PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS:  O migrante busto de Epitácio Pessoa - Por Sérgio Botelho

Neste domingo, 1º de junho, falamos sobre a importância dos monumentos cívicos e históricos em João Pessoa — e dos seus problemas. Nesta segunda-feira, 2, foco especificamente no busto de Epitácio Pessoa, único paraibano a ocupar a Presidência da República, até hoje, o que aconteceu entre os anos 1919 e 1922. Seu governo não goza da unanimidade histórica (seria muita pretensão alcançar tal feito), mas teve suas vantagens para o Brasil e, logicamente, para a Paraíba.

Epitácio Pessoa viveu entre os anos de 1865 e 1942, e sua importância para o estado é tão significativa que, mesmo antes de sua morte, ganhou pedestal e busto na Praça João Pessoa. Conforme se vê na segunda foto da imagem, isso aconteceu ainda no tempo em que, no lugar do Altar da Pátria (homenagem a João Pessoa, sobrinho do ex-presidente, inaugurada em 1933) havia um coreto.

Dessa forma, por mais de duas décadas, o busto de Epitácio ocupou um lugar que lhe parecia justo: a Praça João Pessoa, bem em frente ao antigo Palácio do Governo. Tinha nas proximidades, ainda, o monumento ao sobrinho, a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Justiça e a Faculdade de Direito, na direção da qual um gesto do busto — com o braço estendido — parecia apontar.

Contudo, em meio às comemorações pelo centenário de Epitácio, o busto foi removido dali e, então, levado para o início da Avenida que leva o seu nome, ligando o Centro ao litoral de Tambaú e Cabo Branco, resultando, infelizmente, em visível desencontro entre intenção e gesto. O busto, ali plantado (foto de cima), não aponta para a avenida. Também não a acolhe, nem parece abri-la com orgulho. De costas para quem entra na via, ele indica uma faculdade, sem vínculo direto com essa trama toda.

Esse desencaixe visual e simbólico causa um certo desconforto. A estátua perdeu parte de sua potência narrativa. Passou de figura pública em pleno burburinho político, para quase um espectador distraído de um agitado trânsito.

Talvez Epitácio se sinta deslocado ali, como quem foi transferido de gabinete sem aviso prévio. Talvez ainda espere, paciente, que alguém entenda o que ele quis dizer com aquele braço estendido. Ou talvez sejamos nós que precisemos reaprender a ler a cidade não só pelos nomes das avenidas, mas pelos gestos das esculturas.

Creio, e há mais gente com a mesma crença, que o lugar do busto de Epitácio é mesmo onde ele foi entronizado originalmente, ou seja, na Praça João Pessoa, onde, com certeza, terá mais visibilidade diária. Ainda mais quando, até o final do ano, será inaugurado o Museu de História da Paraíba-Palácio da Redenção, com capacidade para atrair grande número de visitantes.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.