
Paraíba - Ainda nem o sol havia banhado toda a praça João Pessoa, e lá estava ele perfilado junto à estátua do ex-presidente homenageado com o nome do logradouro. Naquele 26 de julho de 1964, a morte de João Pessoa completava 34 anos.
Há exatamente três décadas, desde que foi inaugurado o monumento chamado Altar da Pátria, celebrando o ex-líder paraibano, o senhor José da Silva Braga (com 70 anos, em 1964) repetia o gesto em sua homenagem, antes da chegada de qualquer autoridade.
O lenço vermelho, da Aliança Liberal, não faltava no pescoço. Havia também os meninos que ele trazia da vizinhança da Rua São Miguel, onde morava, todos fardados, para dar conotação mais grave ao momento.
Por toda a praça, com a ajuda das crianças e de vizinhos arregimentados para o ato, espalhava flores, tornando o ambiente festivo para celebrar memória do seu herói. Logo as autoridades constituídas chegariam para o ato memorial costumeiro.
Desde as décadas de 1920 e 1930, José da Silva Braga ganhava o pão de cada dia vendendo raspadinha gelada pela cidade. Daí ganhou o apelido de Tenente da Gelada. Contudo, sua fama de revolucionário de 1930 veio da profissão de engraxate, exercida no pavilhão do Ponto de Cem Reis, que ficava alinhado com a Visconde de Pelotas, existente desde a construção da praça, oficialmente Vidal de Negreiros, após a derrubada da Igreja do Rosário dos Pretos, no local.
Há relato de que estando o Tenente da Gelada em seu posto de engraxate, logo que terminada uma agitada sessão na Assembleia Legislativa, que funcionava no prédio que até pouco tempo serviu ao Comando da Polícia Militar, entre as praças Aristides Lobo e Pedro Américo, sentou-se em sua cadeira um deputado perrepista, adversário de João Pessoa, que logo lhe deu ordem para engraxar suas botinas.
Segundo o relato, o “tenente” levantou-se, pôs o seu chapéu rubro-negro na cabeça, e respondeu altivamente ao velho parlamentar — “estas mãos liberais não engraxam botinas de um perrepista da sua marca”. E retirou-se, enquanto a multidão que se aglomerara em torno de ambos vaiava o adversário de João Pessoa.
Garantido por esse perfil histórico é que o “Tenente da Gelada” se arvorou em guardião permanente da memória de João Pessoa, junto ao Altar da Pátria. Dois meses depois daquela sua última vigília cívica, a de 26 julho de 1964, José da Silva Braga morreria ingloriamente atropelado nas proximidades do Ponto de Cem Reis.
O então governador Pedro Gondim custeou o sepultamento e mandou instalar água e luz na casa da viúva, que nunca havia gozado desses avanços tecnológicos básicos.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.