PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Futebol no granito -  Por Sérgio Botelho

Na primeira metade do século XX, acompanhando a implantação do saneamento da cidade, o Centro de João Pessoa foi praticamente todo pavimentado com paralelepípedos. Morador da região durante toda a infância e adolescência, lembro que a rua onde morava — a Arthur Aquiles, meio enladeirada — já era totalmente calçada. As mais próximas, a Visconde de Pelotas e a Treze de Maio, também. Falo já das décadas de 1950 e 1960, esta última quando teve início o processo de pavimentação por asfalto — o que é uma outra história.

Apesar da proximidade com o Parque Solon de Lucena, a querida Lagoa, nosso playground mais frequente era ali mesmo, sobre as pedras de granito que formavam o leito das ruas — especialmente nas noites calmas da época, sem quase nenhum movimento de trânsito. Enquanto crianças de bairros mais afastados brincavam em quintais largos, terrenos baldios ou espaços abertos de terra, nosso campo era outro: a própria rua.
Pisando diretamente sobre o calçamento, fazíamos nosso mundo acontecer. Ali se improvisava o campo de futebol — com gols marcados por chinelos ou pedras maiores —, se desenhavam amarelinhas com carvão, se disputavam corridas que testavam tanto a velocidade quanto o equilíbrio sobre o piso duro.

A cada “olha o carro!” gritado por pais e mães, todos corriam para as calçadas, esperando o caminho se limpar para recomeçar o jogo do ponto em que havia parado — sem reclamar. As pedras castigavam os pés descalços; os tombos, inevitáveis, deixavam marcas nos joelhos. Mas tudo isso era parte natural da infância.
Era um tempo em que a rua era uma extensão natural da casa — sem grades, sem medo, sem pressa. As tardes pareciam infinitas e, no calor da brincadeira, cada menino e menina da Arthur Aquiles, da Treze de Maio e da Visconde de Pelotas aprendia, sem perceber, a dividir espaço, a esperar a vez, a rir das quedas, a comemorar vitórias simples.

Hoje, olhando para trás, percebo que aquelas pedras sob nossos pés sustentavam muito mais do que brincadeiras: sustentavam laços, amizades, histórias de uma cidade que sabia viver devagar — de portas abertas para a rua e para a vida.

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.