalmente quando essa condição é sugerida ou plantada por alguém, apenas, por que não foi atendido em seus anseios – achando-se, de certa forma, traído pela pessoa ou autoridade em questão – deixando irresponsavelmente que isso atinja o outro de forma bastante ofensiva? No caso, aqui, uma autoridade, pouco interessada em saber o que pensa ou deixa de pensar um anônimo qualquer! E quanto ao cidadão comum que não dispõe de nenhum campo de força que possa lhe proteger? A hashtag acusando o presidente do STF, Dias Toffoli de ser gay, foi uma atitude que veio carregada de vingança de moleque, que cansado de só xingar a mãe do outro, encontra outra palavra que acredita, ofenda muito mais! E é bem dessa forma que consigo enxergar tal atitude! Uma atitude – além de grosseira – muito burra!

A absoluta falta de leitura e o não acompanhamento dos acontecimentos desse admirável mundo moderno, não permite aos criadores da hashtag #ToffoliéGay, entender que chamar alguém de gay nesse século, deixou de ser ofensa já faz algum tempo!

Mas esse tipo de comportamento, – tanto para quem criou o xingamento quanto para quem o repercutiu em compartilhamentos – para criticar o ministro do STF pela decisão contra a censura e, favorável ao Porta Dos Fundos e a Netflix pelo especial de Natal em que se apresenta um Jesus Cristo gay e outros personagens bíblicos totalmente satirizados em suas condições religiosas, só ajuda cada vez mais ao país a passar recibo de nação em retrocesso! O atentado terrorista a sede do Porta Dos Fundos, chega a ser assustador quando paramos para refletir sobre “do que realmente pessoas são capazes”! As críticas ao presidente do STF, Dias Toffoli, chegaram aos assuntos mais comentados do Twitter. Não sei se pelo desemprego cada vez mais em alta, ou simplesmente pela absoluta falta do que fazer, o país voltou-se para o tema – ora para criticar, ora para discutir e asseverar a “perigosa” situação de um ministro do Supremo que deveria estar acima de qualquer condição humana e, por tanto, imune ao vírus das transformações!

Quando ordenou a retirada do especial do ar, o Tribunal de Justiça do Rio, através do desembargador Benedicto Abicair, atendeu a um pedido realizado pela Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura. A associação afirmou que “a honra e a dignidade de milhões de católicos foi gravemente vilipendiada pelos réus, com a produção e a exibição do Especial de Natal”. Por sua vez, ao tomar a decisão, o ministro destacou que o STF firmou entendimento sobre a liberdade de expressão! “Não se descuida do respeito à fé cristã (assim como de todas as demais crenças religiosas ou a ausência dela). Não é de se supor, contudo, que uma sátira humorística tenha o condão de abalar valores da fé cristã, cuja existência retrocede há mais de 2 mil anos (…)”, justificou Toffoli.

O fato de o Porta Dos Fundos haver produzido o Especial de Natal à sua maneira, não obriga o cidadão a concordar com o que foi produzido! Também não o obriga a assistir (pois, afinal, não se trata de uma TV aberta)! Então, qual o problema? Você assiste ou não! Só depende de você! Vivemos, todos, em um país livre, numa sociedade em que cada um pensa a sua maneira! Não podemos condenar alguém apenas por não compartilhar das mesmas ideias! O filme do Porta Dos Fundos – repito – não define o que eu ou você pensa ou acredita. É apenas o filme! E o meu direito de ir e vir? Ainda estamos numa democracia e isso me dá a condição de me expressar e de dizer o que acho das coisas! Não é você que tem que ditar a forma que devo me vestir ou de andar e pensar! A vida de cada um, pertence a cada um!

Seria muito bom que cada um fizesse a sua autocrítica e pudesse se colocar no lugar do outro. Nos dias atuais a intolerância tornou-se uma ferramenta bastante utilizada pelos tidos “cidadãos de bem”, ao ponto de essa pessoa enxergar o cisco no olho do outro, se esquecendo de tirar a trave que está no seu, e isso é bíblico! Então, o cidadão se acha no direito de invadir terreiros de candomblé, quebrar suas imagens, espancar e, até matar, líderes de outras religiões, em nome de um Deus que você acredita ser só seu! Jamais poderemos nos esquecer de que o Brasil é um país laico!

Por tanto, antes de querer levar à fogueira, o cristão que você entende que se desvirtuou, lembre-se que o seu pastor pode ser assumidamente gay, o padre que ministra a sua comunhão, pode ser pedófilo, gay (ou as duas coisas ao mesmo tempo), mas isso você parece não estar muito interessado em saber, não é mesmo? Enquanto humoristas fazem arte usando a religião como tema, outros – se achando no direito de impor a sua crença – partem para a violência e queimam templos, machucam os contrários de forma totalmente impune! É isso o que reza a lei e a sua religião? Acredito que não! Então porque não deixar que as pessoas vivam a sua maneira? O que nos importa saber que alguém acabou de “sair do armário”? O que isso muda em nossas vidas? Se um cidadão gostou de outro e quer se casar com este, esse é um problema (ou solução) dele! A lei está ai para garantir os seus direitos para ser o que bem entender! O que ele ou ela é ou deixa de ser, não o transforma em um ser diferente de qualquer outro! A forma como vive esse outro não compromete a minha vida absolutamente em nada! Até a sua forma homofóbica de encarar o outro, não lhe faz diferente pra mim – que convivo com você, numa boa – apenas torcendo para que você um dia acorde desse sono dantesco e passe a tratar os que para você são diferentes, como realmente iguais!

Censura pra quê? O cidadão usa suas redes sociais para selfies, falar mal ou bem de quem ele se importa, compartilha, curte e comenta sem medo de ser feliz ou de infernizar a vida de alguém… Então censura pra que? Democracia existe para isso e cabe a esse cidadão expor o seu caráter mostrando quem realmente ele é! Bem fez o ministro, que não se alterou – ou sequer tomou conhecimento do que lhe foi imputado! Diante de tudo isso, cabe a você não se deixar incluir nesse pacote que envolve os dissimulados, os políticos inescrupulosos, as milícias e outras organizações criminosas, além dos “cidadãos de bem”, religiosos que matam pela fé, amantes do dízimo, profanadores da fé, hipócritas e vendilhões, bancadas da bala e da bíblia no Congresso Nacional e os legítimos representantes da esquerda, direita, volver…! Estão, por fim, todos num mesmo pacote, defendendo suas causas e as suas verdades, pouco se importando com as causas e verdades do outro!

Então, não perca o seu tempo se importando se o cidadão é gay, se é católico, flamenguista, vascaíno (só pra ilustrar), cristão, bebe todos os dias ou nos finais de semana… Isso não nos acrescenta ou diminui em nada! O sol nasce todos os dias, independentemente da cor do seu vizinho ou do tipo da roupa que lhe veste! Saia, portanto, da sombra e mostre sem medo a sua cara! Diga o que pensa de tudo, sem, no entanto, querer impor sua vontade à vontade de quem quer seja!

Fonte: Por Francisco Aírton
Créditos: Por Francisco Aírton