PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Fragmentos de uma época convulsionada na Paraíba - Por Sérgio Botelho

Entre o assassinato do então presidente João Pessoa, em Recife, no dia 26 de julho de 1930, e o assalto ao Quartel do 22º Batalhão de Caçadores, em Cruz das Armas (hoje Batalhão Vidal de Negreiros), ocorrido em 4 de outubro daquele ano, quando morreu o general Lavanère Wanderley, comandante da 7ª Região Militar, as violências se multiplicaram, no estado.

Na época, a imprensa nacional estava focada em acompanhar os fatos, na Paraíba, em virtude da repercussão alcançada pelo assassinato do presidente paraibano e do recrudescimento do embate político nacional entre as forças da Aliança Liberal (que preconizava mudanças no desgastado sistema político da Primeira República) e do Partido Republicano Paulista (no comando do movimento conservador).

Ainda escutei, nas décadas de 1960 e 1970 (estou falando de apenas 40 anos depois dos dramáticos episódios de 1930) relatos de testemunhas do tempo, a se referirem a invasões de casas e propriedades e agressões pessoais bem chocantes.

As que cito no texto de hoje se encontram registradas em jornais do Sul, publicadas ao mesmo tempo em que ocorreram, e que bem revelam a instável conjuntura predominante, no estado.
Vamos a algumas dessas violências:

Em 13 de setembro de 1930, foi incendiada a gráfica do jornal Diário da Parahyba, órgão do Partido Conservador e da Coligação Republicana da Paraíba, opositor do governo de João Pessoa, conforme denúncia recebida, então, pela Associação Brasileira de Imprensa, e divulgada na imprensa da capital federal.

Em 23 de setembro do mesmo ano, homens identificados como camponeses eventuais, à beira de uma estrada, interceptaram um caminhão de mudança, com destino a Recife, a serviço do 2º vice-presidente do Estado, Júlio Lyra, ligado ao campo perrepista. Caminhão e móveis foram queimados, e o motorista surrado.

No mesmo mês, no dia 23, a Assembleia Legislativa aprovou a mudança da bandeira da Paraíba, adotando a que vigora atualmente, com a inscrição da palavra “Nego”, em alusão à resposta de João Pessoa à candidatura oficial de Júlio Prestes.

No dia 24, o então presidente Álvaro de Carvalho, o 1º vice-presidente que substituiu João Pessoa, vetou a lei, na sequência, reafirmada pelos deputados no dia seguinte, e promulgada. Por ter votado contra a mudança da bandeira, o deputado Neiva Figueiredo foi admoestado por uma multidão na Praça João Pessoa.

Na madrugada de 27 de setembro, desconhecidos atiraram duas dinamites contra a casa de Carlos Taveira, administrador da Repartição dos Correios, na Paraíba, ferindo dois soldados do Exército que ali montavam guarda.

Enfim, em 9 de outubro, era assassinado no Rio de Janeiro, com um tiro pelas costas, o ex-presidente do Estado João Suassuna, adversário político de João Pessoa.

Enquanto isso, na divisa da Paraíba com Pernambuco, ex-jagunços do já derrotado coronel José Pereira, de Princesa Isabel, desempregados e à míngua, vendiam suas armas a quem quisesse comprá-las — símbolo do clima geral de desordem e fratura.

Esses episódios, não devidamente registrados em livros ou mesmo na mídia local, compõem um quadro geral de muita turbulência que se abateu sobre a Paraíba durante o ano de 1930.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.