No dia 19 de setembro de 1958, o jornal A União publicava uma intrigante matéria informando que, após ser confrontado por estudantes do Lyceu Paraibano, em João Pessoa, dirigida à época pelo professor Manoel Trigueiro, um docente, entre as figuras ilustres da época, havia anunciado sua renúncia à cátedra, no histórico colégio público pessoense.
O episódio teria acontecido após a ida, ao educandário, do senador Ruy Carneiro, que ocupara a Interventoria do Estado da Paraíba durante a ditadura Vargas, levado pelas mãos do referido professor, para anunciar algumas concessões em favor da instituição.
Naquele momento da política paraibana, Ruy e José Américo de Almeida, que havia governado o estado na primeira metade daquela década, disputavam, renhidamente, a única vaga ao Senado, para o estado, no pleito que deveria ocorrer em novembro, da qual o primeiro sairia vitorioso.
Depois do ato, os alunos cercaram o mestre, com críticas a Carneiro. Indignado, o professor não apenas se demitiu, como largou o verbo, na imprensa.
Em defesa de seu ato, argumentou ter sido desacatado pelos alunos, que, de quebra, tinham vaiado Ruy Carneiro. E mais: sacou de argumentos morais e acusou os estudantes do Lyceu de andarem escrevendo frases de baixo calão e desenhando, segundo ele, órgãos genitais nos quadros-negros do colégio.
A matéria que divulgou tudo isso foi assinada pelo jornalista Aurélio de Albuquerque, também professor no colégio estadual, anos depois eleito para a Academia Paraibana de Letras, na qual aproveita para desmentir as acusações e defender a moralidade no Lyceu. Não fica claro, mas acho que Alfredo se alinhava com Rui e Aurélio com José Américo.
Não fiquei sabendo se o professor demissionário voltou ao colégio, mas cheguei ao conhecimento do fato após pesquisas, incentivadas por solanenses amigos, sobre o conterrâneo ilustre Alfredo Pessoa de Lima, justamente o professor em pauta.
Mas quem foi ele?
Alfredo Pessoa de Lima, nasceu em 26 de agosto de 1912, em sítio localizado em Bananeiras, município ao qual a atual Solânea pertencia. Apesar de pais agricultores, Alfredo conseguiu terminar o curso superior na elitista Faculdade de Direito do Recife, onde só estudava a fina flor da sociedade da época.
Ao lado do então deputado estadual Humberto Lucena, Alfredo Pessoa de Lima teve papel de destaque no processo de emancipação de Solânea, sendo um dos elaboradores do memorial em defesa da proposta e, ainda, um dos oradores a apresentá-la no plenário da Casa, embora não fosse deputado. Era considerado excelente orador.
A sessão histórica aconteceu em 26 de novembro de 1953, sob o governo estadual do mamanguapense José Fernandes de Lima, que substituía o governador eleito, José Américo de Almeida, licenciado para ocupar o cargo de Ministro da Viação, no governo Getúlio Vargas.
Alfredo Pessoa de Lima nomeia um dos principais educandários de Solânea, além de ser nome de rua, na cidade, tendo sua memória bastante cultuada pelas novas gerações.
Ele faleceu em 29 de novembro de 1954, após complicações renais, segundo o memorialista Israel Costa, em seu canal de You Tube.
A foto, de José Marques, em A União, é da Escola Estadual Alfredo Pessoa de Lima, em Solânea.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.