PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O extremo ato de heroísmo dos irmãos Calhau, em Cabedelo - Por Sérgio Botelho

Hoje, conto uma história de proeza sem limites, ocorrida na época da invasão holandesa na Paraíba, relatada pela revista literária Alva. A referida publicação era editada, por iniciativa de Diogo Velho Cavalcante D’Albuquerque, na famosa gráfica do tipógrafo José Rodrigues da Costa, na então cidade da Parahyba, hoje, João Pessoa. A gráfica funcionava na rua Direita, atual Duque de Caxias, no Século XIX.

Em dezembro de 1634, segundo descreve o texto, 32 navios holandeses, transportando 1.500 solados, apontaram ao largo de Cabedelo. No comando da esquadra invasora estava o general Sigismundo, provido de informações minuciosas repassadas por traidores locais. Seu objetivo era tomar o Forte de Cabedelo, cuja defesa estava sob o comando do capitão João de Mattos Cardoso (o mesmo que deu o nome, até hoje, à praia de Ponta de Matos, onde morava, naquela hoje conhecida como cidade portuária).

Logo no primeiro dia da luta, morreram 11 soldados do forte, enquanto outros 20 estavam feridos, entre os quais, o próprio Mattos, que foi obrigado (porque ele se recusava) a se afastar do comando, por ordem do então governador da Paraíba, Antônio de Albuquerque Maranhão. Em seu lugar assumiu o capitão Jeronimo Pereira, enfrentando uma situação bastante crítica. Assim, porque já faltavam alimento e munição e, com a fortaleza sob cerco fechado dos holandeses, as chances de suprimento eram perto de zero.

Foi quando dois irmãos, Antonio Peres Calhau e Francisco Peres Calhau, comandaram uma empreitada extremamente perigosa, embarcados em uma lancha (na época, um tipo de barco aberto usado tanto pela marinha mercante quanto militar, e que tanto se movia a vela quanto a remo), enfrantando o fogo holandês para levar suprimento ao forte.

Com os dois irmãos, iam mais três pessoas. Sob intenso tiroteio, logo morreu uma dessas pessoas, enquanto as outras duas restaram feridas. Para agravar a situação, uma bala de artilharia arrancou um dos braços de Antônio Peres Calhau, justamente a que manejava o leme.

A despeito de seu irmão Francisco ter se oferecido para continuar a tarefa, Antônio se limitou a mudar de braço, no manejo do leme, que, na sequência, foi atingido. Porém, nem mesmo o ferimento no outro braço fez com que se afastasse do posto, até que acabou ferido no peito.

Foi quando Francisco assumiu de vez o lugar do irmão, sendo na sequência também ferido em um dos braços. Mesmo assim, seguiu manejando o leme com o outro braço. Abro aspas para a revista Alva: “Era tal a chuva de balas arremessadas sobre as lanchas, que o mesmo Francisco Peres é logo ferido na mão direita, e fiel imitador de seu irmão muda o leme para a esquerda.

Foi com esta intrepidez e coragem que estes homens valentes superaram e venceram os riscos desta passagem, e que finalmente chegaram a introduzir no forte os socorros que levavam”, segundo o texto da publicação.

Para encerrar a descrição do episódio, de tão elevada valentia, abro novas aspas para o texto original:

“Foi com esta intrepidez e coragem que estes homens valentes superaram e venceram os riscos desta passagem, e que finalmente chegaram a introduzir no forte os socorros que levavam. Curados os dois irmãos de suas feridas, escaparam felizmente, suprindo-lhes por paga da ingratidão do Governo, a estima e admiração dos seus compatriotas”.

E, ainda segundo o redator do texto, a admiração dos próprios holandeses.

No final da luta toda, como se sabe, a vitória coube aos holandeses, irresistíveis em seu poder de fogo, auxiliados pela inação dos comandos gerais portugueses e espanhóis, em Pernambuco, quando tomaram o Forte de Cabedelo e o de Santo Antônio, e governaram a Paraíba até 1654.

(A coleção da Revista Alva está nos arquivos digitais do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba)

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.