
A afirmação da senadora Daniella Ribeiro, ontem, em Campina Grande, de que terá de abrir mão da candidatura à reeleição se o esquema comandado pelo governador João Azevêdo (PSB) confirmar o apoio à candidatura do vice Lucas Ribeiro, foi encarada nos meios políticos como ensaio de xeque-mate do Progressistas na formação da chapa para as eleições majoritárias de 2026. A senadora parece ter dado seta na direção do próprio chefe do Executivo e, principalmente, na direção do Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que tem reivindicado protagonismo com o asseguramento da cabeça de chapa. Não foi a primeira vez que Daniella admitiu a hipótese de desistir da reeleição, mas certamente foi a primeira em que ela se fez mais direta, mais categórica, falando sobre um assunto que lhe interessa bem de perto.
Nas especulações que rondam 2026, uma candidatura da única senadora da Paraíba a um segundo mandato na Casa Baixa vinha sendo admitida como natural, em razão da própria atuação que ela tem desenvolvido, com passagens pela presidência da Comissão Mista de Orçamento do Congresso e liderança da Bancada Feminina no Parlamento. Aliados e adversários de Daniella cogitaram, sempre, a possibilidade de intransigência por parte dela no direito de candidatar-se à recondução legislativa – mas a perspectiva de figuração de dois Ribeiro na chapa vinha servindo de pretexto para a queimação por expoentes do Republicanos e até do PSB contra a candidatura de Lucas. Calcula-se que a atitude firme de Daniella seja resultado da articulação que o irmão dela, deputado federal Aguinaldo Ribeiro, conduz para acomodar os interesses dentro do PP sem prejudicar os espaços para Lucas se afirmar como opção de candidatura ao Executivo no esquema. A construção atribuída a Aguinaldo tem sido silenciosa perante a mídia mas é do conhecimento do governador João Azevêdo, proclamado como líder do processo.
A desistência de Daniella em concorrer à reeleição visaria mais dois objetivos: 1) neutralizar, dentro do Progressistas, a pretensão do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, de ser o candidato à sucessão estadual; e 2) facilitar os movimentos do governador João Azevêdo dentro da sua base para pacificar uma solução sobre a chapa majoritária. É claro que Cícero, se estiver obstinado em perseguir a conquista do governo, tem a opção de abandonar os quadros do PP, filiar-se a outra legenda e assumir candidatura concorrente ao Palácio da Redenção. Mas analistas políticos consideram que não se vislumbra essa possibilidade, independente das visitas ensaiadas por Lucena a municípios do interior do Estado dentro da estratégia de consolidar uma liderança alternativa no cenário paraibano. Em última análise, o “clã” Lucena trabalha para tentar emplacar o deputado federal Mersinho numa vaga de vice ou de candidato a senador, hipótese que fica prejudicada com a decisão de Daniella de não postular a reeleição.
O posicionamento de Daniella, externado num dia especial para Campina Grande, que recebeu visitantes ilustres como o presidente da República em exercício Geraldo Alckmin (PSB) e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), em meio ao desenrolar de festejos juninos com atrações nacionalmente consagradas, constitui o grande fato novo, de impacto na correlação de forças do jogo político na Paraíba e nos contornos do processo de sucessão do governador João Azevêdo, devendo ser sequenciado por desdobramentos nas próximas semanas, com reflexos no esquema de sustentação oficial e no agrupamento de oposição, chefiado pelo senador Efraim Filho, do União Brasil, que ambiciona ser pré-candidato ao governo do Estado. A oposição vê-se diante da necessidade de reformular táticas e de montar uma nova estratégia levando em conta duas previsões iminentes: a do fortalecimento da pré-candidatura de Lucas e, em outra ponta, a robustez da candidatura de João Azevêdo ao Senado.
Sobre este segundo ponto, o governador, também falando em Campina Grande à imprensa, reiterou que a pré-candidatura continua sendo prioridade ou espécie de Plano A e que a perspectiva de sua desincompatibilização da titularidade do Executivo é cada vez mais real, o que sinaliza que ele está se motivando a concorrer, em meio aos estímulos recebidos de correligionários fiéis e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o recente congresso nacional do PSB. O que João Azevêdo não aceita é ser pautado por uma coletiva de imprensa sobre sua definição, até porque, conforme deixou claro, precisa fazer a “construção” do projeto de candidatura em articulação com seus aliados e tendo em vista a preservação da unidade do esquema. Contrariando as falas formais de alguns expoentes políticos, o processo sucessório na Paraíba, ontem, em Campina Grande, pode ter avançado substancialmente no desenho, dentro do bloco governista, acima das expectativas até então reinantes e concentradas em muito jogo de cena e pouca resolução por parte de atores da cena estadual.