
A propósito da luta do vice-governador Lucas Ribeiro (PP) para ser indicado candidato à sucessão de João Azevêdo caso este se afaste para concorrer ao Senado em 2026, há quem recorde dois casos análogos consecutivos que se registraram na história política recente da Paraíba: a investidura do vice-governador José Maranhão (PMDB) na titularidade com a morte de Antônio Mariz em 1995 e a ascensão do também vice Roberto Paulino (PMDB) à chefia do Executivo em 2002.
Maranhão candidatou-se à reeleição em 98 e foi consagrado com uma das maiores votações proporcionais do país, derrotando o então deputado Gilvan Freire (PSB). Quando Maranhão se desincompatibilizou para pleitear o Senado, em 2002, Paulino assumiu o governo e engrenou a candidatura à reeleição, enfrentando como principal adversário Cássio Cunha Lima (PSDB). Paulino logrou empurrar o confronto para o segundo turno, mas, neste, foi batido por Cássio, que tinha como vice Lauremília Lucena, mulher do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena.
A disputa de 2002 marcou o rompimento entre os Cunha Lima (Ronaldo e Cássio) com José Maranhão e a migração deles para o PSDB, que emergiu com o rótulo de partido tucano. A cisão no PMDB teve lances dramáticos em 98 no Campestre Clube, em Campina Grande, quando Ronaldo Cunha Lima, com o dedo em riste voltado para Maranhão, pediu que este lhe passasse o cargo pois “não estava sabendo administrar”.
No episódio da ruptura, Paulino – político de expressão no Brejo, a partir de Guarabira, manteve-se leal a Maranhão e ao partido (atualmente ocupa cargo estratégico no gabinete do governador João Azevêdo).
Ficou surpreso ao ser escolhido vice de JM, pois circulava uma lista com nomes como o de Gervásio Maia (pai), Nominando Diniz, José Luiz Clerot e Roberto Cavalcante.
Segundo afirmou em depoimento, Paulino considerou que vivia uma luta desigual com os outros nomes e que, pessoalmente, defendia Ivandro Cunha Lima como ideal para compor a chapa com Maranhão e manter o PMDB pacificado, mas concordou em que a convivência era insustentável.
Como vice, o líder brejeiro respeitou o protagonismo do titular na cena sem deixar de colaborar com a administração, muitas vezes resolvendo pendências de repercussão menor. Essa afinidade levou Maranhão a manejar os cordéis para que ele fosse o candidato à sua sucessão, uma vez esvaziado o PMDB da influência exercida pelos Cunha Lima.
Mas, colmo observa o historiador José Octávio de Arruda Mello em alentado ensaio sobre a disputa, o pleito teve caráter disputadíssimo, tanto assim que somente foi decidido na reta final.
O eleitorado urbano dos principais colégios eleitorais do Estado desempenhou papel decisivo em 2002, porém, as oscilações verificadas no curso da campanha desnortearam os analistas políticos.
Em maio daquele ano, a candidatura de Cássio Cunha Lima, coligada com o PFL de Efraim Morais, parecia imbatível. “Cássio nem adversário possuía, porque o situacionismo perdeu tempo, flutuando entre as candidaturas de Tarcísio Burity, Gervásio Maia, Marcondes Gadelha e Ney Suassuna”.
A eleição paraibana foi casada com a opção presidencial, despontando Lula como majoritário contra José Serra nas diferentes localidades, e pela mão do PT, conforme José Octávio, o PMDB recuperou estratos sociais intermediários, principalmente em João Pessoa.
Roberto Paulino saiu do primeiro turno com 637.239 votos contra 752.297 sufrágios dados a Cássio.
Curiosamente, os dois lados entraram no segundo turno alardeando vitórias – Paulino por estender o pleito à prorrogação, Cássio por haver ratificado o favoritismo, com maioria de 115.058 votos.
Houve, de fato, crescimento da candidatura de Paulino, que chegou a ter apoio declarado de Lula, selando-se a coligação PT-PMDB, mas o esquema de Cássio soube organizar o contra-ataque fulminante e reagir a partir de Campina Grande.
Disse José Octávio que o desempenho de Roberto Paulino só não foi melhor porque não venceu.
Cássio foi ungido no segundo turno com 51,35% dos votos contra 48,65% atribuídos a Paulino.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba