A sucessão do governador João Azevêdo (PSB) entrou em pauta no seu esquema político desde que as urnas de 2022 confirmaram a reeleição do chefe do Executivo, abrindo espaço para que começassem a se revelar pretensões de expoentes da base. De lá para cá, pelo menos cinco nomes estiveram no radar do bloco governista como opções, começando por Deusdete Queiroga, o influente secretário de Infraestrutura, na hipótese de continuidade da hegemonia do PSB. Cogitaram-se ainda os nomes do deputado federal Hugo Motta (Republicanos), do vice-governador Lucas Ribeiro (PP), do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, reeleito pelo PP em 2024 e do deputado estadual Adriano Galdino, também do Republicanos, presidente da Assembleia Legislativa, que se auto-lançou no páreo confiante no apoio de colegas do Parlamento e na receptividade da cúpula do partido à sua postulação.
O mito da hegemonia socialista foi desfeito, em pouco tempo, pelo governador João Azevêdo, que passou a se referir à necessidade de continuidade do “projeto”, deixando claro que o projeto que comanda tem caráter coletivo, sendo compartilhado por expoentes de outras legendas que estão na sua base. Essa continuidade do “projeto”, na opinião de João Azevêdo, se impunha pelos resultados altamente promissores que têm sido colhidos do ponto de vista administrativo, com equilíbrio fiscal e financeiro do Estado atestado pela outorga repetida do rating A, da parte da Secretaria do Tesouro Nacional, e pelos investimentos executados em regiões do interior do Estado, além de obras anunciadas e deflagradas em João Pessoa e Campina Grande. Um cenário reforçado pela parceria com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo apoio de integrantes da bancada federal, sobretudo os que são alinhados com João. Testemunhos do êxito das ações de gestão têm sido dados por todos os que entraram no rol de cotados para a sucessão de Azevêdo no Palácio da Redenção.
Além do secretário Deusdete Queiroga, saiu da raia de prováveis cotados à disputa majoritária estadual o deputado Hugo Motta, que passou a ter diante de si um grande desafio: o de assumir encargos de responsabilidades na presidência da Câmara dos Deputados, entre os quais o de construir uma agenda propositiva para o país em paralelo com a solução de impasses que rondam o Parlamento e que mobilizam segmentos de uma opinião pública cada vez mais exigente e cansada com a demora de resultados que atendam aos seus interesses. Motta deverá ser candidato à reeleição no próximo ano e articulou, em seu lugar, para a chapa majoritária, o nome do seu pai, o prefeito de Patos, Nabor Wanderley como pré-candidato ao Senado, fazendo dobradinha com João Azevêdo. Ao mesmo tempo, Hugo Motta cozinhou em banho-Maria, até agora, a expectativa do deputado Adriano Galdino de vir a ser indicado como representante da legenda para concorrer ao Executivo, mesmo com o parlamentar dizendo-se defensor do presidente Lula e dobrando a aposta numa virtual candidatura.
O “parto laborioso” da sucessão do governador João Azevêdo sofreu uma inflexão quando foi ficando palpável a preferência do chefe do Executivo pelo nome do vice-governador Lucas Ribeiro, do Perogressistas, para representar o “projeto” nas urnas. Não apenas pelo fato de que Lucas tem compartilhado efetivamente esse projeto, dividindo ações administrativas em consonância com a orientação do titular, mas pela circunstância de que deverá assumir a titularidade com a hipótese de renúncia de João, em abril, para concorrer ao Senado. Sua pré-candidatura ao Executivo tornar-se-ia praticamente natural – e foi isto o que João Azevêdo passou a dizer de alto e bom som, ignorando pressões para que considerasse outros fatores como determinantes, a exemplo da realização de pesquisas de opinião pública. A influência de Lucas cresceu dentro do governo, com suas participações em plenárias do recém-encerrado Orçamento Democrático, e ele passou a ser admitido pelo próprio PSB como o candidato do esquema oficial, como deixou claro, ainda esta semana, o deputado federal Gervásio Maia.
A opção de João por Lucas Ribeiro provocou a primeira grande baixa no seu bloco – o anunciado distanciamento do prefeito Cícero Lucena, que se desligou do PP, contestou a legitimidade da indicação do nome do vice-governador e se declarou intransigente em idêntica postulação, por outro partido que será anunciado quando do seu retorno, esta semana, da romaria a Santiago de Compostela. O que vai ficando evidenciado é que o atual governador não parece estimulado a recuar nas suas preferências e nas suas avaliações sobre o processo sucessório estadual. Em última análise, a decisão da senadora Daniella Ribeiro, do PP, de desistir da reeleição, favoreceu estrategicamente os passos na direção da sacramentação do nome do filho dela para candidato ao governo. Nem mesmo os adversários acreditam que haja prognóstico viável de mudança desse cenário. Lucas tem ocupado cada vez mais espaços no palanque de João e já comanda movimentos de bastidores para se fortalecer junto a lideranças políticas municipais. Se tiver alguma mudança, será uma remota decisão de João de ficar no governo até o fim sem disputar o Senado porque, fora daí, não se cogita fato novo de impacto nas hostes oficiais.