Paraíba - O ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSD) cada vez mais se engaja à pretensão do senador Efraim Filho, do União Brasil, de concorrer ao governo do Estado nas eleições de 2026, abrindo mão de postular novamente o Palácio da Redenção. Nas últimas horas, Pedro reiterou que a possibilidade de ser candidato liderando a chapa majoritária não é obsessão nem sangria desatada para ele e que o seu interesse é participar do movimento das oposições para a tomada do poder, defenestrando o esquema do governador João Azevêdo, contra quem Pedro se bateu em 2022 e foi derrotado. O que lhe atrai, antes como agora, é a perspectiva de implementação de um novo modelo administrativo – bandeira que permeou o discurso de Pedro na disputa majoritária lá atrás, quando sua performance surpreendeu os analistas e o empurrou para o segundo turno.
Certamente tem pesado nas avaliações de Pedro a insistência de Efraim em ter o seu apoio, bem como o reconhecimento de que o senador tem avançado nas tratativas para se firmar postulante. Efraim já havia conquistado o carimbo de candidato do bolsonarismo ou das forças de direita na Paraíba, coerente com o seu perfil no Congresso que passou de “independente” para oposição ao governo do presidente Lula, tendo como efeito colateral o combate, a nível local, à liderança do governador João Azevêdo (PSB) com quem rompeu nas preliminares da campanha de 2022. O parlamentar deflagrou uma hábil estratégia de ocupação de espaços, ampliando o arco de apoios de lideranças políticas para respaldar seu projeto de chegar ao Palácio da Redenção. Favoreceu-se, para tanto, das vantagens do mandato que exerce, entre as quais a de se tornar interlocutor credenciado no diálogo com líderes políticos e com representantes de segmentos da sociedade alinhados com suas posições ideológicas.
Da parte de Pedro, embora não passe recibo de dificuldades para manter-se à tona no cenário político estadual por não dispor de um mandato ou de uma tribuna, ele se ressente de instrumentos de poder para viabilizar uma suposta caminhada para retomar o papel de candidato ao Executivo. Numa comparação como senador Efraim Filho, este aglutina mais, até em virtude das suas posições autênticas, corajosas, por mais polêmicas que sejam, a exemplo da sua condição de candidato bolsonarista. Na eleição para governador em 2022, Pedro Cunha Lima fugiu da polarização Lula X Bolsonaro e clamou por uma terceira via como solução para os impasses institucionais, o que lhe permitiu não se comprometer com nenhuma das duas candidaturas favoritas ao Planalto. Tal não se dá com Efraim, que já descartou a neutralidade e tomou seu lado para as eleições presidenciais de 2026, apostando tanto num candidato com sobrenome Bolsonaro como numa provável candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos.
A oposição na Paraíba tende a apresentar pelo menos dois candidatos ao Executivo no próximo ano, diante da iminente confirmação de que o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (sem partido) vai mesmo entrar no páreo. O grande articulador da “opção Cícero” passou a ser o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que postulará a sua reeleição em 2026 mas estava sem palanque para o governo do Estado, já que apesar de se dar bem com Efraim Filho não se identifica com o ideário que ele professa. A prova dos noves sobre uma candidatura de Cícero está para ocorrer nas próximas horas, com sua fala à imprensa após o retorno da Caminhada a Santiago de Compostela. Efraim tem deixado claro que dá as “boas-vindas” à chegada de Cícero ao campo da oposição, enquanto o governador João Azevêdo pontua que não há mais espaço para o retorno do prefeito da Capital à antiga base da qual teve apoio para eleger-se prefeito e reeleger-se em 2024, dando combate ao ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, do PL.
A título de rememoração, o ex-deputado Pedro Cunha Lima citou, ontem, o embate de 2022, aludindo à estrutura da máquina administrativa estadual como grande fator adverso para suas pretensões. No íntimo, ele sabe que decisivo não foi apenas o peso da máquina, mas o próprio prestígio do governador João Azevêdo, um líder emergente investido na condução do seu próprio destino político após o rompimento com o antecessor Ricardo Coutinho. Mas é fora de dúvidas que o filho do ex-governador Cássio Cunha Lima teve um desempenho expressivo nas urnas e injetou um sopro de renovação no processo político-eleitoral paraibano, como consequência da passagem de bastão no seio de grupos tradicionais que já se revezaram no poder por bastante tempo. No esquema governista, a dados de hoje, está consolidada a pré-candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro, do PP. A oposição, pelo andar da carruagem, deverá se dividir entre Efraim Filho e Cícero Lucena na tentativa de alçar ao poder estadual, quebrando o jejum de mais de uma década.