Em dezembro de 1862, quando o Brasil ainda funcionava na base do trabalho escravo, a cidade da Parahyba, na Província da Parahyba do Norte, viu nascer a Sociedade de Caridade São João Evangelista. A entidade, presidida por Maria Barbara Gomes de Souza Gayoso, vingou com a meta explícita de libertar e amparar pessoas escravizadas, incorporando homens e mulheres como sócios.
O registro foi feito pela mestra em História pela Universidade Federal da Paraíba, Aldenize da Silva Ladislau, em trabalho acadêmico sob o título “Vista do Movimento abolicionista na Parahyba do Norte a partir da atuação de Maria Barbara Gomes de Souza Gayoso (1862-1864)”. Segundo a pesquisa, trata-se da mais antiga associação abolicionista registrada na Paraíba, peça fundamental para compreender a precocidade e a singularidade do movimento local.
Maria Gayoso nasceu em São Luís, em 1838, onde, em 1859, casou-se com o conterrâneo Antônio de Brito de Souza Gayoso, também maranhense, que foi deputado em seu estado e ainda presidente da Província do Piauí. Na fundação da entidade abolicionista na Paraíba, quando exercia o cargo de Chefe de Polícia da Província equivalente ao que hoje se denomina Secretário de Segurança, já residindo na capital paraibana, portanto, foi escolhido como seu vice-presidente.
Em suas edições de 13 de abril, de 23 de maio e de 27 de maio de 1864, O Publicador, primeiro jornal diário da Paraíba, é possível ler uma sequência de matérias relativas à Sociedade Caridade São João Evangelista. Segundo seu artigo 2º, que segue por mim transcrito ipsis litteris, com o português atualizado, “ela tem por fim principal — dar liberdade aos escravos —; e por secundário — socorrer e livrar da miséria os órfãos menores desamparados, e as viúvas honestas desvalidas, com preferência dos sócios, e praticar outros quaisquer atos de urgência beneficência”
As atas de reuniões da sociedade revelam reuniões regulares, concessão frequente de alforrias e participação efetiva dos próprios libertos nos encontros. Do ato de fundação participaram outras mulheres, a exemplo de Anna Alexandrina de Lima Mindello, Anna Genoveva Rodrigues da Silva, Anna Paulina Rodrigues Chaves, Clementina Gomes de Sousa Shalders, Luiza Gomes de Souza e Maria Francisca de Moura. Outras, apenas citadas no O Publicador, como “esposas de”, não tiveram seus nomes gravados para a posteridade.
A sociedade presidida por Maria Gayoso mostrou que o abolicionismo paraibano registrou protagonismo feminino. Ao promover alforrias, mobilizar a elite letrada por meio da imprensa e legitimar a voz das mulheres, a iniciativa coloca a Paraíba no mapa dos movimentos que, passo a passo, ajudaram a minar o regime escravista.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.