Paraíba - A decisão do pastor e procurador da Fazenda Nacional Sérgio Queiroz (Novo) de compor a chapa da direita bolsonarista e conservadora da Paraíba nas eleições de 2026 acabou criando um impasse para o PL do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que contava com o nome dele como alternativa para disputar o Senado. Todavia, a chapa começou a ser implodida com o próprio gesto de Queiroga anunciando disposição de abrir mão de uma pré-candidatura a governador em favor do senador Efraim Filho, do União Brasil, que é quem lidera o bloco oposicionista no Estado com cacife para enfrentar o esquema do governador João Azevêdo (PSB). Também o deputado federal Cabo Gilberto Silva, que estava cogitado para concorrer ao Senado em dobradinha com Queiroz, passou a rever essa hipótese diante das intrigas de que poderia ser superado pelo pastor na corrida eleitoral e vinha refazendo seu plano de voo para voltar a disputar cadeira na Câmara.
A aproximação do PL com o senador Efraim Filho deu-se na perspectiva de que o parlamentar assegurasse palanque para uma provável candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro à Presidência da República. Essa hipótese é polêmica porque, como se sabe, Bolsonaro está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Mas bolsonaristas ortodoxos como Queiroga ou fanáticos como Cabo Gilberto Silva acreditam piamente que a inelegibilidade será revertida, com a mesma convicção com que fanáticos desinformados acamparam em frente a quartéis militares à espera da deflagração de um golpe que retiraria o presidente Lula da cadeira no Planalto e devolveria o ex-capitão, por gravidade, ao centro do poder. Na prática, o mundo terraplanista do bolsonarismo segue se alimentando de ilusões e fantasias sobre a tomada do poder a qualquer preço no país, inconformado com a derrota nas urnas que converteu o ex-mandatário no primeiro presidente da história política recente a não conseguir se reeleger para o posto.
No que diz respeito à realidade paraibana, a pré-candidatura de Marcelo Queiroga ao governo sempre foi encarada como manobra estratégica para ocupação de espaços e valorização da legenda na mesa de negociação com outros partidos de direita. Queiroga surpreendeu ao despontar como fenômeno nas eleições para prefeito de João Pessoa em 2024, avançando para o segundo turno contra Cícero Lucena (PP), que foi reeleito, mas, sabidamente, não construíra, ainda, capilaridade eleitoral no Estado suficiente para ejetá-lo a passos mais altos como a candidatura ao Executivo.
Apesar da sua tradição na atividade profissional como médico e da projeção alcançada quando ministro da Saúde em plena pandemia da covid-19, ele esteve bastante tempo afastado da Paraíba e não tem imagem massificada pelos bolsões eleitorais do interior. Dependia, justamente, de figuras como o Cabo Gilberto para ampliar sua performance e de alianças mais sólidas que lhe fornecessem uma espécie de guarda-chuva para o combate nas urnas.
A obstinação do senador Efraim Filho em perseverar como candidato a governador, atraindo opositores do governador João Azevêdo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi a oportunidade de ouro encontrada pelos bolsonaristas acantonados no PL e partidos subsidiários para ocupar, também, espaços na conjuntura local. Efraim Morais, o pai do senador, comandou orquestração eficiente contra um dos governos de Lula quando era expoente do PFL, chegando a ser mentor de uma CPI dos bingos que o então presidente da República, em tom de irritação, qualificou de CPI do fim do mundo. Efraim Filho representa a versão repaginada e modernizada da linha política do pai, com maior poder de articulação e prestígio no Congresso Nacional, ocupando atualmente a liderança do partido União Brasil e a presidência da Comissão Mista de Orçamento.
No plano político local, credenciou-se à frente do ex-deputado Pedro Cunha Lima para liderar as oposições no confronto dramático de 2026 pelo governo.
Originalmente o enredo que vinha sendo desenhado previa a possibilidade de duas candidaturas de oposição ao governo no primeiro turno na Paraíba – a de Efraim, e a do PL, que seria ocupada por Marcelo Queiroga, pelas suas ligações mais estreitas com o ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Mas sempre esteve no radar, desde logo, a necessidade de uma convergência, diante do interesse de infligir uma derrota ao esquema situacionista, quebrando hegemonia de quase duas décadas no cenário da política paraibana. Efraim Filho, com experiência profissional e senso de organização e disciplina, dedicou-se a costurar um pacto de unidade, desencadeando tratativas que se revelaram frutíferas devido a fatores externos conspiratórios.
Queiroga, ultimamente, convidou Efraim até mesmo a se filiar ao PL para viabilizar a candidatura diante do impasse pelo controle da federação com o PP, mas o impasse de agora põe o PL, naturalmente, na berlinda, e no colo de Efraim, para a própria sobrevivência de políticos que vão disputar mandatos e para assegurar o hipotético palanque destinado a Bolsonaro ou substituto. O pastor Sérgio Queiroz, movido por desinteligências com o núcleo bolsonarista paraibano, jogou a pá de cal nas ambições autonomistas do PL e deixou o partido refém de políticos com maior densidade, como o senador Efraim Filho, que ganha tranquilidade para dar as coordenadas na oposição.