PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O resistente Cuscuz Bondade - Por Sérgio Botelho

Lembrar do Cuscuz Bondade desperta uma saudade profunda. Degustá-lo novamente é um regresso adorável à memória afetiva, transportando-nos de volta à João Pessoa de décadas atrás (afinal, paladares e cheiros atuam como fantásticas máquinas do tempo).

Foi exatamente o que fiz ontem, no Ponto de Cem Reis, e já havia feito meses atrás, na Torre. Naquele marcante bairro de João Pessoa, com raras manhãs de falha, passa um vendedor, rigorosamente à moda antiga (quero dizer, de tabuleiro na cabeça e realejo na boca), do velho cuscuz embebido em leite de coco, com um sabor que ninguém consegue replicar em casa.

Nunca vi dar certo.

Além dos bairros Jaguaribe, Torre e Expedicionários, alcançados por aqueles vendedores, na Praça Vidal de Negreiros, vizinho ao antigo e desgastado edifício Duarte da Silveira, há uma lanchonete especializada em café da manhã, entre outras refeições, que também serve o Bondade.

Ontem, de passagem pelo Centro (onde é preciso chegar cedo para conseguir estacionamento, apenas para reafirmar que a região está muito mais viva do que muitos imaginam), parei para provar. E posso garantir: o sabor do Bondade continua aquele com o qual nos encantávamos.

Infelizmente, não tem mais a mesma dimensão socioafetiva de outrora, quando formava entre as iguarias mais desejadas pelas crianças nos preparativos para a escola. Naquela quadra, o som do realejo do vendedor, lembrando um rudimentar órgão de tubos, aguçava diariamente o apetite da meninada, pela cidade inteira.

Eles faziam parte dos inúmeros mascates ambulantes, como padeiros com seus pães, verdureiros com suas frutas e legumes, e vendedores de sapoti, cavaco chinês, alfenim e tantas outras guloseimas que atiçavam os desejos infantis, para desespero dos pais.

Mas o Bondade se destacava: não eram só as crianças, conquistava também os adultos, tornando-se praticamente uma unanimidade.

Contudo, sentir o prazer de saborear o Cuscuz Bondade, ainda hoje, apesar das transformações do contexto urbano e social ao longo dos anos, é uma alegria imensa.

E a não ser que a gastronomia mude radicalmente no decorrer da história (o que é possível), e as relações humanas, também, a iguaria se mostra como uma arte de cozinha, das mais simples possíveis, que parece bem resistente ao tempo.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.