Opinião

Personagens do nosso tempo: Juca Pontes, um ser de luz - Por Abelardo Jurema Filho

Personagens do nosso tempo: Juca Pontes, um ser de luz - Por Abelardo Jurema Filho

Jornalista e membro da APL O seu abraço era diferente, um afago. Cabeça recostada no ombro daquele a quem cumprimentava com sinceridade e calor humano. A voz serena, não se exaltava nem quando estava contrariado. De sua boca, jamais ouvi um comentário desairoso ou maledicente. Nem mesmo uma crítica que não viesse acompanhada de uma atenuante. Era um homem da paz, inspirador, conciliador, que continha dentro de si a luz perene do Espirito Santo.
Convivi com Juca Pontes durante muitos anos. Contemporâneos de uma geração de jornalistas, apaixonados pela palavra escrita, pelo fascínio das letras, pelo seu poder de irradiação do conhecimento e da sabedoria. Juntos, desde os tempos de O Norte e da Oficina as de Propaganda, ao lado de Milton Nóbrega (IM), Martinho Moreira Franco (IM) e Alberto Arcela, realizamos diversos trabalhos editoriais que nos orgulharam e ficaram marcados em nossa biografia.
Como revisor, não existiu ninguém mais competente. Como editor, era insuperável na titulação da obra, na sonoridade das palavras, na divisão dos capítulos, no olhar sensível e crítico que valorizavam ainda mais o trabalho do autor. ]Dois dos meus livros – Cesário Alvim 27 – Histórias do Filho de Um Exilado (2010) – e “A Casa das Letras” (2022) tiveram a sua assinatura e a sua parceria indispensável à sua qualidade gráfica e editorial.
Foi um dos fundadores do grupo Sol das Letras , responsável pela criação do Pôr do Sol Literário, oferecendo oportunidade para novos autores e resgatando e motivando escritores que estavam esquecidos e sem espaço na agenda cultural da cidade e do estado.
Como homem e como cidadão era exemplo de integridade, dignidade e honradez. Foi pai e mãe dos seus quatro filhos, desempenhando as duas funções com total dedicação. Sacrificou-se. Desdobrou-se em dois para manter a casa e a família; e, se possível fosse, daria até de alimentar os filhos com o próprio leite ou com o próprio sangue.
A alma, generosa e boa; o caráter firme e transparente; a personalidade, simples, gentil e encantadora, faziam-no um homem admirado por todos que se acercavam dele. Reservado e tímido, não simpatizava com os holofotes e sempre gostou mais de trabalhar atrás das câmeras do que na frente delas. Julgo que Juca Pontes era um ser de luz.
Aparecia, quase que simultaneamente, em todos os lugares ao mesmo tempo, como um espírito iluminado a levar o amor e a fraternidade; a dar exemplos de bondade, de compreensão. A nos estimular a viver e a ser feliz. Servir, servir e servir. Se doar. Abraçar, amparar, consolar. Estimular e encorajar.
O poeta Juca Pontes foi embora sem dar chances de despedida, talvez porque, de algum lugar, ele continue a nos proteger e acalentar os nossos corações, aquecer os nossos sentimentos, clarear as nossas ideias, mostrando a direção, indicando os caminhos e se fazendo presente sempre que precisarmos de sua palavra, do seu afeto e da sua orientação.
• Juca Pontes morreu no dia 8 de abril de 2023, há exatamente um ano, aos 64 anos, vítima de uma trombose e derrame pleural. Era natural de Campina Grande, mas radicou-se em João Pessoa. Estava com dois livros inéditos para serem publicados.