PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Três educandários pessoenses do Século XIX - Por Sérgio Botelho

No século XIX, enquanto o Brasil enfrentava a turbulência de se reinventar como nação independente, João Pessoa (então Parahyba) testemunhava o surgimento de três pilares educacionais que resistiriam ao tempo: o Lyceu Paraibano (hoje, Escola Cidadã Integral Lyceu Paraibano), a Escola Normal (atualmente, Instituto de Educação da Paraíba) e o Colégio Pio X (que nasceu diocesano, e hoje se denomina Colégio Marista Pio X).

Tudo começou em 1836, quando o Lyceu abriu suas portas como um farol educacional em meio à escuridão do analfabetismo. Enquanto o Brasil ainda engatinhava na organização de seu ensino público, o colégio surgiu como uma ousadia: um espaço onde jovens (em grande parte, filhos da elite agroaçucareira e burocrática do Império) aprendiam sob a égide de mestres que buscavam imprimir rigor no processo ensino-aprendizagem.

Em 1884, a cidade ganhava a Escola Normal, um projeto audacioso para a época: formar professores capazes de alfabetizar as massas. A Escola Normal, porém, era um paradoxo: enquanto pregava a modernidade pedagógica, seus primeiros bancos eram ocupados quase exclusivamente por moças brancas da aristocracia.

Poucos anos depois, a República, proclamada em 1889, trouxe ventos de mudança: o currículo incorporou ideias positivistas, afastando-se da religião, e o sonho de uma educação pública e laica começou a ganhar forma.

Enquanto o Lyceu e a Normal pavimentavam o caminho laico, a Igreja Católica entrava em campo. Em 1894, a Diocese da Paraíba, recém-instalada, inaugurava o Colégio Pio X, uma fortaleza do catolicismo cada vez mais romanizado.

Hoje, esses três gigantes históricos sobrevivem não como relíquias empoeiradas, mas como testemunhas vivas. Em suas salas de aula, o passado dialoga com o presente: tablets convivem com carteiras, professores debatem inclusão de gênero nos mesmos lugares que outrora se se pautavam pela estrita moral da época.

A história desses educandários é parte da história da própria cidade: uma trajetória de contradições, avanços e recuos, onde educação sempre foi mais que instrução – foi arma de transformação, campo de batalha ideológico e, acima de tudo, sonho coletivo de um povo que insiste em escrever seu futuro sem apagar o passado.

João Pessoa, afinal, não seria a mesma sem o eco das lições que, há bem mais de um século, ressoam nesses três históricos colégios.

(No prédio da foto, do antigo conjunto jesuítico, o Lyceu Paraibano atravessou o Século XIX e parte do XX.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.