Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Lapinhas do Cordão Encarnado - Por Sérgio Botêlho

“Boa noite meus senhores todos, boa noite senhoras também, somos pastoras, pastorinhas belas, que alegremente vamos a Belém, somos pastoras, pastorinhas belas, que alegremente vamos a Belém...” A letra é parte de uma música que marca uma das tradições mais belas do Natal, infelizmente perdida no tempo, em João Pessoa, a das Lapinhas, também conhecida no Nordeste como Pastoril.

Foto: Internet

“Boa noite meus senhores todos, boa noite senhoras também, somos pastoras, pastorinhas belas, que alegremente vamos a Belém, somos pastoras, pastorinhas belas, que alegremente vamos a Belém…” A letra é parte de uma música que marca uma das tradições mais belas do Natal, infelizmente perdida no tempo, em João Pessoa, a das Lapinhas, também conhecida no Nordeste como Pastoril.

A tradição já foi muito forte em João Pessoa, espalhada por seus bairros mais tradicionais. Na época de menino, morador do Centro, lembro bem dessa tradição natalina que acontecia no Cordão Encarnado. Para quem não sabe, o Cordão Encarnado é toda aquela área urbana que se situa a partir do Pavilhão do Chá (Praça Venâncio Neiva) até as proximidades do Cemitério Senhor da Boa Sentença, já no Varadouro.

Dentro do espaço situado entre as ruas índio Piragibe, São Miguel, Nina Lima (que continua a João Machado até o Cemitério), e Rodrigues Chaves, voltando às proximidades do Pavilhão do Chá. Uma extensão do que se chama Centro da cidade. (O local bem antigamente, na época de fundação da cidade, compunha aldeia dos índios Tabajaras).

O próprio nome “Cordão Encarnado” decorre justamente da tradição da lapinha, uma espécie de teatro-musical, nos períodos natalinos. É conhecida por sua dança dramatizada, que geralmente envolve mulheres divididas em dois cordões, um de cor azul e outro de cor encarnada, que representam os “pastores” buscando o Menino Jesus. (O enredo inclui elementos de comédia e disputa entre os cordões; e em algumas versões, até mais profanas, de humor pesado e provocativo!).

Normalmente a mestra comanda o Cordão Encarnado, e a contramestra, o Azul. Ao centro, a Diana, vestida metade de vermelho e a outra metade de azul. Apesar da competição simbólica entre os cordões, a Diana frequentemente atua como um elemento unificador na performance. Em meio à disputa, o povo em geral, os comerciantes presentes e os políticos, em particular, colaboram financeiramente com o cordão preferido.

O cordão mais beneficiado com as arrecadações é o vencedor. As pastoras, com pinturas e adereços, cada qual metida em sua cor.. Era uma festa bonita, que marcava o Cordão Encarnado, geralmente encenada na Rodrigues Chaves, por ser uma rua mais larga e mais contígua ao centro.

O Pastoril praticamente desapareceu em João Pessoa, mas ainda existe em várias cidades nordestinas, incluindo da Paraíba (notícias a respeito vêm de Cabedelo, Santa Rita e Guarabira), mas especialmente em Pernambuco, uma gente que gosta de preservar raízes. Um tipo de manifestação que, juntamente com outras que fizeram a história cultural pessoense, bem que poderiam tornar a ser incentivadas.

Foi o que fez um dia o inesquecível Ariano Suassuna, na função de secretário de Cultura, em Pernambuco, com os maracatus, hoje redivivos espetacularmente. Afinal de contas, um povo que não preserva suas identidades simplesmente deixa de existir enquanto povo.

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba