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Saída do “clã” Santiago do PTB sinaliza rearrumação de forças políticas - Por Nonato Guedes

"Os remanescentes petebistas contam com a perspectiva de atraírem contingente razoável de prefeitos e lideranças municipais para o partido em que ingressarão e que até as últimas horas mantinha-se indefinido"

Nonato Guedes

A saída compulsória do “clã Santiago do PTB paraibano, com a chegada do ex-candidato a prefeito de João Pessoa, Nilvan Ferreira, que está sendo investido no comando do diretório regional, precipita a rearrumação de forças políticas no Estado para adaptar-se aos ventos da conjuntura nacional na perspectiva das eleições do próximo ano, que envolverão a presidência da República, governos estaduais e Congresso Nacional. O deputado federal Wilson Santiago e o deputado estadual Wilson Filho, que dividiam em condomínio familiar o controle da sigla trabalhista estão sendo praticamente ‘expulsos’ do PTB por desobedecerem orientação da cúpula nacional, enfeixada pelo ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), da tropa de choque do presidente Jair Bolsonaro para a campanha à reeleição em 2022.

Wilson Filho é líder, na Assembleia Legislativa, do governo João Azevêdo (Cidadania) que já deixou claro que não votará em hipótese alguma no atual presidente da República, podendo optar por uma candidatura própria, se esta for oficializada, ou compor-se de plano com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tende a ser o principal adversário de Bolsonaro. Claro que o “clã” Santiago articula sua desfiliação do PTB “em segurança” para não dar margem a medidas punitivas desgastantes que podem até acarretar perda de mandatos, dependendo de demandas judiciais que forem agitadas no rescaldo da desfiliação dos outrora petebistas. Os Santiago se consideraram vítimas de um processo violento, extremado, que Jefferson fez questão de capitanear para tornar exemplar a postura de alinhamento incondicional do PTB com o ideário direitista de Jair Bolsonaro. Mas não há caminho de volta nem, obviamente, clima para permanência na legenda.

Os remanescentes petebistas contam com a perspectiva de atraírem contingente razoável de prefeitos e lideranças municipais para o partido em que ingressarão e que até as últimas horas mantinha-se indefinido, não obstante terem sido formulados convites por direções de siglas diferentes. Wilson Santiago e Wilson Filho, por estarem mais em evidência na polêmica, têm prazo ainda até o próximo ano para definir novos rumos e até para querelar com a cúpula nacional petebista e com os novos dirigentes do PTB no Estado, se as posições se radicalizarem e exigirem reação drástica. Nilvan Ferreira, como era esperado, está entrando prestigiado na sigla, com o direito de assumir o comando do diretório estadual. Desse posto, poderá pavimentar pretensões eleitorais que tanto podem passar por um mandato na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal como abarcar até mesmo uma candidatura ao governo, contra João Azevêdo.

Nilvan, que até o pleito municipal de 2020 era um neófito na atividade política, sem histórico de disputa de mandatos relevantes, ganhou visibilidade quando, concorrendo pelo MDB que era presidido pelo senador José Maranhão, avançou para o segundo turno na disputa da Capital, contra Cícero Lucena (vitorioso), desbancando, na corrida, nomes de projeção como o do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e o do deputado federal Ruy Carneiro (PSDB), afora outros menos cotados, num leque de quatorze postulantes à sucessão de Luciano Cartaxo (PV). O próprio Nilvan sentiu na pele a experiência de ficar sem chão partidário quando José Maranhão morreu e ascendeu ao comando do MDB paraibano o senador Veneziano Vital, que alinhou o partido no bloco do governador João Azevêdo. Até então, o MDB refletia a liderança personalista de Maranhão, que se impôs ao cabo de embates travados com o “clã” Cunha Lima. Em tese, na conjuntura local, era um partido “independente”, sem maior atrelamento ao governo.

Desconfortável no MDB, Nilvan parece à vontade para ingressar com honras no PTB e ali construir uma trajetória política, para a qual demonstrou vocação desde que aceitou o desafio de concorrer à prefeitura da Capital paraibana lastreado apenas na sua audiência à frente de programas populares no rádio e na televisão. Além de afinado com Bolsonaro, Nilvan tem identidade inequívoca com a ideologia de direita ou com teses conservadoras que ganharam espaço depois da ascensão de Bolsonaro ao Palácio do Planalto em 2018. Por assim dizer, está no seu “habitat” e conta com o prestígio declarado da alta direção trabalhista. Pelas declarações que deu, ontem, o ex-candidato a prefeito de João Pessoa pretende desencadear ofensiva de filiações de agentes políticos que tornem o PTB uma força real no cenário político estadual, não a força coadjuvante que vinha sendo, a reboque de esquemas mais consolidados na conjuntura. Nilvan já foi posto à prova no papel de candidato e saiu-se bem. Agora será posto à prova na missão de dirigente partidário, cumulativa com a liderança política.

Há movimentos no interior de outros partidos na Paraíba projetando sinais da rearrumação que vai desaguar inevitavelmente quando das eleições gerais do próximo ano. No PSDB, por exemplo, o deputado federal Ruy Carneiro já se proclama “independente”, dentro do PSB haverá revoada de filiados tão logo venha a raiar a chamada “janela partidária” e partidos como o PSD, presidido pelo ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, poderão sofrer mutações na Paraíba como reflexo do cenário da disputa presidencial de 2022. Em regra, a maioria dos líderes políticos recorre ao chavão de que a pandemia de coronavírus é a grande prioridade, como pretexto para despistar especulações sobre articulações com vistas ao processo eleitoral. Mas, nos bastidores, são incansáveis justamente na articulação de alianças e na sondagem de possíveis candidaturas. As configurações em 2022 poderão reservar surpresas para os menos avisados ou para os inscientes no jogo político. A “diáspora” que ocorre nos partidos é uma questão crucial de sobrevivência para agentes políticos.

Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Nonato Guedes