
Quem lembra das configurações de bairros como Torre, Róger, Tambiá, Miramar, Cordão Encarnado e Jaguaribe, até ainda o início do Século XXI, na certa deve sentir diferenças estruturais, econômicas e sociais bastante visíveis, para o bem e para o mal, como se diz.
Alguns deles ainda expõem, em graus diferentes, modos de vida baseados no convívio de vizinhanças, de moradia e de comércio. Mas as redefinições estão em curso, já que os preços de imóveis estão mudando rapidamente.
O Miramar já transitou definitivamente de bairro de classe média, na origem, para classe A, atualmente. Na orla, toda ela, espaço lúdico da cidade inteira, é difícil encontrar um cafezinho com um naco de bolo a menos de R$ 20,00.
Tudo isso tem a ver com a gentrificação, um processo de transformação de bairros urbanos, onde áreas antes acessíveis e habitadas por populações de baixa ou média renda passam por uma impetuosa valorização econômica e social.
Isso acontece com a chegada de novos investimentos, serviços e moradores de maior poder aquisitivo, afora o turismo sem planejamento, o que pode trazer melhorias, como infraestrutura e segurança, mas também costuma elevar o custo de vida.
Nesse sentido, a gentrificação, embora possa parecer um fenômeno urbano, à primeira vista, positivo, onde bairros antes esquecidos passam a receber investimentos, melhorias na infraestrutura e novos empreendimentos, com o tempo, acabam sendo avanços, não raramente, ilusórios.
Isso porque, por trás do brilho renovado, esconde-se uma consequência grave — o deslocamento forçado de moradores antigos, que não conseguem mais arcar com os novos custos de viver onde sempre viveram.
Evitar a gentrificação não significa rejeitar o desenvolvimento, mas repensar a forma como ele é conduzido. A chave está em políticas públicas que articulem crescimento urbano com justiça social.
Isso começa com a garantia de permanência dos moradores originais. Programas de aluguel social, incentivos à moradia popular e congelamento de impostos aos moradores históricos, em áreas em processo de valorização, são medidas eficazes para proteger famílias vulneráveis da especulação imobiliária.
Outro ponto essencial é o reconhecimento do valor social e simbólico dos territórios. Ao contrário do discurso que vê certos bairros como “degradados” ou “subutilizados”, é preciso reconhecer que eles são espaços vivos de memórias, vínculos e práticas culturais. Promover o desenvolvimento sem escutar quem ali habita reforça desigualdades históricas e repete padrões de exclusão.
Portanto, a inclusão ativa das comunidades nos processos de requalificação urbana — por meio de conselhos, audiências públicas e projetos participativos — é o caminho mais seguro para evitar que o progresso se converta em expulsão. Preservar o que é local, valorizar o pequeno comércio, as associações comunitárias e a economia solidária também é essencial.
Em resumo, combater a gentrificação exige mais do que boas intenções. Exige vontade política, escuta ativa e o compromisso de fazer da cidade um lugar de pertencimento para todos, e não apenas para os cheios da bufunfa.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.